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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Notícias do país da "imprensa suave" (2)

Sérgio Lavos, 27.06.11

O regabofe vai ser grande e começa bem

Sérgio Lavos, 17.06.11

 

- Álvaro Santos Pereira (ideólogo do austeritarismo e profeta do Apocalipse nas horas vagas): Ministro da Economia.

- Vítor Gaspar (um desconhecido com "reconhecidas competências técnicas" que bem sabemos quais são): Ministro das Finanças.

- Assunção Cristas (a beta inteligente do PP) - Ministra dos Pinheiros, da Portucale e do Ordenamento Territorial, da Lavoura e afins.

- José Pedro Aguiar-Branco (o escolhido das hostes básicas) - Ministro de qualquer coisa, neste caso da Defesa Nacional.

- Miguel Relvas (o Silva Pereira para todas as estações) - Ministro dos Assuntos Parlamentares, para manter na ordem os deputados.

- Miguel Macedo (o premiado da lotaria do Parlamento) - Ministro da Administração Interna, e poderia ser de qualquer outra coisa, mas saiu na rifa isto.

- Paula Teixeira da Cruz (a outra representante da metade maioritária da população humana) - Ministra da Justiça.

- Pedro Mota Soares (o homem de mão escolhido para fazer de Bagão Félix, que deve ter decidido dedicar-se a tempo inteiro à lavoura) - Ministro da Solidariedade e da Segurança Social.

- Paulo Macedo (admnistrador da Médis, empresa benemérita de reconhecidos méritos na área da Saúde) - Ministro dos hospitais e dos centros de saúde que deveriam ser privatizados e entregues a empresas como, por exemplo, a Médis.

- Paulo Portas (o homem da providência, mestre dos desportos subaquáticos e contorcionista de longa data) - Ministro do Estado (a que este país chegou) e dos Negócios com os amigos americanos e alemães.

- Pedro Passos Coelho (o Messias de Massamá e protector dos povos africanos em Portugal) - próconsul de Berlim para o território da Lusitânia.

 

Fica de fora desta equipa fantástica Nuno Crato, que parece poder vir a ser um bom ministro da Educação e da Ciência e do Ensino Superior (apesar da acumulação de pastas não ser um bom prenúncio). E a Cultura, entregue a Francisco José Viegas, em forma de secretaria de estado, poderá também ficar em boas mãos.

 

Sendo assim, é para avançar a toda a brida. O futuro é risonho e está ali, ao virar da esquina. Boa sorte a todos - que bem vamos precisar.

Vícios privados, públicos defeitos

Sérgio Lavos, 15.05.11

A acusação que é feita ao todo poderoso DSK, as iniciais que são uma marca, pouco me interessa. Interessa-me mais saber por que razão a notícia foi complementada pela informação de que Strauss-Khan era quem est(ava) mais bem posicionado para derrotar Nicholas Sarkozy nas presidenciais francesas. E interessa-me porque adoro quando os media aludem as conspirações políticas, com ou sem fundamento, impelidos pela aversão que personagens como o pequeno napoleão provocam. Culpado ou não, não será demasiado para pensarmos em manobras de adversários políticos? O paralelismo com Julian Assange pode ser feito, mas as acusações contra este nunca se aproximaram da que é feita ao presidente do FMI. Esperemos para ver, e seria interessante vermos confirmado uma conspiração deste calibre. Dê por onde der, lá se foi a presidência francesa. 

Inconcebível, inconcebível - disse ele, a ferver de indignação

Sérgio Lavos, 11.02.11

A julgar pelas reacções indignadas de tanta gente - Santana Lopes, esse exemplo para a vida democrática portuguesa, acha inconcebível o sucedido -, a moção de censura que o BE irá apresentar no dia 10 de Março só pode ser uma boa ideia. As acusações de tacitismo feitas a Francisco Louçã, que visam sobretudo menorizar o efeito da intenção, parecem ignorar completamente o pânico que se instalou nos partidos do centrão. O PS acha indigno que a esquerda possa fazer cair um governo de esquerda, como se o PS ainda fosse um partido de esquerda; os barões do PSD põem as mãos à cabeça, recusando o desafio, percebendo que o partido a que pertencem acabou de perder a iniciativa política (Santana Lopes, diga-se, acha inconcebível que o BE apresente uma moção de censura porque este partido não deve liderar a oposição, como se a democracia portuguesa estivesse alugada em exclusivo ao eixo PS/PSD/CDS); e o PCP vê, de um momento para o outro, esvaziar-se o efeito da declaração de apoio a uma eventual moção apresentada pelo PSD; recorde-se, uma moção apresentada pelo PSD e apoiada pelo PCP, seria o que estava ironicamente em causa**. E não devemos esquecer o que tem sido a política portuguesa no último ano: uma espera interminável em direcção à queda do governo, uma agonia mantida em função dos interesses de Cavaco e de um desígnio nacional cujo único efeito prático foi a aplicação de medidas de austeridade que estão a levar o país à recessão económica. Agora que há finalmente uma oportunidade de fazer cair o Governo e acabar com a agonia, toda esta gente assobia para o lado. Quem será tacitista, neste caso?

