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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Europeias: lá fora

Daniel Oliveira, 09.06.09



A direita e a extrema-direita venceram estas eleições europeias. A direita tradicional venceu, antes de mais, onde está na oposição, como em Espanha, no Reino Unido ou em Portugal, assim como em muitos outros países. Mas venceu também onde está na poder: na Alemanha (onde a CDU desceu mas ganhou e a FDP subiu); em França, onde Sarkozy conseguiu um bom resultado, beneficiando do estado comatoso em que se encontra o PSF; em Itália, onde Berlusconi ganha claramente, e em mais uns tantos. Sobram poucas excepções onde a direita, estando no poder, tenha sofrido com a crise. Ainda assim, vale a pena dizer que na maioria dos países os partidos no poder perderam votos.

A extrema-direita duplica a votação em Itália (Liga Norte), ganha o segundo lugar no Reino Unido com um partido anti-europeísta e consegue eleger um deputado do BNP, a FPÖ austríaca duplicou a sua votação, na Holanda Geert de Wilders consegue o segundo lugar, no Leste conseguiu eleger em vários países e é certo que terá, finalmente, a possibilidade de ter um grupo parlamentar na Europa. Quanto tempo nacionalistas de vários países se entendem é outra questão.

À esquerda, a grande derrotada foi antes de mais a social-democracia. Onde governa, foi desfeita: em Portugal, Espanha e Reino Unido, onde o Labour foi literalmente esmagado. E não ficou a ganhar onde estava na oposição: em França tem uns miseráveis 16%, ficando taco-a-taco com Daniel Cohn-Bendit; em Itália, o partido de plástico que nasceu da DS fica-se pelos 26%. E a razia é quase geral, sendo a Grécia uma das excepções. Onde se coligou com a direita também levou um banho: o SPD teve o pior resultado da sua história. Uma lição a aprender. A esquerda social-democrata tem de se decidir. Que papel quer ter nesta crise? Se é para ser uma versão soft da direita está condenada. Os eleitores costumam preferir o original à cópia.

Mas a esquerda à esquerda da social-democracia também sofreu um desgaste. Em Itália não elegeu. Em França o novo Partido Anti-Capitalista ficou-se nos 5%, abaixo do Partido de Esquerda, uma sábia aliança entre comunistas não ortodoxos e dissidentes socialistas. Na Grécia, o Syriza ficou bem abaixo dos ultra-ortodoxos do KKE. Resultado dos recentes acontecimentos nas ruas? Não sei. Na Alemanha, o Die Linke sobe, mas muito aquém das esperanças de há uns meses. Na Holanda, o Partido Socialista (de esquerda) também sobe um pouco, mas abaixo do resultado extraordinário que conseguiu nas legislativas. Portugal, com as duas correntes da esquerda, salva, com mais algumas excepções, a honra do convento. Talvez se deva agradecer existir em Portugal uma esquerda democrática à esquerda dos socialistas bem estruturada que trave a viagem dos votos de protesto para lugares sinistros.

A verdade é que à esquerda, na Europa, nem no centro nem nas correntes mais radicais conseguem apresentar-se como alternativa ao que aí vem. Uma por que parece ter um discurso confuso e indefinido, não se conseguindo distinguir da consenso liberal. A outra porque, em muitos países, é excessivamente ideológica e com dificuldade em captar os sinais que pedem soluções. A credibilidade de Francisco Louçã e a resistência do PCP não encontram paralelo no resto da esquerda europeia.

De assinalar os excelentes resultados dos "Verdes" por essa Europa fora. Em França, na Alemanha e no Reino Unido, por exemplo. E de alguns partidos fora do sistema, como a Itália dos Valores, de Antonio di Pietro, que quadruplicou a sua pontuação e, em Espanha, a União, Progresso e Democracia, de uma antiga socialista, e os nacionalistas de esquerda da Galiza e Catalunha. Além, claro, do estranho Partido dos Piratas, na Suécia.

É ainda difícil tirar conclusões destes resultados. Há muitas variantes e as nacionais parecem ser as mais importantes. Ainda assim, podemos dizer algumas coisas: que onde a esquerda não se tem conseguido organizar a extrema-direita arrecada votos, que os eurocépticos estão em alta, que os socialistas e social-democratas estão a viver uma das mais profundas crises de identidade da sua existência e que a esquerda tem dificuldade em aparecer como alternativa em muitos países. O traço comum talvez seja este: o voto está solto e a confusão é total. Ou a social-democracia tradicional consegue fazer a sua transição e encontrar um caminho, deitando às malvas os restos desse aborto político a que se chamou Terceira Via e que existe em várias variantes mais ou menos explicitas, ou pagará cara a sua indefinição. E o resto da esquerda tem de conseguir (como fez em Portugal) falar ao eleitorado socialista descontente e dar-lhe alguma esperança numa alternativa. Se assim não fizerem o resultado será ou a continuação da receita liberal, com resultados catastróficos e em contra-ciclo com os EUA, ou, ainda pior, o crescimento dos partidos semi-fascistas e xenófobos. A Europa sabe, melhor do que ninguém, onde isso acaba.

No Parlamento Europeu, a direita fica em clara maioría. O PPE só não cresce porque os conservadores ingleses vão mudar de bancada. Uma má notícia: os populistas italianos podem ser a principal força no maior partido europeu.

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