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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A marca do terror

Daniel Oliveira, 09.07.05
A TRAGÉDIA de Londres mostra que o terrorismo veio para ficar. Para o prevenir, quase nada é eficaz. Atacar os factores políticos e sociais, apertar as medidas de segurança e aumentar a transparência financeira dos circuitos legais que os terroristas utilizam terá sempre algum resultado. Mas os atentados continuarão. Porque são fáceis de executar e vivem da amplificação mediática que espalha os mortos por todas as televisões do mundo. O terrorismo vive da globalização do medo. E continuará a viver.

E, como todos os fenómenos de comunicação, encontrou a sua marca: a Al-Qaeda. Não é como a ETA ou as Brigadas Vermelhas, dependentes de uma direcção política. Trata-se de uma rede, não de uma organização terrorista tradicional. Tem uma cúpula de coordenação e, abaixo dela, uma estrutura fluida. Nuns casos são células autónomas, mas que não respondem a uma estrutura piramidal clássica. Noutros são organizações pré-existentes que beneficiam do seu apoio. Quem fez o atentado em Bali não queria exactamente o mesmo que os que fizeram os atentados em Nova Iorque, Madrid ou Londres. Limitam-se a ter alguns interesses convergentes, algumas fontes de financiamento comuns, alguma coordenação política e orgânica e, por vezes, treino coordenado. Une-os o objectivo de destabilizar países árabes e países ocidentais onde a imigração islâmica seja numerosa. A Al-Qaeda quer, antes de mais, quebrar todas as pontes entre o Islão e o Ocidente. E tem conseguido. Quem, do lado de cá, lhes fizer o favor de alimentar o «choque de civilizações» será, mesmo sem o querer, seu aliado.

O terrorismo é demasiado difuso e amoral para ser decapitado. Já a democracia, essa, só tem uma forma de não perder: nunca se esquecer, quando combate o terror, de não ficar parecida com ele. E é exactamente na ressaca das tragédias que não se pode esquecer da sua natureza.