O rei vai nu e todos lhe gabam o vestido
Vão sendo conhecidos aos poucos os mais de 250.000 telegramas dirigidos a Washington pelas embaixadas norte-americanas, e disponibilizados pelo site WikiLeaks. Ficamos a saber que os Estados Unidos espiaram o secretário-geral da ONU e que têm uma visão pouco abonatória dos líderes europeus. Somos informados de esforços para isolar Chávez e de pressões de países, como a Arábia Saudita, para que fosse desencadeado um ataque militar contra o Irão. Foi-nos dado a conhecer o estado de saúde e as particularidades de alguns políticos mundiais.
Tirando algumas liberdades literárias da gente das chancelarias, nada do que é revelado é, até agora, grande novidade. Mas aguardemos. Entretanto, um exercício curioso é atender aos ecos que as divulgações vão motivando. Julian Assange, o homem da WikiLeaks, é perseguido pela CIA. Hillary Clinton fala de ataque à "comunidade internacional". Ahmadinejad diz que é tudo uma conspiração arquitectada pelos EUA. A China bloqueia o acesso à informação. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão fala em "amizade adulta", garantindo que a relação com os EUA não será danificada. Berlusconi, esse, desmente as "festas selvagens".
Estamos diante de três regras de ouro da diplomacia realmente existente. A primeira é que é preciso continuar a gabar o vestido do rei não importa o modo como se nos apresenta aos olhos. A segunda é que é preciso desconfiar das aparências, a começar pela enunciada na primeira regra. A terceira é que entre a verdade e a mentira, deve escolher-se o segredo.