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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A mistificação dos rankings

Pedro Sales, 31.10.08



Estabelecer uma correlação directa, como a imprensa faz todos os anos, entre os resultados nos exames do secundário e a excelência educativa já é um passo arriscado. Fazê-lo, juntando na mesma listagem, e sem nenhuma ponderação, escolas onde os alunos provêm de ambientes familiares de baixo capital cultural e económico com as escolas onde estudam os filhos da elite é uma lamentável mistificação que não acrescenta nenhum esclarecimento sobre o trabalho das escolas e os níveis de aprendizagem dos alunos. É um poderoso instrumento de marketing das escolas privadas e pouco mais. Mas, curiosamente, se há critério que uma leitura mais atenta dos rankings nos permite é vislumbrar a força do meio social nos resultados escolares. Este mapa distrital dos resultados, descoberto através do País Relativo, chama-nos a atenção para a verdadeira dicotomia. Mais do que escolas privadas e públicas, existe um fosso entre os bons resultados dos alunos das escolas do litoral e os das escolas do interior.

Peguemos no exemplo do Colégio São João de Brito. Este estabelecimento, que há mais de seis anos que não sai dos cinco primeiros lugares do ranking, pertence à Companhia de Jesus. A Companhia de Jesus tem mais dois colégios e afirma que a qualidade educativa e formação de professores são idênticas em todas as escolas. A diferença é que o Instituto Nun´Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição,  em Cernache, Coimbra, têm um contrato de associação com o Estado que os obriga a aceitar alunos de todos os estratos sociais. Se a única diferença é o meio social e a localização mais periférica, vale a pena comparar os seus resultados. O Colégio São João de Brito aparece em quarto lugar no ranking, o Colégio da Imaculada Conceição em 75.º e o Instituto Nun´Álvares em 161.º lugar. Não se pense que é um resultado fortuito. É assim desde sempre. O ano passado o São João de Brito ficou em 3.º, o Nun´Álvares ficou em 177.º e a Imaculada Conceição em 91º.

No dia em que todos os colégios da Companhia de Jesus tiverem os mesmos resultados escolares que o selecto São João de Brito, com quem partilham o projecto educativo e métodos de ensino, estou disposto a discutir as vantagens das escolas privadas e a sua suposta excelência. Até lá, mudem o disco e procurem as causas para o insucesso escolar nacional noutro lado que não o habitual chavão do facilitismo e experimentalismo das escolas públicas.

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