 

*Este texto de Zé Neves também diz muito sobre a crise passageira. O ideal seria uma moção conjunta BE/PCP. Mas sabemos como, neste momento, isso é, infelizmente, uma miragem.

 

**Na realidade, ninguém do PCP afirmou que o partido iria apoiar uma moção de censura avançada pelo PSD. Este post do Vítor Dias é esclarecedor, assim como a pesquisa que fiz nos jornais on-line. Mais um exemplo de distorção por parte dos media, cedências ao sensacionalismo. Ou pior.

A angústia da audiência e outras minudências

Sérgio Lavos, 24.11.10

 

A chegada do novo Arrastão, mais populoso, airoso e diversificado, trouxe o caos a muitos leitores e a gente de passagem. Todas as questões, opiniões e críticas estão a ser apreciadas, e não se duvide de que analisaremos com mais cuidado as propostas dos comentadores. Aliás, ao contrário do Governo, não entramos em devaneios e não negamos as dificuldades: não está ainda tudo afinado, admitimos (mas o Governo certamente não deixará de afirmar que "o país viveu uma greve tranquila").

 

Quem entrou em delírio parece ter sido a direita blogosférica: de um momento para o outro, Sócrates tornou-se um indivíduo respeitável e esforçado que parece conduzir o país ao rumo certo. Será isso, ou então a momentânea loucura foi provocada pelo medo dos que assumiram o discurso da "responsabilidade" e pararam durante um dia para mostrar ao Governo que deve parar com a irresponsabilidade do PEC3 e dos que aí se avizinham. E por falar em Governo, parece que a outra cabeça da hidra, o angustiado Pedro Passos Coelho, ainda agora está a tentar perceber se o Orçamento tem dedo do PSD ou não - imagino que ninguém o terá avisado que houve um acordo entre os dois senhores de cabelo branco aqui há umas semanas. O que faz dele, no mínimo, aquilo que em linguagem jurídica se chama "cúmplice de um crime". Eu até posso "compreender" a angústia dele; é uma zona cinzenta, esta: será que o povo gosta de mim a aderir à greve ou preferem que eu fique em casa pesarosamente angustiado? E, no fim de contas, o "Orçamento é "do Governo". Em tempos, parece-me que Pilatos passou por um dilema semelhante, resolvido do mesmo modo, sem rebuço.

 

Amanhã, espera-se um regresso à normalidade: a direita voltará a achar que o primeiro-ministro é a Besta, o sinal dos fim dos tempos; que os mercados (apesar da chatice da Irlanda e do problema da Islândia) são a salvação para todos os males do mundo; e que Pedro Passos Coelho é aquilo que talvez poderia ser, acaso fosse ele diferente da maneira que pode ser, dando-se o caso de não ser aquilo que verdadeiramente é. Passos Coelho, esse, persistirá o seu caminho, aprovando a continuação dos grandes projectos de obras públicas num dia e criticando o "Orçamento" do Governo" no outro; Sócrates continuará a nadar ao largo, longe da vista, tentando convencer o país de que nada disto é culpa dele; e Cavaco, claro, não nos esqueçamos, irá certamente dedicar-se a aprimorar as únicas qualidades unanimemente reconhecidas: estar calado quando deve falar e falar quando deve manter o silêncio.

 

Quanto ao Arrastão, tudo será melhor, prometemos.

