Um tsunami xiita
Daniel Oliveira, 15.01.05
APROXIMAM-SE as eleições no Iraque. Para o Ocidente é um descanso. Há eleições. Se há eleições há democracia. Se há democracia a invasão valeu a pena.
Já não falo da completa ausência de condições de segurança. Já não falo do facto de os candidatos abaixo dos cabeças-de-lista serem clandestinos. Já não falo do boicote sunita que tornará estas eleições um plebiscito à lista xiita, abençoada pelo líder religioso Sistani. Fico-me pelo sistema eleitoral.
No Iraque há enormes diferenças regionais que, em grande parte dos casos, coincidem com diferenças religiosas e étnicas. A Sul, xiitas. A norte, curdos. No meio, a minoria sunita que dirigiu o país durante décadas e que corre agora o risco de ser varrida por um tsunami xiita. A bem da paz futura, tudo aconselhava uma solução federal que garantisse uma representação proporcional de cada província, fosse qual fosse a afluência às urnas em cada uma delas, dependente de precárias condições de segurança.
Mas os EUA decidiram-se pelo extremo oposto: um círculo eleitoral único. Resultado: os curdos, para aumentarem a sua representação, fizeram uma lista única, que não representa a diversidade política que se exige em democracia. Os xiitas fizeram o mesmo e vão limpar as eleições. Os sunitas, pelo contrário, preparam-se para um boicote livre ou forçado que os atira para fora do sistema.
Para compensar, os sunitas podem vir a ganhar uma quota de 25% no novo Parlamento. A emenda à libanesa é pior do que o soneto. Em vez de uma solução federal, que dê espaço para transferências graduais de poder, acentua-se a identidade religiosa, onde quem manda é o dogma da fé.
Perante tanto disparate e a teimosia em não adiar umas eleições impossíveis, fica claro o que sempre foi, na verdade, cristalino: o voto, no Iraque, é para inglês, alemão e francês verem.
Já não falo da completa ausência de condições de segurança. Já não falo do facto de os candidatos abaixo dos cabeças-de-lista serem clandestinos. Já não falo do boicote sunita que tornará estas eleições um plebiscito à lista xiita, abençoada pelo líder religioso Sistani. Fico-me pelo sistema eleitoral.
No Iraque há enormes diferenças regionais que, em grande parte dos casos, coincidem com diferenças religiosas e étnicas. A Sul, xiitas. A norte, curdos. No meio, a minoria sunita que dirigiu o país durante décadas e que corre agora o risco de ser varrida por um tsunami xiita. A bem da paz futura, tudo aconselhava uma solução federal que garantisse uma representação proporcional de cada província, fosse qual fosse a afluência às urnas em cada uma delas, dependente de precárias condições de segurança.
Mas os EUA decidiram-se pelo extremo oposto: um círculo eleitoral único. Resultado: os curdos, para aumentarem a sua representação, fizeram uma lista única, que não representa a diversidade política que se exige em democracia. Os xiitas fizeram o mesmo e vão limpar as eleições. Os sunitas, pelo contrário, preparam-se para um boicote livre ou forçado que os atira para fora do sistema.
Para compensar, os sunitas podem vir a ganhar uma quota de 25% no novo Parlamento. A emenda à libanesa é pior do que o soneto. Em vez de uma solução federal, que dê espaço para transferências graduais de poder, acentua-se a identidade religiosa, onde quem manda é o dogma da fé.
Perante tanto disparate e a teimosia em não adiar umas eleições impossíveis, fica claro o que sempre foi, na verdade, cristalino: o voto, no Iraque, é para inglês, alemão e francês verem.