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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A austeridade é necessária para Portugal sair da crise?

João Rodrigues, 28.02.11

Esta é a pergunta que o blogue Massa Monetária do Negócios colocou a Álvaro Santos Pereira e a mim. Santos Pereira diz que "A austeridade é necessária mas não é suficiente". Austeridade permanente? Não, obrigado, digo eu: Não satisfeitos pela factura apresentada aos contribuintes pelos efeitos dos desvarios do sistema financeiro, os mesmos mercados pediram, em 2010, um segundo pagamento através do aumento das taxas de juro da dívida pública, em especial nos países periféricos. A política económica de austeridade, desenhada para aplacar a pressão dos mercados, já fracassou neste intento. Qualquer que seja o modelo de aplicação e a distribuição do seu fardo, o resultado da austeridade é a recessão e a continuação do aumento do desemprego, sem perspectiva de crescimento futuro. As políticas de austeridade fazem do trabalho, dos salários directos e indirectos, a principal variável de ajustamento à crise. Assim não se criam os empregos de que necessitamos porque não se resolvem os dois problemas que travam o investimento: o acesso ao crédito e as expectativas de evolução da procura. O resto pode ser lido aqui.

 

Scorsese com "c"

Sérgio Lavos, 28.02.11

Gosto tanto de algumas unanimidades como desaprovo outras. Não cultivo a atitude de ser sempre do contra nem cedo sempre às imposições da moda. O meu meio-termo é o meu gosto, e apenas erro quando não sei do que falo – e admitir isto não diminui o pecado.

O meu filme preferido de entre os que Martin Scorcese dirigiu é No Direction Home: Bob Dylan – e o segundo bem poderia ser A Minha Viagem em Itália. E arriscaria ainda um terceiro: The Last Walz. Arrisco deitar fora O Touro Enraivecido e principalmente a sua melhor obra de ficção, Taxi Driver. Guardando os seus documentários religiosamente.

Que Scorcese consiga ser melhor quando fala das suas paixões não deixa de ser surpreendente. Ou pensando bem, não é. Porque Scorcese é um meticuloso cinéfilo que enriquece a sua obra com o conhecimento adquirido na obra de outros. É claro que existe um modo scorcesiano de fazer cinema – aquela maneira de acumular tensões sem nunca mostrar verdadeiramente um núcleo dramático que justifique essas tensões; e isto é uma qualidade. Quando Travis Bickle, em Taxi Driver, finalmente cede aos demónios interiores, o ritmo do filme torna-se decrescente, um balão esvaziando-se até que nada reste. A violência não é gráfica nem explosiva; é um esgar no rosto de Robert de Niro ou uma improvisação em frente ao espelho. Nada acontece apenas uma vez. Uma continuidade nos actos da personagem de Bickle imita as flutuações constantes da cidade de Nova Iorque, o seu pulso. Tudo é normal na cidade que nunca dorme – e em Nova Iorque Fora de Horas confirma-se em tom de burlesco a loucura encenada de Taxi Driver.

Falando de um filme, torna-se fácil ganhar-lhe apego. Regressemos portanto a No Direction Home, fabuloso testemunho dedicado a alguém que já está além da História – da sua injustiça suprema, dos seus ciclos inevitáveis de vida e morte. E acaba por ser tudo menos curioso que Bob Dylan, uma das mais perfeitas encarnações do Homem americano, tenha sobrevivido ao peso de o ser persistindo numa reclusão casmurra, encerrado numa misantropia que é o espelho do seu génio. O documentário de Scorcese esquiva-se a grandes teorias – sempre uma armadilha – e concentra-se nos pormenores. As entrevistas perigosas, no fio da navalha; o relato dos músicos que o acompanharam; a reacção do público conservador da música folk aos concertos electrificados da digressão de "Bringing It All Back Home" – o seu álbum esquizofrénico; a zanga com Joan Baez.

O mistério de Dylan fascina por ter criado uma obra que configura o espírito de um tempo. E Dylan apenas se tornou um mito quando se rebelou contra as suas raízes e se reinventou enquanto músico. Em 1965, Dylan previu o fim da utopia do movimento hippie? Não será assim, apenas prosseguiu o caminho de uma outra utopia; no caso, criativa, espaço de singularidade artística. O seu maior feito – que ele, como se vê em No Direction Home, acaba por desvalorizar em termos de importância simbólica. Scorcese capta o percurso feito de desvio e transgressão, focando o seu olhar nos pormenores, seja uma entrevista ao músico em que este é provocado por um jornalista de intenções duvidosas, seja no relato feito no tempo presente, em que Dylan se expõe revelando as sombras desconhecidas da sua história.

