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Rui Costa repete Joaquim Agostinho em 1969 e ganha duas etapas no mesmo Tour, hoje em alta montanha. Temos herói.
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Rui Costa repete Joaquim Agostinho em 1969 e ganha duas etapas no mesmo Tour, hoje em alta montanha. Temos herói.
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Desde já, o homem destes Jogos Olímpicos é David Rudisha. Recorde do mundo numa prova (800m) que costuma ser táctica nas grandes competições, mas que atingiu um nível superlativo graças ao queniano, com sete atletas a baterem os seus recordes pessoais (entre eles, dois recordes nacionais) na cola do vencedor. Um contra-relógio em busca de um lugar na História. Vontade de fazer "algo de extraordinário" nos Jogos, em vez de apenas limitar-se a ganhar a final, como disse o grande Sebastian Coe. Nada a ver com a actuação de Usain Bolt, que desligou o turbo nos últimos metros da final dos 200 metros, evitando que uma marca de relevo fosse atingida, e cortou a meta com uma arrogância que desrespeita os outros atletas - atitude que ele já tinha ensaiado nos Jogos de Beijing. O ideal grego não passa só pela supremacia atlética - Rudisha provou ser um humano mais perfeito do que Bolt.
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Diz-se que a caneta pode ser mais poderosa do que a espada. Mas se derem essa caneta a um cretino, o mais provável é ele espetar-se com ela. Ou então escrever crónicas como Alberto Gonçalves faz, semana após semana, no Diário de Notícias.
Esta semana, Gonçalves decide fazer coro com os taxistas deste país e dedica-se a esmiuçar a carreira dos olímpicos portugueses. É de resto hábito comum, o destes colunistas: falarem do que não sabem. Não duvido de que o único desporto que este Gonçalves alguma vez terá praticado terá sido a fuga ao calduço dado pelos colegas desportistas que o perseguiam no recreio do Secundário. Contudo, isso não o impede de ter uma opinião sobre um atleta como Marco Fortes, há muitos anos e de longe o único lançador de peso português de nível internacional, finalista em vários campeonatos europeus e mundiais. Não o impede de uma vez mais insultar o esforço de Fortes e dos outros atletas. Quase todos amadores que chegaram a um nível olímpico acessível a muito poucos. Com provas de classificação em todas as modalidades ou mínimos pedidos pelas federações em muitos casos mais exigentes do que os mínimos olímpicos internacionais, definidos pelo Comité Olímpico Internacional.
Veja-se o caso sintomático de Clarisse Cruz. Ontem conseguiu classificar-se para a final dos 3000 metros obstáculos, onde estarão apenas 15 atletas. Na corrida de apuramento, caiu a meio da prova, mas levantou-se a tempo de se apurar e bater o seu recorde pessoal por 10 segundos, acabando a prova a sangrar das duas pernas. Clarisse é, claro, amadora. Funcionária da Câmara Municipal de Ovar, costuma treinar em horário pós-laboral. Mesmo assim, conseguiu chegar a uma final na qual apenas estão presentes profissionais ou amadoras apoiadas por países que estimulam o desporto amador como nunca aconteceu por cá.
Como Clarisse Cruz, há outros casos semelhantes na delegação portuguesa. Por exemplo, a sétima classificada da maratona, Jéssica Augusto, apenas se tornou profissional há três anos. E apenas quando se tornou profissional começou a ter resultados de relevo internacional, entre eles uma medalha de bronze num campeonato da Europa, também em 3000 obstáculos, e um título europeu de corta-mato. Graças à posição obtida anteontem, Jéssica será uma das atletas apoiadas para os próximos Jogos Olímpicos, recebendo a fabulosa quantia de 1000 euros mensais do Estado português, o valor da bolsa atribuída a atletas classificados até ao 8.º lugar nestes Jogos - e isto se o Governo entretanto não cortar este apoio*.
De quatro em quatro anos, a mesma história: jornalistas rondando os atletas como vampiros à procura da glória da medalha. Durante quatro anos, conquistas em mundiais e europeus destes atletas são apenas notas de rodapé em serviços noticiosos. Mas de repente, estes homens e mulheres que se preparam com todas as dificuldades inerentes ao desporto amador, transformam-se em depositários de todas as esperanças da pátria. E a esperança é uma medalha, a mais difícil das conquistas. A injustiça de tal pressão sobre os atletas apenas é comparável à idiotice de comentadores como Gonçalves, que nunca fez, nem fará, tanto por Portugal (ou por si próprio) como Marco Fortes ou a atleta que não compareceu a uma regata de vela por estar, imagine-se, grávida de três meses.
O que Gonçalves também não sabe - nem nunca tentará saber - é que estes atletas, e todos os atletas olímpicos que se seguirão, irão continuar a trabalhar no duro, a competir entre os melhores, superando-se a cada treino feito depois de sair da fábrica, a cada apuramento para campeonatos mundiais ou europeus, a cada medalha, ignorando - olimpicamente - o que Gonçalves (e outros da mesma jaez) diz. O espírito dos Jogos Olímpicos é isto. Mas, sinceramente, não espero que alguém que se atreve a tirar sarro da morte de Francisco Lázaro mereça perceber tal coisa. A cada qual o seu Inferno pessoal.
