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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Artigos do Expresso

Daniel Oliveira, 30.04.08
A semana passada não postei os meus dois textos do "Expresso". Hoje postei o dessa semana e da última. Manuela Ferreira Leite e as dificuldades que Sócrates pode esperar, o PCP e Angola, o regresso de Santana e o filme "Tropa de Elite". Está tudo na página do Arrastão para os artigos no Expresso. O texto (com um trailer) sobre o filme brasileiro fica também aqui, para debate.



Tropa de elite

O filme mostra as favelas do Rio de Janeiro pelos olhos de um agente do Batalhão de Operações Policiais Especiais, a tropa de elite da Polícia Militar. Baseado num relato na primeira pessoa, ganhou prémios por todo o mundo. O filme não é apenas um retrato do estado de guerra em que se vive no Rio. É um manifesto em defesa da lei sem lei como única forma de combater a criminalidade. Um manifesto contra as explicações sociais para a delinquência. Um manifesto que não se limita a justificar, antes defende de forma explícita, as execuções sumárias e a tortura. Que trata os brasileiros das favelas como gente que vive em terreno inimigo e por isso é inimiga. Gente com quem não há pontes possíveis.

Seria de esperar o choque e a indignação. No Brasil, a aceitação foi quase geral. Muito mais entusiasmo do que com 'Cidade de Deus', que vê as favelas pelos olhos dos favelados. Além da adrenalina, 'Tropa de Elite', de José Padilha, que acabará por estrear em Portugal e já tem a sua versão literária disponível nas livrarias, dá uma resposta rápida ao medo, quando não há resposta nenhuma. E a resposta é a bala. É assim quando deixamos que a injustiça crie uma multidão de miseráveis à nossa volta. Podemos fechar-nos nas nossas fortalezas para nos escondermos do caos. Mas os que têm de viver todos os dias paredes-meias com o crime acabarão por aceitar que, "na brincadeira sinistra de polícia e ladrão, não se saiba ao certo quem é herói ou vilão, não se saiba ao certo quem vai e quem vem na contramão", como diz o polícia narrador num dos seus poucos assomos de hesitação moral. Porque no momento certo, perante o medo sem remédio, todos temos um fascista na nossa cabeça. Todos cedemos à resposta do desespero. Todos queremos ver sangue.

Outros textos aqui.

O melga

Daniel Oliveira, 30.04.08
Deixou Lisboa na bancarrota e sem uma única promessa cumprida. Ainda nem tinha aquecido o lugar e já estava farto. Ameaçava ir para Belém. O país sorria. Acabou por aterrar em São Bento sem ser eleito. O país estarrecia. A sua experiência nacional foi ainda mais desastrosa do que a local. Com o país em gargalhada foi corrido por indecente figura. Poucos meses chegaram para deixar uma forte impressão. Conquistou o pior resultado eleitoral na história do PSD. O país aliviava. Santana ia à sua vida. Engano. Santana não tem para onde ir. Dois anos depois de uma fantasiada vida profissional lá estava ele à frente da bancada do PSD, não se incomodando com a despromoção. Com o partido em ruínas, entreteve-se num concurso de protagonismo com o líder mais irrelevante da história do PSD. O país bocejava.

Perante este currículo, Santana não se enxerga. Não percebe que o seu momento alto já foi e que coincidiu com um momento baixo do país. Agora, é demasiado confrangedor assistir ao seu regresso. É demais. Já chega de tanta humilhação. Saber que veremos de novo as mesmas rábulas, os mesmos números de ilusionista trapalhão, as mesmas lágrimas de menino guerreiro. Da primeira teve pouca graça. Agora cansa. Cansa tanto. Algum amigo que lhe diga para sair de cena com alguma dignidade. O país já não consegue rir. Mete só pena.

Tropa de Elite

Daniel Oliveira, 30.04.08
O filme mostra as favelas do Rio de Janeiro pelos olhos de um agente do Batalhão de Operações Policiais Especiais, a tropa de elite da Polícia Militar. Baseado num relato na primeira pessoa, ganhou prémios por todo o mundo. O filme não é apenas um retrato do estado de guerra em que se vive no Rio. É um manifesto em defesa da lei sem lei como única forma de combater a criminalidade. Um manifesto contra as explicações sociais para a delinquência. Um manifesto que não se limita a justificar, antes defende de forma explícita, as execuções sumárias e a tortura. Que trata os brasileiros das favelas como gente que vive em terreno inimigo e por isso é inimiga. Gente com quem não há pontes possíveis.

