que bem que me caiu no goto o disco de estreia dos OqueStrada, colectivo que palmilha terreiros e coretos, arraiais e salões de colectividade há coisa de sete anos, eles, que guardaram as pérolas mais ou menos longe dos incautos, folia escondida com rabo de fora, e agora lançam a rodela com o nome de Tasca Beat, arriscando uma salada de frutas muito borderline, entre o neurótico e o psicótico como manda a tradição, deitando para a gamela cantares, instrumentos e assobios de vários quadrantes e assim se faz uma alquimia do catano, refunda-se uma parcela da música à portuguesa, tecem-se loas à identidade a partir de uma guitarra dedilhada mas também sovada em registo flamenguito, quadras lisboetas e crioulo diletante, acordeão e um contrabaixo arraçado de pau de vassoura. E que produz som, diabos o levem e tragam.
Pelo meio faz-se a barba à chapada a um ou dois amores vigorosos, sopra-se nos metais, molha-se a sopa nas outras línguas, francês, castelhano, um ou dois ciganos aterram de soslaio sem ser para vender caldo-knorr-a-fazer-de-haxixe, glosa-se o billy idol (I kid you not) e as rotundas, Almada e o killing me softly, uma pitada de brasil, cabo verde e madragoa, há umas cordas em "eu e o meu país" a lembrar o al-andaluz, os terraços de beja ou os meus vizinhos da rua de santa marta, é possível modernizar o cancioneiro sem querer trazer as modinhas da amália para o trip-hop, para as vocalizações banhudas, homenagem ao estilo elefante em loja de porcelanas como uma ou outra que rodam por aí, glória aos fadistas, à hermínia, dizem eles, glória à OqueStrada, proponho eu, toma lá nota ó sam the kid, eles não querem ser os moonspell, não querem novos horizontes, mas aqui a tasca beat, é um granel , é quinta da fonte. E que bem que eu me dou com as rimas, foda-se. Então não?
Sinceramente parece-me que a música que eles tocam é uma e a melodia que a rapariga canta é outra. Não jogam muito bem uma com as outra. Separadas até soariam bem. A letra não é grande coisa, parece vir directamente da Escola de Letras "João Pedro País" ( infelizmente uma escola com grande sucesso no nosso meio musical), e só parece um bocadinho melhor, porque a roupagem instrumental é realmente boa.
Cá para mim não há nada melhor do que um rap de alentejano à mistura com algarvio, aqui vai: A BARRACA vende empreita vende o esparto o povo espreita disto está farto!? - vou ao Seu Café ver a barracada bebo lá um café sai bica pingada? - e é tanto um pó qu'anda p'lo ar que já mete dó a gente lá estar! - e se a gente sai vai a outro lugar lá vem a A.S.A.E. A tudo estragar! - vou num T. G. V. d'alta velocidade e nada lá se vê é já desta idade? - e já estou morto com tanto calor e num aeroporto rebenta o motor! - o meu País é belo linda é a Câncio e um Nuno Melo; dá a Constâncio!? - e vejo uma garota aí d'uns dezoito essa que é marota me faz já no oito! - já lá dizia meu Pai em sua vida tirana vai lá José vai, vai qu'a barraca abana! - Pisco