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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Vai para a tua terra

Daniel Oliveira, 30.09.06
«O aumento dos descontos para a ADSE é um aumento de impostos sobre mais de setecentos mil trabalhadores (…) Continuamos à espera que o governo acabe com as pensões milionárias do Banco de Portugal.» Disse Francisco Louçã. Desculpem, disse Jerónimo de Sousa. Perdão, disse Manuel Alegre. Não? Quem? Marques Mendes!?

Que o PS e o PSD se distinguem cada vez menos, eu já sabia. Mas que agora trocam de posições quando um deles vai para o governo é que é novidade. Marques Mendes está a tentar fazer oposição ao PS pela esquerda. Talvez seja bom dizer-lhe que isto não é assim, que há muito que anda aqui gente a trabalhar e a cuidar deste bocadinho, não é à vontade do freguês. Ou entra para o PS, ou pede com delicadeza ao PS para regressar de onde veio. Agora, não é justo que, quando Sócrates se instala no espaço do PSD, ele venha aqui para este lado fazer concorrência. Faça favor, volte lá para o cantinho direito que lhe restou. Ficou pequenino, mas é o seu lugar.

Ganda malha!

Daniel Oliveira, 30.09.06
Segundo o "Expresso", Paulo Portas e Marcelo Rebelo de Sousa - com Zita Seabra - terão feito um acordo para que, não mudando a lei que criminaliza o aborto, os processos contra mulheres acusadas sejam sempre todos arquivados. Os senhores são magnânimes e as pecadoras deviam rojar-se nos seus pés em sinal de agradecimento. Ainda assim, não deixa de ser extraordinário que se legalize a hipocrisia: para não mudar a lei arquiva-se a lei. Se é para arquivar, para quê criminalizar? Eles sopram ao "Expresso" a resposta: é para entalar os opositores, deixando-os sem argumentos. E assim brincam com o que dizem, sempre com ar grave, respeitar: com a lei e com os tribunais. Enquanto enchem a boca com o "sentido de Estado", o aborto serve-lhes para habilidades políticas. Que a lei tenha alguma coisa a ver com a realidade? Para quê, quando uma proposta absurda pode valer uma manchete.

Estão a ganhar

Daniel Oliveira, 29.09.06
A "lei sobre comissões militares de 2006" foi aprovada na 4ª feira pelo Congresso dos EUA com 253 votos a favor e 168 contra e ontem, no Senado, com 65 votos a favor e 34 contra. Esta nova lei deixa os detidos impotentes perante a coacção e os abusos, incluindo a tortura, permite sujeitá-los a prisão indefinida sem recurso a tribunal, anula a garantia de habeas corpus, o direito de qualquer acusado ter as provas contra ele apresentadas em tribunal, desde que seja considerado "combatente ilegal" ou acusado de "apoiar o terrorismo".

O projecto foi apresentado por Bush depois do Supremo Tribunal americano ter considerado que os tribunais especiais para os prisioneiros de Guantanamo eram ilegais.

Para os que acham que as sociedades democráticas não devem ceder aos combatentes contra a liberdade, aqui está a resposta: já estão a ceder. Os inimigos da liberdade e do Estado de Direito vão ganhando nos dois lados da barricada.

Ler Human Rights Watch e Center for Constitucional Rights.

Ao soldado desconhecido

Daniel Oliveira, 29.09.06
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Mentir é feio. E eu menti. Disse que não ia ver o filme de Oliver Stone sobre o 11 de Setembro e fui. Confesso que me surpreendeu. Esperava o pior. Tive ainda pior. Lamechas, básico, patrioteiro, fácil. Nem Nicolas Cage, provavelmente o meu actor preferido no activo, salva aquela estopada. Para desenhar o cartão postal da América, Stone não gastou um neurónio. Está lá tudo: as mulheres chorosas esperando os seus valorosos esposos, a diversidade racial medida ao milímetro, a solidariedade entre os homens que nuca falham, um louco ex-fuzileiro que no fim até salva os protagonistas e diz ao telemóvel “vamos precisar dos melhores para vingar isto”. Alista-se para servir na guerra do Iraque. Ou seja: uma mão amiga e compreensiva aos mais fanáticos, pintando-os como patriotas perturbados mas bem intencionados.

Mas, mais importante que tudo isto, um filme mau, com diálogos idiotas e uma realização absolutamente desinteressante. O Oliver Stone de “Nascido a 4 de Julho” – um filme igualmente fraco e cheio de lugares comuns, mas de sentido inverso a este – voltou a atacar. Mas este retrato idílico da América acossada (que soa a senilidade artística e ideológica), aplaudido pelos mesmos conservadores que se insurgiram por ser Stone o primeiro a retratar o 11 de Setembro no cinema, não é apenas uma «história simples», como disse o realizador, mas uma simplificação da tragédia. A tragédia, o sofrimento e a morte nunca são simples. Nelas se revelam o pior e o melhor da natureza humana. Pois ali só há heróis.

