O PS perdeu o S e ninguém diz nada?
“É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas duríssimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.”
Ana Gomes
Os socialistas sem aspas que se unirem, neste contexto, em torno de Sócrates terão abandonado, na prática, qualquer referência socialista. É aí que conta. Às vezes é simples. Passarão a ser outra coisa qualquer, socialistas é que não. Os socialistas, quando a coisa aperta, não podem ser contra a austeridade, ir a manifestações em Bruxelas, escrever coisas destas e faltar às manifestações que se seguirão em Lisboa. A austeridade leva à recessão, a mais desemprego e à continuada destruição do Estado-Providência. E não resolve nenhum problema financeiro. O que resta do património social-democrata depois de tudo ter sido escavacado? As reformas progressistas europeias e nacionais, de que precisamos para sair da crise, não virão sem luta social e política em todas as escalas, contra estes governos e contra o Consenso de Bruxelas. Os medíocres social-democratas das vias da moda, os que apoiaram todas as regras neoliberais europeias, as regras que facilitam a vida aos Durões desta vida, desistiram há muito. Não esqueço a responsabilidade dessa social-democracia, que no final da década de noventa estava no poder em 11 de 15 Estados, na criação do PEC. E quem aceitou este BCE e apoiou todas as liberalizações financeiras, todas as privatizações, a criação de um euro disfuncional? A autodestruição da social-democracia, um dos fenómenos políticos mais impressionantes destes tempos sombrios, continua imparável. Por dentro, através da colonização ideológica, como Vital Moreira, por exemplo, bem sabe, e por fora, através da coligação permanente com a direita. Há um campo político e ideológico vazio em Portugal?