Primeiro em tragédia, depois em farsa
Para além da pertinência deste artigo sobre o Bloco de Esquerda, de quatro páginas inteiras, publicado no "Avante!", vale a pena analisar o seu conteúdo. Não por o que lá está escrito, já que se trata de qualquer coisa que só pode ser classificada bem abaixo da mais triste indigência teórica (se é que se pode sequer falar de tanto), mas pelos termos usados, sempre a fugir para chinela. Ele diz muito do estado lamentavel em que está a reflexão política e ideológica no PCP. Nem uma tese, a contestação de uma ideia, a reflexão sobre um espaço político. Nada, a não ser umas citações sortidas e uns insultos escolhidos ao acalhas. E para isto, quatro páginas inteiras. O artigo não quer convencer ninguém de nada. Basta lê-lo para o perceber. Quer apenas fazer o costume: erguer um muro mais alto contra a contaminação para tornar mais segura a fortaleza.
O título também é interessante: "Bloco de Esquerda - Um neo-reformismo de fachada socialista". Ao parafrasear o título de um livro com quase quarenta anos, escrito por Álvaro Cunhal na ressaca do Maio de 68, para definir um espaço político em 2008, o PCP demonstra que não percebeu nada do que tem acontecido pelo mundo nas últimas décadas e o que mudou desde 1971 e, sobretudo, depois da "grave derrota sofrida pelo socialismo a nível mundial, após a restauração do capitalismo na Europa de Leste e na ex-URSS"". Com uma agravante: a cópia é uma desgraça quando comparada com o original. Quem assina este artigo, o ultra-ortodoxo José Manuel Jara, é autor de obras significativas para o debate político à esquerda como "A farsa dos pseudo-radicais em Portugal".
Vindo a despropósito e não acrescentando nada ao vazio do artigo, tenho a honra de ser referido: "Veja-se o estilo do comentador do BE, Daniel de Oliveira, no Expresso, onde não perde pitada para zurzir no PCP, do alto do seu posto na imprensa burguesa." Desagradável para o camarada Ruben de Carvalho, que costuma escrever na página ao lado, ocupando assim também o "seu posto na imprensa burguesa".