Seria de esperar o choque e a indignação. No Brasil, a aceitação foi quase geral. Muito mais entusiasmo do que com 'Cidade de Deus', que vê as favelas pelos olhos dos favelados. Além da adrenalina, 'Tropa de Elite', de José Padilha, que acabará por estrear em Portugal e já tem a sua versão literária disponível nas livrarias, dá uma resposta rápida ao medo, quando não há resposta nenhuma. E a resposta é a bala. É assim quando deixamos que a injustiça crie uma multidão de miseráveis à nossa volta. Podemos fechar-nos nas nossas fortalezas para nos escondermos do caos. Mas os que têm de viver todos os dias paredes-meias com o crime acabarão por aceitar que, "na brincadeira sinistra de polícia e ladrão, não se saiba ao certo quem é herói ou vilão, não se saiba ao certo quem vai e quem vem na contramão", como diz o polícia narrador num dos seus poucos assomos de hesitação moral. Porque no momento certo, perante o medo sem remédio, todos temos um fascista na nossa cabeça. Todos cedemos à resposta do desespero. Todos queremos ver sangue.

A cópia e o original

Daniel Oliveira, 30.04.08
Caso tenham algum contacto com o país, os militantes do PSD irão livrar-se de Luís Filipe Menezes. Porque o ridículo mata e o partido está moribundo há demasiado tempo. Mas não é de excluir que, dominando o aparelho, as pequenas ambições internas contem mais e mantenham Menezes ao leme do barco, rumo ao desastre. Que não se ria o PS. Daqui a uns anos viverá a mesma experiência. Com a agenda social do centro-esquerda reduzida ao mínimo e um centro-direita que sabe que a agenda ultraliberal é impraticável neste país, resta pouco que distinga os dois maiores partidos. Na oposição, sem lugares para distribuir nem programa alternativo para apresentar, sobra apenas a competição entre personalidades. Quando o poder está longe, quem está na oposição fica com o refugo. Quando cheira a poder regressam os pesos pesados.

Se se confirmar a candidatura de Manuela Ferreira Leite, Sócrates deve preocupar-se. Tem contra si o original de que ele é apenas uma cópia forçada. Uma mulher que aparece aos olhos dos eleitores como sendo rigorosa, determinada e autoritária. Tudo o que Sócrates quis ser, mas sem uma vida de trapalhadas no currículo. Ferreira Leite é o arquétipo da direita nacional. A mesma direita que, à falta de quem no seu campo representasse esse papel, adoptou Sócrates. Se o modelo concorrer contra a falsificação, resta a Sócrates voltar à casa-mãe. Será tarde de mais. Ficará entalado entre uma esquerda desiludida com o seu Governo e uma direita entusiasmada com a nova liderança. E uma coisa pode esquecer: a maioria absoluta.

Velhos amigos

Daniel Oliveira, 30.04.08
Jerónimo de Sousa foi a Angola. Chegado a Lisboa, transmitiu ao 'Avante!' algumas das suas impressões. Primeira: "sentimos haver um esforço claro do MPLA no combate à corrupção. Neste aspecto, pode dizer-se que, havendo um problema, não se sente a corrupção como um fenómeno instalado e em desenvolvimento, mas antes como uma situação que está a ser encarada e combatida pelo MPLA". Ou seja, o MPLA e José Eduardo dos Santos, eles próprios o centro da pornográfica corrupção angolana, querem curar-se. Segunda: "existe a vontade de não transformar a sociedade angolana numa sociedade capitalista no sentido clássico". Não sei qual é o sentido menos clássico, mas pela amostra é ainda pior do que o tradicional.

Determinado a não fazer nenhuma reavaliação do passado, o PCP move-se, em matéria internacional, guiado pelos seus próprios reflexos condicionados e pelas memórias de um mundo desaparecido. Procura amigos em qualquer buraco, achando que se fizer muito esforço para não ver a realidade ela desaparece. Isso explica a simpatia para com o regime chinês, que, enquanto impõe ao país um capitalismo selvagem sem liberdade se aproxima da Internacional Socialista, ou esta solidariedade com a alta burguesia cleptomaníaca de Angola, que mantém fortes relações com os EUA.

Podemos visitar velhos amigos para os rever. Até podemos ter o pudor de fingir não notar como estão mudados. Mas nem eles nos exigem que façamos desta ilusão um programa político.

No PSD profundo

Daniel Oliveira, 29.04.08

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