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Arrastão: Os suspeitos do costume.

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Pedro Sales, 27.01.09
Ao contrário do que refere Paulo Pedroso, a questão levantada por este meu post sobre a discriminação dos doadores homossexuais de sangue, só muito lateralmente tem a ver com o seu sentido de voto. Se me parece perfeitamente normal que um deputado acompanhe a sua bancada, já me parece difícil de compreender os argumentos de quem, dizendo-se “conhecedor de que há pessoas que se queixam dessa discriminação”, diga depois que “agi em consciência, perguntei, sem cuidar de saber se isso era cómodo ou incómodo para o meu partido”.

Pode ser que o deputado não se aperceba, mas é esse registo que torna a sua incompreensível a sua acção neste caso. Como é que se compreende que, na segunda ou na terça alguém dê a cara por uma pergunta que é encarada publicamente como representando a preocupação do PS com a discriminação dos homossexuais, e poucos dias depois vote contra uma proposta colocada nos precisos termos referenciados. Não é obrigado a votar com a oposição, como é normal, mas também ninguém o obrigou a tomar uma iniciativa que ia no mesmo sentido de uma proposta que sabia contar com a sua rejeição.

É que, como bem refere Paulo Pedroso, o que está em causa é mesmo saber que as “interrogações sobre a orientação sexual e não sobre nenhum comportamento em concreto” violam a lei e a constituição. Mais. Não há nenhum estudo internacional que suporte essa existência de grupos de risco. Existem comportamentos de risco. A julgar pelos últimos indicadores, que referem que mais de metade dos novos casos de contaminação ocorrem na população heterossexual, contra os 11% entre a homossexual, dá-nos para perceber como esta discriminação não responde perante mais nada que não o preconceito.

Não só não há nenhum suporte legal para esta política nos documentos da União Europeia, como a Cruz Vermelha se encontra empenhada em acabar com as actuais limitações ainda existente em países como os EUA. Mesmo assim, e como se pode ver num cartaz que já aqui reproduzi e que se encontra em vários postos de recolha de sangue, e das incongruentes declarações do responsável pelo Instituto Português do Sangue, a discriminação existe e existe nos precisos termos em que o deputado socialista os coloca.

O que não esperava é ver Paulo Pedroso a chamar “oportunista” a quem pretende que o governo emita normas para acabar com uma discriminação que o próprio considera ilegal. O argumento já é estafado e vem desde a votação do PS no “oportunista” agendamento do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O tal que, três meses passados, passou a representar o fim de uma “discriminação histórica”. Começa a ser um padrão. As propostas não valem pelo que defendem, mas pelos juízos de valor sobre as intenções dos proponentes. A oposição, como se sabe, é geneticamente oportunista. Está-lhe no sangue.

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