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Arrastão: Os suspeitos do costume.

"Um falhanço para Portugal"

Sérgio Lavos, 22.01.13

 

Lá chegámos. Depois de o trampolineiro Pedro Passos Coelho ter andado mais de um ano a proclamar aos quatro ventos que reestruturar a dívida ou pedir mais tempo representariam um falhanço para Portugal - o adiamento do pedido de ajuda tem sido, por si só, uma tragédia -, Gaspar lá foi encarecidamente pedir uma ajudinha do BCE para encobrir o falhanço - esse, sim, verdadeiramente falhanço - das políticas do Governo.

 

Será bom para Portugal? Qualquer mudança nas políticas europeias em relação ao país seria bem-vinda. O problema é que, mesmo com mais tempo, menos juros ou perdão parcial da dívida - não duvidemos que irá acontecer - enquanto a economia do país não arrancar continuaremos no fio da navalha. E a economia do país só se salvará se as medidas de austeridade forem bastante aligeiradas. Enquanto o objectivo do Governo - e da troika - for contrair a procura interna e assim reduzir os custos do trabalho de maneira a que o país se torne um El Dorado para investidores que pretendem ter uma mini China em plena Europa, nada mudará para nós, que sentimos na pele as consequências destas políticas económicas. Que interessa Portugal poder ir aos "mercados" financiar-se se isso significa na prática mais endividamento? Que interessa que os prazos sejam estendidos, se a taxa de desemprego e a pobreza continuam a aumentar vertiginosamente? Que interessa que os juros sejam ligeiramente reduzidos, se o Governo se prepara para acabar com o Estado Social e com a função redistribuitiva da riqueza que ele pressupõe, assim aumentando ainda mais as desigualdades sociais num dos países mais desiguais da OCDE?

 

O que significa na prática esta possível ajuda do BCE? Que o Governo falhou redondamente não só nas políticas prosseguidas como na teimosia com que defendeu a recusa de renegociações com os nossos credores. Significa também que a esquerda - mais radical - sempre esteve certa na sua defesa da renegociação. E significa que seria sempre impossível pagar uma dívida crescente - mais de 120% - nas condições em que esta foi contraída. Haverá mais renegociações, prolongamentos, perdão parcial da dívida. Como aconteceu na Grécia. Mas se a economia não começar a crescer, de nada adiantarão os cuidados paliativos que estão a ser administrados. E como poderá a economia crescer, se tudo o que o Governo está a fazer é errado?

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