«As populações, em geral, têm sabido compreender e aceitar os pequenos decréscimos de comparticipação medicamentosa e os pequenos acréscimos nas taxas moderadoras», disse, segundo o relato do
Corta-Fitas, o ministro da Saúde no Parlamento.
Confirmo. Ainda outro dia ouvi, juro por Deus, este diálogo na farmácia:
«Sim, senhora doutora, claro que compreendo que depois da doutora me aviar a receita aqui fique a pensãozinha toda. Ainda outro dia o meu Zé me explicou que teve de haver pequenos decréscimos de comparticipação medicamentosa para reequilibrar as despesas galopantes no Servço Nacional de Saúde. E eu não sou nenhuma analfabeta. E ainda agora estava a vir do hospital com a minha mais velha. A que está agora a trabalhar ali no Pão de Açúcar, a Belinha, está a ver? Ela anda que não pode com as costas. E vinhamos ali do Santa Maria, a descer para Entre-Campos, e ela estava nhã nhã nhã, mais isto e aqueloutro, que está pela hora da morte e onde é que já se viu pagar esta dinheirama para estar cinco minutos com um médico... E eu disse-lhe assim mesmo como lhe estou a dizer a si, juro pela minha falecida mãezinha, senhora doutora: tu ganha-me juízo, Belinha. Então não vês que temos de compreender e aceitar este pequeno acréscimos nas taxas moderadoras. Estamos em tempo de sacrifícios para atingirmos uma desejável saúde orçamental, mulher. Ó queres que a gente não cumpra o Pacto de Estabilidade e Crescimento? É como o teu pai me disse - disse eu a ela -, se não fosse o senhor Correia de Campos este país só ía para trás. É que é assim mesmo como lhe estou a dizer, senhora doutora.»
O que nos vale é este bom povo.