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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Por que sorriem os donos de Portugal?

João Rodrigues, 24.10.10


Eu tenho argumentado que os "economistas" neoliberais estão totalmente equivocados, em particular na questão laboral, a questão socioeconómica mais importante. E basta. No entanto, não resisto a adicionar um elemento, certamente secundário, mas muito revelador sobre o estado moral das nossas “elites”.

Comecemos por um bom artigo no Público de sábado sobre a erosão da democracia causada pelo “mercados”. São José Almeida faz uma pergunta a propósito do último Prós e Contras: “Houve uma coisa que saltou aos olhos e provocou uma clara sensação de mal estar: por que razão sorria Mira Amaral?” O livro "Os Donos de Portugal", acabado de ser lançado, responde: “Como a ponta de um iceberg, os mais notórios globetrotters dos conselhos de administração são Mira Amaral, Nogueira Leite, Joaquim Ferreira do Amaral, Murteira Nabo e Luís Todo Bom.” (p. 321). Juntem a pensão da CGD e é só sorrir.

Mais motivos para sorrir: Mira Amaral era o grande defensor da desastrosa austeridade à irlandesa e apesar deste e de outros disparates continua por aí com amplo tempo de antena. Ex-ministros sempre com boas sinecuras públicas e privadas e com controlo televisivo quase total. A banca ou outros grupos económicos rentistas reconstruídos por privatizações ruinosas foram o destino da esmagadora maioria, como está bem documentado em “Os Donos de Portugal”.

Estas coisas não são para se dizer entre as pessoas por quem se deve ter consideração: é o que, inspirado pelo Rui Tavares, já apodei de economia da consideração. E a ordem dos economistas, que supostamente vela pela ética da profissão, é presidida por Murteira Nabo, precisamente um dos globetrotters. Desde os meus tempos de estudante no ISEG que sou contra a ordem dos economistas.

O que é que isto mostra? O que o Daniel já defendeu: “economistas” demasiado bem alimentados andam a brincar com a vida dos outros há muito tempo neste país. E estão errados. E demasiados privilégios toldaram os seus sentimentos morais. A passividade dos outros também ajudou à festa.

Daí para a incapacidade de pensar realisticamente a economia como um conjunto de mecanismos e de relações sociais e políticas é só um pequeno salto para o abismo da politica económica seguida desde há muitos anos: foi esta gente que nos meteu alegremente no colete de forças deste euro mal instituído. E agora aí estão a dar a cara por todos os PEC que afundam a economia e geram desemprego para os outros. Sempre a sorrir? Só se deixarmos. A greve geral também é contra esta economia de predação.

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