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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O legado de Catalina

Daniel Oliveira, 16.10.07
"A saída de Catalina Pestana só peca, lamentavelmente, por tardia, pois nunca entendeu a função da Casa Pia de Lisboa e dos casapianos na sociedade portuguesa. (...) É hoje uma realidade que a Casa Pia, desde a nomeação de Catalina Pestana, que mereceu o apoio incondicional de quem a nomeou, viveu um dos períodos mais negros da sua história, pondo em risco a sua própria sobrevivência. (...) As decisões tomadas degradaram a qualidade de ensino sempre reconhecida pelos pedagogos em particular e pela sociedade portuguesa em geral, de que resultou a perda sucessiva e significativa de educandos"
Conselho de ex-alunos da Casa Pia de Lisboa

«Como provedora instalou na Casa Pia um clima de terror, o ensino ficou pior, as actividades caíram em flecha, a educação desmoronou-se. Em cada trabalhador via um monstro. Destruiu a motivação e a criatividade das pessoas. (...) Tudo foi instrumental para atingir objectivos que só o tempo evidenciará. Anunciou prisões de funcionários, processos disciplinares a torto e a direito, numa sanha terrorista que reduziu a Casa Pia a escombros»
Associação dos Trabalhadores da Casa Pia de Lisboa

Escrevi, nas primeiras trapalhadas de Catalina depois de ser nomeada para o cargo: «Catalina Pestana não é provedora das vítimas de pedofilia. É provedora da Casa Pia. Tem centenas de crianças à sua guarda e é nisso que se deve concentrar. E no apoio pessoal e emocional às crianças que, estando envolvidas neste processo, devem encontrar na Casa Pia um lugar de estabilidade. Ao estar permanentemente a apontar os holofotes para aquela instituição, Catalina está a prejudicar aquelas crianças em concreto e todas as restantes que estão na instituição. E, no entanto, Catalina Pestana tem muito para fazer em relação a tudo o que aconteceu na Casa Pia: mudar a própria Casa Pia. Aquela instituição, como tal, é a principal responsável por tudo o que aconteceu àquelas crianças. Era à Casa Pia que as crianças estavam entregues e a Casa Pia falhou em toda a linha. Para mudar as coisas não chega fazer a caça às bruxas.»

Lendo a avaliação feita por antigos alunos e profissionais, parece que Catalina se dedidicou exclusivamente à caça às bruxas e que o que mudou na instituição foi para pior. E, no entanto, era na transformação da instituição que Catalina podia dar o seu contributo para que nada do que aconteceu antes se voltasse a repetir. Preferiu o espectáculo e, ao que parece, o terror interno.

Catalina de novo

Daniel Oliveira, 11.10.07
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Só agora li a entrevista de Catalina Pestana ao semanário "Sol". Para além de voltar a envolver pessoas que nem julgadas foram, para além de garantir que tudo continua a acontecer depois de ela ter dirigido a Casa Pia, confessando assim que foi incapaz de proteger as crianças como era sua obrigação, para além de não esclarecer como não deu por nada do que acontecia na instituição enquanto dirigia um dos seus colégio, entre 1975 e 1987, Catalina Pestana demonstra um nível assustador de irresponsabilidade pública e inconsequência moral. Ou sabe coisas importantes e é para quem está a investigar que tem de falar, ou não sabe, apenas suspeita ou tem uns palpites a dar e é vergonhoso que use este caso para dar um ar da sua graça com as declarações bombásticas e sem consequências a que nos foi habituando.

Aquilo que Catalina Pestana deveria esclarecer é simples: enquanto esteve como provedora da Casa Pia o que fez para que a instituição mudasse? Está melhor? Em quê? Foi para essa difícil tarefa que foi nomeada. Ou não foi? E é sobre essa tarefa que tem de prestar esclarecimentos. Porque começa a ficar mesmo muito cansativo ver a quantidade de pessoas que usaram (e aparentemente continuam a usar) este dramático processo para se pôr em bicos de pés ou tratar de ajustes de contas e as poucas, entre as que o podiam fazer, que tentaram mudar alguma coisa. Catalina podia e devia. Cumpriu? Se diz que tudo está na mesma, não cumpriu. Deve responder por isso.