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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Bons ventos

Daniel Oliveira, 02.07.05
QUANDO a maré negra chegou à costa da Galiza, o velho Fraga estava numa caçada, com os amigos. Soube da notícia e por ali ficou. Porque, como dizia um seu opositor, Fraga só conhecia a sua terra de dentro de um carro oficial. Há 40 anos na política, homem de Franco e pouco dado ao debate democrático, julgava-se, como tantos, inamovível. A semana passada finou-se. E Zapatero foi o seu coveiro.

Em toda a Europa, o socialismo e a social-democracia estão moribundos. Perante uma direita agressiva e com um programa claro, o centro-esquerda está bloqueado. Sem alternativa política, resta-lhe a memória de glórias passadas. Não deseja mais do que cumprir o programa do adversário em versão «light». Temeroso, contenta-se em ser o dique de uma avalancha ideológica.

Mas Zapatero, pelo contrário, não tem vergonha. Mandou as suas tropas regressar do Iraque, legalizou meio milhão de imigrantes, afrontou a poderosa Igreja espanhola, começou a resolver a obsessão centralista e a preparar o reforço das autonomias e encostou os criminosos da ETA às cordas dando-lhes a escolher entre a violência e a negociação política. Na Galiza, província conservadora, o seu partido contrariou todas as vozes medrosas e preparou uma aliança à sua esquerda. Teve o seu prémio.

Não me iludo: nas questões estruturantes da economia, Zapatero não saiu nem sairá do consenso conformado. As suas causas podem até não ser as mais relevantes para o futuro. Mas quando a esquerda está em ressaca profunda, o estilo também conta. E a verdade é que Zapatero obrigou a direita espanhola a palmilhar, indignada, as ruas de Madrid. Parece uma mosca morta, mas vai sempre aos cornos do touro. E já percebeu o óbvio: nem os indecisos gostam de ser governados por indecisos.

Sócrates que olhe para lá de Elvas. Três exemplos: Zapatero, Blair e Schroeder. Três caminhos: fazer-se à vida, converter-se ou ficar em cima do muro até se estatelar no chão.

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