Ao conhecermos o músico na intimidade das histórias durante tanto tempo guardadas, compreendemos melhor a razão das mudanças que ocorreram nos últimos 40 anos na América. Mérito para Martin Scorcese. Partindo do particular para o universal, tornando a micro-história pista de leitura para a grande História, sobretudo asseverando a importância da cultura pop para o entendimento pleno de uma sociedade, Scorcese atingiu a perfeição. Que tenha assim sucedido em forma de documentário, não me parece que venha mal ao mundo. O cinema também pode servir como testemunho de um tempo que vai passando. Para sempre.
 
 
(Escrevi este texto em Maio de 2007 no meu outro blogue - e Scorcese até está escrito com "c" e tudo. Republico-o aqui porque sim, porque uma opinião não pode nascer do nada, a não ser que se reduza a uma simples provocação. Constato que mudei apenas numa coisa: depois de ter visto Taxi Driver mais uma ou duas vezes, ainda o valorizo menos. Coisa que - e perdoem-me comparar o que muitos acham incomparável - nunca poderei dizer de Coppola; cada visionamento do primeiro e do segundo Padrinhos ou de Apocalypse Now é uma festa, nunca perdem. Há uma grandiosidade ali, uma vontade épica, que sempre faltou a Scorcese. Mas enfim, são opiniões. Valem o que valem.)

Acabar com a ADSE é difícil mas racional, justo e coerente

Daniel Oliveira, 28.02.11

 

Defender os serviços públicos não significa ter apenas um discurso sindical, onde se agrada a todos e a todas as suas exigências. Quem defende que o Estado Social deve garantir aos cidadãos os serviços fundamentais para a sua qualidade de vida tem de fazer escolhas. E por vezes escolhas difíceis. Não esquecendo três critérios fundamentais: racionalidade, justiça e coerência.

 

Nenhum destes critérios permite defender a existência da ADSE no nosso sistema de saúde. Se não vejamos:

 

A existência da ADSE é insustentável porque promove a irracionalidade. Entregamos a gestão de recursos a quem não os paga. Quem fornece o serviço não só não tem de promover a racionalidade de custos como tende a ganhar tanto mais quanto mais irracional for. Junta-se a isto o facto de, como acontece com as seguradoras, os beneficiários da ADSE poderem usar os hospitais públicos em atos médicos mais complexos ou dispendiosos.

 

A ADSE é injusta. Não há forma de defender que enquanto os trabalhadores do privado estão obrigados, caso não tenham rendimentos para mais, a usar um serviço do Estado, os trabalhadores do Estado nas mesmas circunstâncias possam optar por serviços privados financiados pelo Estado. A mensagem que o Estado passa é a de que o que é bom para os funcionários dos outros não chega para os seus.

 

A ADSE, para quem se bate de forma coerente pelo Serviço Nacional de Saúde, é indefensável. É incoerente criticar as parcerias público-privado que dilapidam os cofres públicos ou o cheque-ensino e defender a ADSE. Quem defende que o SNS deve ser para todos e não apenas para os mais pobres não pode depois aceitar que haja um sistema de exceção para os funcionários do Estado.

 

Esta posição não se pode confundir com as dos que atacam a ADSE como forma de atacar os funcionários públicos e através deles o papel social do Estado. A critica à existência da ADSE faz-se do lado oposto: a defesa de um SNS público e universal e do papel do Estado como prestador de serviços sociais

 

Apesar dos funcionários públicos já utilizarem os serviços hospitalares do Estado para muitos atos médicos, integrar 700 mil pessoas em todos os serviços do SNS não é coisa fácil. Discursos apressados nesta matéria são irresponsáveis. Acabar amanhã com a ADSE seria uma loucura. Mas quem quer ter um discurso coerente sobre o Estado Social e serviços públicos justos e racionais tem de defender o fim da ADSE e de todos os subsistemas de saúde que não sejam meramente complementares. Custa? Claro. Toda a política séria faz-se de escolhas difíceis.

 

Publicado no Expresso Online

Da justiça poética das figuras de estilo

Sérgio Lavos, 27.02.11

Que fofura: João Miranda compara o Hamas, o partido mais votado nas eleições em território palestiniano (que, lembre-se, ainda não é um país independente) e cujo líder nem sabemos bem quem é (não vale ir à Wikipedia) com ditadores de créditos firmados - como soi dizer-se - déspotas que não hesitam em dizimar a população para se manter no poder. Ah, bendito liberalismo; se eu fosse mais crescido, aderia de imediato a tanta pureza de intenções. Este é o caminho. 