De derrota em derrota

Sérgio Lavos, 22.11.10

O desconforto breve trazido pela cimeira da Nato tornou-se passado em dois dias, e o que acabou por sair mais prejudicado foi uma certa ideia de esquerda solidária e unida em torno de causas essenciais e indubitáveis. Nem valerá muito a pena discorrer sobre a sucessão de textos e comentários em blogues de esquerda sobre o aconteceu no dia da manifestação da Avenida da Liberdade, a tal que, por vontade dos organizadores - o movimento Paz Sim, Nato Não - decidiu reservar o direito de admissão apenas a militantes e simpatizantes do PCP, com uma certa incompreensível conivência de quem vinha logo atrás, o Bloco de Esquerda. Não é especulação, o cruzamento de relatos confirma o sucedido, e a força policial que esteve presente para isolar quem não estava incluído nestes dois grupos (diga-se, numa relação de forças de três polícias para cada um dos activistas segregados) acabou por confirmar, para as televisões, que houve uma vontade expressa por parte dos organizadores de separar a frente da manifestação da cauda. Este ponto não será discutível; parece que, depois da manifestação de Julho e da longa espera para uma greve geral a dois dias da votação do Orçamento, o braço sindical do PCP, a CGTP, se tornou a central sindical do regime, institucionalizada e pronta a pegar em armas de forma controlada e ordeira, quais cordeiros arrebanhados pela força das circunstâncias. A presença de dezenas de bandeiras de Portugal na manifestação de sábado confirma a institucionalização da luta do PCP: uma esquerda ideologicamente ortodoxa, sim, mas esclerosadamente patriótica e pronta a fazer o jogo dos partidos do centro, mantendo a ordem nestas situações, respeitando sem demasiado estrépito o discurso de responsabilidade que tem sido imposto, com a ajuda de uma máquina de propaganda mediática imbatível, ao povo que cala e consente.

Marcar território, de pernas abertas e empurrando todos em volta: eis o único e exclusivo objectivo da organização que convocou a manifestação de sábado. Desde aí, tem-se confirmado a opção, em caixas de comentários de blogues ou actualizações do Facebook, e quem marcou o território tem vindo a reforçar a ideia de que, daqui para a frente, existe apenas uma luta pura, fragilizando o movimento de contestação às medidas de austeridade. Luta de galos, no fundo, e um vergonhoso espectáculo para quem está de fora, sobretudo a direita, que bem pode rir a bom rir. Não se compreende como, num momento tão grave e importante como este, a atitude de grande parte da esquerda se funda num sectarismo cada vez mais radical, e portanto cada vez mais afastado da luta dos trabalhadores e de quem tem vindo a ficar realmente excluído do sistema. O momento aconselhava, exigia, um esforço de união e uma só voz. Em vez disso, questões laterais, rasgar de vestes, absurdos. Depois venham-se queixar quando tudo estiver terminado. Ou serei ingénuo a ponto de não achar que estes retrocessos serão necessários para poderem vir a acontecer avanços? A dialéctica marxista pode ser uma espada de dois gumes.

Adenda: Ler o
relato dos acontecimentos feito pelo Ricardo Noronha. Esclarecedor.

A verdade e as notícias

Sérgio Lavos, 03.11.10

Depois de ter visto a notícia de ontem à noite e ter postado esta
entrada, fiquei a pensar no circuito que a informação percorreu até chegar à página do Público, do I e do DN; e hoje, pelo menos à edição impressa do primeiro. Ora bem, parece que um comentador deste blogue viu - não pude confirmar - José Manuel Fernandes a falar, em directo na TVI, da tal frase de Cavaco Silva (ou de alguém do seu séquito). Soube da actualização como? Sendo seguidor do twitter de Cavaco? O mais provável, e assim sendo não é de excluir que algum jornalista tenha decidido tornar notícia um facto que me parece de reduzida ou nula importância e que deveria ter-se mantido no universo desse meio restrito. Mas, pormenor importante, o facto noticioso foi criado aludindo a uma leitura subtil da declaração. Recorde-se: Cavaco Silva vê “com muita apreensão o desprestígio da classe política e a impaciência com que os cidadãos assistem a alguns debates”. O mesmo tom vago, hermético e alusivo, que conhecemos de comunicações anteriores. O estilo leva, quem sabe se por influência de "fontes próximas" do presidente, a interpretações que acabam, estranhamente, por conduzir, em qualquer das versões publicadas da notícia, ao mesmo: a frase era uma alfinetada ao debate ocorrido ontem no Parlamento. Prestando atenção a todo o processo, torna-se bastante evidente que aconteceu uma de duas coisas: ou os jornalistas que redigiram a notícia em vários jornais tiveram uma epifania simultânea, atribuindo um sentido único a uma frase que é tudo menos cristalina; ou a frase surgiu miraculosamente em todas as redacções já com o sentido das palavras apenso. Seja como for - e não quero perder-me em especulações improfícuas -, o que aconteceu ontem não foi jornalismo, foi apenas uma mediação, pelos jornais, de um "sentir" do presidente. Não existiu um facto, um acontecimento significativo, uma conferência de imprensa, uma entrevista, nada. Eu sei que isto é o pão nosso de cada dia. Mas há casos que são tão óbvios que não podem ser deixados passar em claro.