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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O Rio, o Aleixo e um caminho perigoso para a direita portuguesa

Daniel Oliveira, 25.07.08


Hoje, no “Público”, Vasco Pulido Valente critica, a propósito do que se passa no Bairro do Aleixo, a política de bairros sociais. Subscrevo grande parte do que escreve. Por palavras minhas, que são seguramente diferentes das de VPV, também acho que é quase impossível garantir o mínimo de qualidade de vida nestes bairros. Que eles colaboram para a criação de culturas de criminalidade.Que eles tendem a ser abandonados pelos poderes públicos e não facilitam a responsabilização (e a defesa dos direitos) dos seus moradores. Que o realojamento tem de corresponder a estratégias de integração social e de criação de direitos e deveres sociais. A pobreza, a mais profunda e que não está apenas ligada ao rendimento, não se resolve apenas com casas novas. Por isso, há uma diferença entre solidariedade social e o assistencialismo (no sentido em que o termo se aproxima da caridade), que muitas vezes corresponde a uma desistência do poder político.

Tenho defendido que o realojamento deve ser feito na cidade consolidada e de forma dispersa. Porque os guetos são sempre uma má solução. Porque a integração também deve corresponder a uma integração no espaço. Porque as infraestruturas já lá estão e porque nas zonas de realojamento o comércio não se instala, os serviços públicos tendem a ser negligenciados e o estigma social é mais do que garantido. Esta solução não é fácil nem está isenta de riscos. Mas terá seguramente melhores resultados. Mas isto é o que eu defendo. O que ainda não percebi é o que defendem muitos dos que criticam a existência destes bairros mas parecem ser contra todas as soluções possíveis.

Percebo o que quer Rui Rio: vender um terreno valioso e atirar os moradores para onde calhar. Um presidente da Câmara sério começaria por mostrar que estratégia tem para aquelas pessoas e só depois, quando resolvesse esse problema, trataria dos terrenos. Rio começou pelo negócio porque o negócio é tudo o que lhe interessa. As pessoas que ali vivem sempre foram, para ele, cidadãos de segunda.

Desde a forma como tratou a questão dos arrumadores até este caso, Rio sempre deixou muito claros os seus tiques populistas, a roçar o que de pior podemos encontrar nalguma direita que faz escola por essa Europa fora. O seu “racismo social” (sentimento maioritário no país), que trata as “franjas” da sociedade como lixo indesejável, não é de hoje. Se um dia o PSD resolver ter este homem como líder não se deve esquecer de que está a trilhar um caminho. Um caminho que, apesar de tudo, é contrário à sua origem. Pelo menos contrário ao que o PSD julga ser a sua tradição. Pode ganhar votos, mas perde a sua alma. As direitas italiana e francesa seguiram esse caminho. Vão arrepender-se.

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