Get your Oscar

Sérgio Lavos, 27.02.11

 

Não vi discursos do rei nem outras coisas que tal, portanto a minha opinião vale o que vale, mas, de entre os filmes nomeados, a Rede Social é de longe o melhor - a tal coisa sobre a actualidade que melhor descreve a... actualidade, mas sobretudo um tour de force do argumentista, Aaron Sorkin. O Cisne Negro é um bom filme, mas melhor do que o filme é a superlativa Natalie Portman, que consegue demonstrar que beleza e talento são perfeitamente compatíveis. Dos actores, confesso que nada vi, mas a minha aposta será em sempre em Jeff Bridges; Colin Firth é um protótipo inglês, como o Jaguar: muita técnica, nenhuma diversão - as mulheres gostam dele apenas pelo Mr. Darcy, sem perceberem que este é apenas uma personagem de ficção (de outro mundo, graças a Jane Austen, uma das poucas coisas que tenho em comum com Vasco Pulido Valente). Quanto a toda a envolvência psico-social dos Oscares, o que tenho a dizer é que gosto, sempre gostei, e acho que de facto são a celebração do mundo do cinema, mesmo quando objectos inclassificavelmente maus como Shakespeare in Love (e é pena que o único prémio da Academia ganho por Gwineth Paltrow tenha aparecido graças a esta mediocridade) vão longe. Também não percebo porque deixou de ser convidado para apresentar a cerimónia o Jon Stewart; e muito menos entendo porque nunca foi convidado o Ricky Gervais ou o Larry David. Este ano, então, temos um descendente de portugueses que é um actor apresentável - James Franco - e uma Anne Hathaway suficientemente distante da fabulosa Julia Roberts para que queira ser como ela, mas que, na minha cabeça, não passa da Rainha Branca do fraquíssimo Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton. E o único filme que eu acho bem não ter sido nomeado foi a fraude Shutter Island, do realizador mais sobrevalorizado de sempre, Martin Scorcese. Eu tenho qualquer coisa contra Scorsese, admito: o únicos dois filmes que ultrapassam a mediania são documentários: No Direction Home, excelente, e A Minha Viagem a Itália. Taxi Driver é um bom filme, mas com demasiada consciência da sua importância and all that bullshit. E Touro Enraivecido é um filme cagão, com preto e branco e tudo. Tudo é resto é banal, ou péssimo, e ele apenas acerta novamente com O Cabo do Medo, mas isso apenas porque Robert de Niro dá asas a todo o overacting que tem em si.

 

Resumindo e concluindo, os Oscares são uma celebração, e é apenas normal que Forrest Gump tenha ganho o Oscar. Orson Welles nunca ganhou, e quer-me parecer que pelo menos cinquenta por cento dos membros da Academia nunca viu um filme do Godard. Muito menos Film Socialism, que é bem capaz de ser o melhor filme de 2010. E ainda não estreou em Portugal.

 

*Lembrei-me agora, o filme de entre os nomeados é, sem qualquer dúvida, Toy Story 3. Aquele de que me lembro de mais cenas, mais vezes, com mais emoção. Genial, e o facto de ser um filme de animação ainda torna o feito mais significativo. Viva a Pixar!

Estado Mínimo, Crise Máxima (emissão em directo)

Daniel Oliveira, 27.02.11

UNIVERSIDADE DE PRIMAVERA DO FÓRUM MANIFESTO

Estado Mínimo, Crise Máxima

25 a 27 de Fevereiro, Ovar

 

PROGRAMA

25 de Fevereiro, Sexta 21H

Conferência de abertura: ‘Estado e Sociedade’

Luís Fazenda e José Manuel Pureza

 

26 de Fevereiro, Sábado

10h – 12h30

Sessão de trabalho – Serviço Nacional de Saúde

Aula: Pedro Ferreira – Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Mesa Redonda: com João Semedo

 

14h30 – 17h30 Sessão de trabalho – Educação

Aula: Manuel Sarmento – Universidade do Minho

Mesa Redonda: com Ana Drago e Maria José Araújo

 

18h

Mesa redonda ‘A nova esquerda e os novos na esquerda’

Com Hugo Ferreira, Gonçalo Monteiro, Pedro Feijó e José Miranda

Moderação de Daniel Oliveira

 

21h

Sessão de trabalho – Cultura

Com Catarina Martins

 

27 de Fevereiro, Domingo

10h – 12h30

Sessão de trabalho Segurança Social

Aula: Carvalho da Silva – Secretário-Geral da CGTP

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