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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O Suspeito do Costume

Andrea Peniche, 27.11.10

No mesmo dia em que a imprensa noticiava um estudo da União Europeia que revela que 53.5% dos jovens portugueses trabalham ao abrigo de contratos temporários, a Assembleia da República chumbava uma proposta do Governo que visava regulamentar os estágios profissionais (subsídio de estágio, horário de trabalho, etc.). Insólito é o facto de a bancada do Partido Socialista ter votado, toda juntinha, contra uma proposta do Governo, mesmo que o seu conteúdo tenha sido uma bandeira da JS.

Num país que exige estágios profissionais em diversas áreas para que as pessoas possam exercer a sua profissão não os subsidiar significa não só patrocinar a precariedade como aceitar este novo tipo de escravatura. São milhares os jovens que trabalham à borla em ateliês de arquitectura, jornais, escritórios de advogados e em muitos outros sectores profissionais.

No entanto, como na Assembleia da República há deputados que estão ao serviço não dos seus eleitores mas de corporações profissionais, eis que o deputado-advogado Ricardo Rodrigues se apressou a criar uma excepçãozinha à proposta do Governo: excepcionar os estágios de advocacia. O zum-zum criado obrigou a uma alteraçãozinha que tornasse menos evidente os interesses privados do deputado-advogado. A proposta final, integrada na lei do Orçamento, passou então a incluir o regime de excepção para as profissões liberais e o trabalho independente, e foi aprovada no pacote geral do Orçamento do Estado. O Bloco de Esquerda levou a proposta original a votação e esta foi chumbada.

Quando em jogo está a manutenção de interesses instalados importa muito mais confundir estágios profissionais com estágios curriculares e fazer de conta que não se sabe que grande parte destes jovens ditos trabalhadores liberais e independentes são, afinal, falsos recibos verdes.

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