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Arrastão: Os suspeitos do costume.

"Uma espessa trapalhada de chumbo"

Sérgio Lavos, 02.09.12

Bom texto de Viriato Soromenho-Marques sobre o Rei Midas ao contrário, Miguel Relvas, a absoluta falta de noção de interesse nacional deste Governo:

"O ministro Relvas é o contrário do Rei Midas. Em vez de ouro, tudo aquilo em que ele toca fica transformado numa espessa trapalhada cor de chumbo. A privatização, aliás "concessão", da RTP deixou de ser um assunto sério para descer ao nível rasteiro das coisas venais. Como nenhum dos decisores parece interessado em falar na questão do interesse público, permitam-me que recorde duas das principais razões para a sua manutenção e aperfeiçoamento. Portugal precisa de um serviço público de rádio e televisão, em primeiro lugar, porque um povo tem o direito de reinventar e alimentar permanentemente uma narrativa identitária, plural, que não fique à mercê das forças de mercado e dos interesses de fação. Em segundo lugar, o serviço público é indispensável para estar à altura da herança transmitida pelos nossos antepassados. Portugal é a única pequena potência que criou uma "língua imperial", que é idioma oficial em amplas e descontínuas áreas geográficas. O alemão e o russo, embora línguas importantes, não correspondem à característica "imperial". As numerosas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo têm direito a um serviço público de radiotelevisão que não deixe apenas à iniciativa dos nossos irmãos brasileiros a defesa e progresso da nossa diversificada língua comum. É natural que, no longo prazo, a hegemonia do Brasil seja esmagadora, também no plano linguístico. Mas a vontade política de um país que não abdica do exercício do seu poder cultural, sobretudo quando a sua soberania está tutelada, deveria ir no sentido de retardar ou contrariar esse processo "natural". Mas em Lisboa parece que o interesse nacional e a visão estratégica se transformaram em coisas bizarras e bizantinas."

Serviço público (7)

Sérgio Lavos, 29.08.12

 

As séries da idade de ouro da televisão americana têm sido exibidas na RTP2. Com uma ou outra excepção: por exemplo, House, que passou na TVI sempre depois da meia-noite, depois do enlatado de telenovelas; ou Lost, que passou pela SIC em horário mais agradável*. Lembremos que a maioria destas séries é exibida nos EUA em horário nobre - apesar de as melhores serem menos vistas, sendo produzidas pelos canais por cabo. É claro que podiam passar na RTP1, e quase que aposto que algumas das que têm passado no 2.º canal teriam audiências bastante razoáveis. No entanto, a aposta existe e é da estação pública. Para bem e para o mal, podemos ver o melhor da ficção produzida em território americano - e muitas destas séries são melhores do que a maioria do cinema que actualmente sai de Hollywood - graças a uma consciência de programação para além dos critérios comerciais. Mad Men, Sete Palmos de Terra, Dexter, Os Sopranos, Californication, etc. etc.

 

*Pelos visto, não passou na SIC, mas sim na RTP1. Enganei-me, porque confesso que nunca acompanhei a série, tendo apenas visto alguns episódios que me emprestaram em DVD. De resto, esta informação apenas reforça o que eu escrevi.

Serviço público (6)

Sérgio Lavos, 29.08.12

O Monty Python Flying Circus (Os Malucos do Circo na versão portuguesa) passava na RTP2, às 20h00, à hora do telejornal do canal 1. Lembro-me bem porque acabei por ver poucos episódios nessa passagem - havia apenas um televisor em casa, e o telejornal acabava sempre por ganhar nas preferências da família. Eu teria 11, 12 anos, mas um grupo de colegas na escola, fãs dos Python, levou-me a que tentasse também acompanhar a série. Ainda bem que fui pressionado pelo grupo. Se os mais geniais humoristas de sempre aparecessem agora, algum canal privado compraria a série? Resposta fácil: não. A britcom continua a passar na RTP2, agora como há 30 anos atrás. Poder-se-á dizer: mas agora há cabo e DVD's. Pois: um quarto dos portugueses* continua sem acesso à televisão por cabo - e muitos estão a desistir por causa das dificuldades financeiras - e os DVD's estão cada vez mais inacessíveis pelas mesmas razões.


(Dedico este sketch aos nossos governantes, em especial ao nosso querido ministro Miguel Relvas.)

 

*corrigido.

Operação Propaganda

Sérgio Lavos, 16.01.12

Hoje, às 21h00, numa RTP1 perto de si.

 

Juro que quando vi o post do Gabriel Silva pensei que fosse uma piada. Mas não, é verdade. Miguel Relvas e o seu séquito de invertebrados irão estar em directo no principal canal público, lambendo cus a empresários amigos do ditador de Luanda, patrocinados pela inenarrável Fátima Campos Ferreira. Está bonito, isto.

Ideias lebres para salvar Portugal (7) - O serviço público

Sérgio Lavos, 10.11.11

 

A questão da RTP. A direita neoliberal pressiona, directa e indirectamente, o Governo para privatizar a estação pública. Pensa-se nisso, fala-se disso, mas, atenção: a SIC e a TVI vêm dizer que mais canais privados, não! Claro, como não compreendê-los, ninguém gosta de concorrência. O ministro Relvas recua, ou não fosse a SIC dirigida por um dos fundadores do PSD. E decide repensar o "serviço público". Escolhe uns quantos amigos para estudar a coisa, junta-lhe mais três ou quatro vozes mais independentes para disfarçar, e está constituído o grupo de trabalho. É claro que os três independentes acabam por sair a meio do processo, em desacordo com as decisões da maioria. O maravilhoso grupo, reduzido a sete (menos avenças se pagam), chega à conclusão que a ideia de "serviço público" não contempla uma aposta na informação. Isto é, privatiza-se um canal, e deixa-se o outro a carburar a concursos e a jogos da selecção de futebol de praia. E talvez finalmente o ministro Relvas tenha as suas "Conversas em Família", às 9 horas da noite, uma hora a ensinar ao povo que a pobreza é uma virtude e o trabalho uma panaceia essencial. Com a economia neste momento a caminhar em direcção aos anos 70, por que não termos a RTP dessa década? Faz todo o sentido.