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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Na primeira hora da TVI 24

Pedro Vieira, 26.02.09
 

O nome não é auspicioso, houve quem temesse assistir a uma versão do jornal 24 Horas a partir de um estúdio de televisão, confira-se o noticiário da TVI dita "normal" para perceber que os medos nem sempre são infundados, mas a emissão arranca com sobriedade, Henrique Garcia e Moniz em cenário minimalista, mesa branca e chroma key sobre o Tejo, less is more, já dizia o arquitecto Rohe, na versão de alguns, ou então o Paulo bento, na versão de muitos.

O chefe dá as boas-vindas, afirma a fé no jornalismo relevante e siga para bingo, para a primeira peça, novidades sobre a economia nacional comentadas pelo homem do azulejo "Cuidado com o Bagão", aquele mesmo cujo código do trabalho foi vilipendiado há anos atrás pelos mesmos indivíduos que hoje em dia trouxeram à liça um ainda mais amigo da classe operática, junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e blábláblá, e do outro lado da mesa o primeiro indivíduo a ser eleito para o parlamento português nas listas da Iberdrola, ex-delfim dos amanhãs que canta(ra)m, agora convertido ao cinzento dos fatos que não Maconde, é gente desta que enterra a Superconfex e o aparelho produtivo nacional, está dito.

Avança-se para a peça que antevê o congresso do PS, efeméride na qual será entronizado o engenheiro- técnico-mais-uns-pózinhos Kim-il Sócrates, na sequência de uma votação que andou no roça-roça com os 100% , efeméride essa antecipada pela Constança Muito Blasé Cunha e Sá, diz ela que o congresso poderá não trazer nem muita parra nem muita uva, são tempos de crise até para a vinicultura, hélas.

A partir daqui larga-se o nosso rectângulo, mergulha-se no internacional, lança-se a peça que há-de escrutinar a queda do avião turco e eis-nos num imenso espaço PUB, com a EDP e uma variedade de Skip que faz as criancinhas rebolar nas ervas floridas arraçadas da campanha do Molico, outros tempos, as mesmas iconografias, volta o noticiário e com ele o avião partido em três, sem novas pistas sobre o acidente, sem a identidade dos passageiros confirmada, e eis-nos no Bloco Obama do espaço noticioso, os túneis de Gaza bombardeados e o enviado de Obama, a quase falência da General Motors e o orçamento de Obama, a descida da taxa de popularidade (de quem?) e a frase jocosa de rodapé: 'Taxa de popularidade de Obama "queimada" com plano de estímulo económico', só faltou arrematar com um prosaico 'Futuro negro para Obama', há muita analogia por onde escolher, e para falar da América entra Bernardo Pires de Lima, salvé, um  homem da blogosfera, sangue novo mas com cãs no cabelo, para garantir a credibilidade.

O internacional continua com uma entrevista ao representante da ONU em Timor-Leste, sabendo-se que a Fox não abre mão dos Simpsons a TVI 24 apostou num perfeito imitador do Apu Nahasapeemapetilon, avance-se para a Taça Uefa onde o Braga dá cartas mas sucedeu que o Jesus ainda não estava disponível para falar aos seus discípulos sobre o empate e as questões do forno interno do clube (sic), vem depois um lamiré à mão cheia de Bayern que aterrou no Campo Grande, Paulo Bento logo seguido de Pedro Barbosa numa prova de que há algo de podre no reino dos cabeleireiros, de seguida o frango de Helton, sem direito a contraditório, e chegamos ao momento da síntese nacional.

Nela desfilam o julgamento adiado de Isaltino Morais, tio de um famoso taxista helvético, o caso Freeport e o degredo de Justiça, o julgamento do processo Casa Pia e o processo de fraude que envolve uns vereadores da Câmara Municipal de Coimbra, e assim, numa penada, chegamos ao fim da dita síntese e percebemos que Portugal continua a ser apenas e só um imenso Código Penal, mas com mais telemóveis per capita do que qualquer código estrangeiro. A fechar, o Tempo, mas sem efemérides de griffe Mário Crespo, a este Henrique Garcia ninguém arranca a data de nascimento do Savonarola nem a filmografia do Billy Wilder, este dá as boas noites, um até já, lança o painel de debate que vem aí com o Pulido Valente e derivados e ao fim da primeira hora percebemos que dificilmente se leva alguém de esquerda à televisão, nunca à noite e muito menos em programas da manhã (é conferir amanhã a partir das sete), caso contrário ainda comem ao pequeno-almoço as criancinhas da redacção, o que é francamente indigesto. Siga a emissão, então.

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