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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A ASAE da democracia

Daniel Oliveira, 30.09.08



A decisão da RTP de, por pressão da ERC, diminuir o tempo do programa de Marcelo Rebelo de Sousa e de, nos momentos de opinião, "dar espaço aos outros partidos durante o ano eleitoral que aí vem" para compensar a sua presença, é absurda. Os militantes de partidos não são obrigatoriamente representantes de partidos e o comentário político, mesmo que alinhado, não é um tempo de antena. O que vão fazer quando Marcelo criticar o PSD? Descontar o tempo como se não fosse ele a falar?

A RTP tem obrigação de garantir o pluralismo de opiniões. Mas nem isso se faz com um cronómetro na mão (estou à vontade, já que o último relatório da ERC dava ao partido onde milito muito menos tempo de cobertura do que a outros com igual importância eleitoral), nem o pluralismo se esgota nos partidos políticos. Existe mundo político fora dos partidos, existem opiniões pessoais, mesmo da parte de quem é militante partidário, e o pluralismo é um pouco mais do que a mera medição de tempos.

A ERC quer transformar o jornalismo do serviço público televisão numa repartição pública. Os partidos políticos têm direito a protestar quando se sintam prejudicados na cobertura das suas acções ou no excesso de cobertura das acções do governo. E aí não lhes tem faltado matéria para protesto. Não só os partidos. Também os sindicatos (que representam o maior movimento social português e têm um tempo de cobertura mínimo) e as associações. Todos. Mas há uma diferença entre jornalismo e tempo de antena. E há uma diferença entre regulação e avaliação burocrática. A ERC parece conhecer apenas a segunda e está a transformar-se na ASAE da democracia portuguesa. No pior que isto possa significar.

PS: Os Gatos Fedorentos sairam a tempo da RTP. Um dia destes tinham de passar a cumprir quotas nos alvos das suas piadas.

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