*O mesmo Governo que já tratou de reduzir as horas da disciplina de Educação Física no Ensino obrigatório, mostrando assim que não tem a mínima intenção de apoiar o desporto escolar, uma das principais forjas de atletas em qualquer país do mundo. Sobre o mesmo tema, ler estas declarações de Mário Santos, chefe da Missão aos Jogos Olímpicos de Londres.
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Calhou uma vez mais estar de férias durante o Tour. Não vou tecer considerações (não tenho jeito para bordados) sobre as suspeitas de doping que perseguem os grandes ciclistas nem a monumental vaia que Contador ouviu durante a apresentação da prova. Toda a gente sabe que os franceses facilmente cedem ao prazer da irascibilidade, e por isso - mais o Flaubert, o Godard, o Camus e o Zidane - lhes devemos perdoar. Adiante. Parece que este ano vai haver montanha a sério. Andy Schleck is my man, se sabem do que estou falar. Como não é o Djokovic nem o Nadal. Gostaria de ter visto este um escocês ganhar Wimbledon, mas não foi desta que Andy Murray superou os seu complexo de inferioridade perante a musculatura do sobrinho do central do Barcelona de Cruyf. Mas o ténis é um jogo de meninas (como maradona e David Foster Wallace se esforçaram por provar). O ciclismo é aquela coisa da glória e da superação e da absoluta verdade de que apenas se poderá ganhar recorrendo a meios ilícitos. O problema não é este ou aquele ciclista serem suspeitos de alguma coisa; o problema é que parece não haver outra maneira de lá chegar, ao topo. A dúvida paira sobre todos, como num filme de Hitchcock. Mesmo os que nunca são apanhados. E isso deixa-me vagamente chateado; por exemplo, aborrece-me que aquele que parecia o mais puro talento surgido nos últimos anos, o herdeiro de Marco Pantani, tenha entregue a alma ao Diabo e o corpo a várias transfusões de sangue, e por duas vezes seguidas. Ricardo Ricco sprintando serra acima era um espectáculo do outro mundo. Mas... como diria Gregory House, "a vida não é justa", e por vezes a glória vai parar aos lutadores com grande capacidade de fintar as equipas anti-dopagem. Enfim, só me lembro disto porque revi hoje um episódio da série no qual é tratado um grande campeão americano pelo médico. E claro, esse grande campeão americano dopa-se. E no fim, safa-se. É a vida.
Enquanto vou, eticamente dividido, assistindo na Eurosport ao excelente relato da Volta (bela dupla de comentadores aquela, por vezes complementada por um francês irascível chamado Olivier* - ou será um belga? - que não se importa de ser o saco de pancada dos outros dois), espero pelos primeiros jogos da pré-época. Confesso que a satisfação de ver partir Villas-Boas rumo a melhores paragens foi um pouco atenuada quando foi revelado o nome do novo treinador - Pinto da Costa terá algo na manga, ao escolher alguém chamado Vítor Pereira para o lugar. Resta-me esperar que meia equipa seja vendida - e quando escrevo "meia", refiro-me ao João Moutinho e ao Falcao, os outros podem ficar - e acreditar cegamente nos três ou quatro defesas-esquerdos que Jorge Jesus vai testar no lugar do Fábio Coentrão. Tirando isso, está tudo bem com o Benfica; temos jogadores suficientes para ter duas equipas a disputar o campeonato (haverá maneira de autorizar uma alteração nos regulamentos?) e o pelotão de avançados em linha de espera para substituir Cardozo dá-me razões de sobra para confiar numa boa campanha na Taça da Liga. Isso e os dois Salvios (ou Ramires, como preferirem), os dois Di Maria (Gaítan e a maravilha que sobrou do Barcelona) e os três defesas direitos que não irão tirar o lugar a Maxi Pereira. No entanto, confesso sentir um pouco de inveja do adversário (?) da Segunda Circular. É tempo do Benfica começar a apostar noutros mercados; queremos um Thadeus von Rumpelstiltskin no ataque; um Varsaj Snhjors no meio-campo; e esperanças sul-americanas a treinar na Academia (ah, esperai, isso já temos).
Jogos contra equipas da terceira divisão suiça: um must de qualquer pré-época, para compor as bombásticas capas da Bola e ajudar ao entusiasmo dos milhões de benfiquistas que vivem no Seixal. Pelo andar da carruagem, talvez nem sobre muito tempo para espreitar os Mundiais de atletismo, lá para Agosto. O Verão é longo - e a pilha de livros habitual uma vez mais não será desbastada. Boas férias desportivas.
*Informado por dois comentadores, alterei o nome do francês, que afinal não é francês, é monegasco, essa raridade antropológica. Claro que teria bastado ir ao site da Eurosport para descobrir isso. Mas uma regra de ouro dos blogues é não investigar demasiado - a não ser que se escreva sobre coisas demasiado sérias. De qualquer modo, obrigado aos dois, LF e Mike.
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