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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Quem privatiza não decide

Daniel Oliveira, 27.07.10


Não vou escrever aqui o que penso sobre a privatização da TAP, companhia aérea criada pelo Estado (obra de Humberto Delgado), depois privatizada (mas com maioria de capitais do Estado) e de seguida renacionalizada. Nem sobre o facto destas privatizações sem recuo possível se querem fazer sem qualquer debate político e ao sabor da conjuntura. Nem sobre a política europeia que, na prática, empurra os Estados para estas privatizações. Não nos enganemos: à Europa tem faltado direcção política o que lhe tem sobrado em direcção ideológica não escrutinada pelos eleitores europeus.

Apenas quero deixar um aviso. Depois da TAP ser comprada, provavelmente por detentores de uma outra companhia, não venham falar de importância estratégica da empresa. Quando a TAP privada deixar de garantir voos para as regiões autónomas a preços comportáveis para os açorianos e madeirenses não se venham manifestar indignados. Quando os novos detentores da TAP decidirem cancelar voos para países cultural, política e economicamente importantes para Portugal (ou transferir as rotas para fora do país), não nos venham falar de interesse nacional. E, como se viu com outras empresas, a privatização fará com que os critérios de interesse nacional deixem de ter qualquer relevância.

Já aqui escrevi sobre as golden share da PT e outros expedientes: se o Estado quer mandar em empresas não as privatiza. A TAP é importante para a nossa economia. Para além de uma companhia aérea, é um instrumento de diplomacia, internacionalização da nossa economia e coesão territorial. Privatizar a TAP é desistir deste instrumento. Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal. Querem o Estado sem empresas estratégicas? Aceitem o Estado sem poder económico. Querem um Estado com capacidade para defender os interesses económicos do País? Não vendam os poucos instrumentos que temos para isso. É tão simples que nem precisa de muitos argumentos.

Publicado no Expresso Online.

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