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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Ainda a ascensão da direita gramsciana em Portugal

João Rodrigues, 27.07.10


Paul Krugman acha que uma das suas principais actividades, como empenhado intelectual público que intervém na conjuntura, serve de pouco. Afinal de contas, como afirma
no i, é o estado da economia que faz mover eleitoralmente as pessoas. Fica sempre bem a modéstia. No entanto, a “economia” não vem com uma ficha de instruções em anexo. Quer isto dizer que a resolução política de uma brutal crise económica nunca é evidente e depende das interpretações que se tornam senso comum e factor de mobilização ou de desmobilização popular. Aliás, como Krugman reconhece.

Aqui chegamos à racionalidade das apostas ideológicas de Passos Coelho. Passos sabe que, no actual contexto, a crise tende a condenar politicamente Sócrates. Sabe também que o PSD tem de compensar as convergências de bloco central com elementos ideologicamente diferenciadores. Sabe que há um consenso de choque e pavor, de plano inclinado, a ser construído na televisão. Sabe que a alta burguesia está hoje mais disposta a investir na luta das ideias – vejam o pingo doce das ideias gerido pelo neoconservador António Barreto. Sabe que as politicas públicas do governo fragilizam o PS no plano ideológico – o processo de autodestruição da social-democracia em curso. E sabe que as estruturas de constrangimento a nível europeu favorecem a radicalização das apostas neoliberais, ou seja, o aprofundamento da acumulação por expropriação de bens comuns.

A racionalidade da aposta na revisão constitucional está na conjugação destes elementos, julgo eu. É uma aposta que pretende deslocar os termos do debate ainda mais para a direita e assim reescrever a ficha de instruções para a economia. Até agora nada me diz que essa aposta tenha falhado politicamente. Isto é, para lembrar Gramsci, uma guerra de posição, com 2011 no horizonte.

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