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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Respostas

Daniel Oliveira, 26.08.08
Neste post fiz, a propósito do caso da juíza com doença bipolar, várias perguntas. Dois portadores da doença deixaram comentários. Um deles, o de Miguel Pinto, por ser especialmente esclarecedor e pedagógico, deve ser destacado. Aqui fica, na integra, com os devidos agradecimentos:

"Como doente bipolar penso poder responder a algumas perguntas. Em primeiro lugar a doença bipolar é uma designação ultrapassada. Agora fala-se do expectro bipolar, pois existem vários tipos de doença bipolar e cada um dele com intensidades diversas.

Em segundo lugar, eu não falaria de alternância entre estados eufóricos e depressivos (devido à possibilidade de más interpretações). Escolho a expressão “destabilização de humor”.

Para quem invocou o Lítio, posso dizer que existem no mercado uma gama variada de estabilizadores de humor, como por exemplo o valproato de sódio (que controla o pólo da mania ou euforia, porventura o mais problemático seja na sua manifestação positiva ou negativa).

Bom, eu sei que sou bipolar e sei que tenho de tomar medicação para ter os “humores controlados”. Percebi também, como medida preventiva, que seria ideal a procura de mecanismos paralelos de relaxamento. Comecei a fazer meditação.

A linha de fundo é que nunca fui tão ponderado, nem tão centrado como desde que sei ser um doente bipolar. Colaborei. Desde que percebi os mecanismos da doença as crises não chegam a concretizar-se porque reconheço o seu começo e posso combatê-las. Posso aborrecer-me às vezes ou ficar triste, mas quem não o faz?

Profissionalmente sou conhecido pela minha objectividade e pela minha capacidade de análise, penso que mais desenvolvida devido a esta nova necessidade de estar centrado. Por isso:

- A avaliação que uma pessoa bipolar vai fazendo do seu próprio estado de saúde é muito boa.
- Um doente bipolar não necessita de interrupções de trabalho, a partir do momento em que aceita a doença e cumpre a medicação.
- Ser bipolar não impede o juízo e/ou a objectividade de ninguém, a partir do momento que é um estado conhecido do paciente e que este sabe quais os métodos de controle do mesmo.
- O stress permanente é um problema para qualquer pessoa. Confesso que hoje me deixo stressar menos porque sei que não posso fazê-lo. É como não gastar o dinheiro que não se tem.
- Quando é o próprio que se reconhece incapaz de cumprir as suas funções, não sei se isso será suficiente para cessar as funções. Há que provar se é um juízo altruísta (por auto-vitimização ou por desconhecimento de si enquanto pessoa bipolar com o distúrbio controlado) ou um juízo utilitário de quem quer ir para a reforma."

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