Stone parece pedir autorização para ser o autor do hino ao "americano". E é de um hino que se trata. Nada contra o “americano” a que o filme ergue uma estátua. Ao contrário do que pensam, aprecio muito do que essa personagem contraditória do conquistador do Novo Mundo significa. A confiança absoluta no individuo, a capacidade surpreendente de realizar feitos impossíveis, o espírito o combativo, a clareza no confronto e a ingenuidade nos valores, inversa ao cinismo europeu. Tenho medo de tudo isto porque tudo isto pode, como se tem visto, ser perigoso. Mas tudo isto me toca. Só tenho tudo contra os hinos e as estátuas. Sobretudo as estátuas ao soldado desconhecido, sem alma nem história. Não são arte, apenas isso. São sempre estúpidas.

Seria o meu candidato

Daniel Oliveira, 28.09.06
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Nada de especial. Mau a comunicar, péssima presença, trapalhão, o carisma de uma alforreca, uma campanha amadora e terá um resultado miserável. É candidato pelo partido de Brizola, o que não me agrada, mas tem uma longa história de combate pela democracia e à esquerda, que continua. Quase só fala de educação. Mas ataca Lula pelo lado certo: o que não fez e tinha de ter feito. E ataca a corrupção pelo mesmo lado: a quem se entregou Lula quando começou a falhar. E não faz de tudo isto o seu tema de campanha. E foi ele que começou o projecto, em Brasília, alargado depois ao país, que ajudou os mais pobres a ter o mínimo. E quis realmente mudar alguma coisa no acesso dos mais pobres ao ensino, a base para uma verdadeira democracia no Brasil. E foi corrido de ministro pelos mesmos que destruíram o PT, de que ele foi dirigente. Nada de especial, mas melhor do que Lula e do que o polvo que ele alimentou. E melhor do que Heloísa, que fala dos brasileiros como se fossem seus filhos e vive do ressentimento e do justicialismo. O populismo latino-americano em versão marxista e evangélica. E, claro, muito melhor que Alckmin, que representa o pior do Brasil. Cristovam Buarque não entusiasma. Mas se tivesse de votar...

Quem foi o gajo?

Daniel Oliveira, 28.09.06
Paulo Pinto Mascarenhas é contra a despenalização do aborto e contra a prisão das mulheres. Para quem é amante da lei e da ordem, a defesa de leis que não são para cumprir parecia-me estranha. Mas ele esclarece, numa caixa de comentários do blogue Atlântico: «a penalizar, para mim, devia ser o homem». Como sabemos, para a malta do CDS a mulher não é um ser especialmente dotado para tomar decisões. Se engravida e não quer, só pode ser por culpa de um canalha. E assim resolve o Paulo todas as suas angústias: mantém-se o aborto como crime mas a senhora se não quer ir para a choldra diz quem foi o violador (quando há sexo sem vontade de procriação, todos sabem, ou é violação ou prostituição) para que ele pague bem caro o seu crime.
PS: No post onde está o comentário, Paulo Pinto Mascarenhas diz que no refereno a «política não é para aqui chamada». Tendo em conta que estamos a falar da aprovação de uma lei, sempre gostava de saber em que momento é que deixou de ser a politica a definir o quadro jurídico em que vivemos.

Ainda bem que sabemos todos o que é melhor para eles

Daniel Oliveira, 28.09.06
71% dos iraquianos quer a retirada das tropas americanas do seu país, no próximo ano, diz uma sondagem dirigida pela International Policy Attitudes (PIPA) da Universidade de Maryland e realizada pela World Public Opinion. Dos que defendem a retirada rápida, 37% querem que ela aconteça em seis meses e 34% optam por uma retirada gradual durante um ano. 20% defende a retirada apenas nos próximos dois anos e apenas 9% quer que as forças americanas permaneçam no território até estarem garantidas as condições de segurança. A defesa de uma retirada no espaço de um ano é claramente maioritária entre os xiitas (74%) e sunitas (91%). Apenas entre os curdos se fica pelos 35%.
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78% dos iraquianos considera que a presença americana cria mais conflitos do que previne – 82% entre os xiitas, 97% entre os sunitas e 45% entre os curdos. 53% dos iraquianos considera que a retirada das tropas americanas fortaleceria o governo iraquiano e apenas 23% pensa que o enfraqueceria.
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61% dos iraquianos apoia os ataques às forças americanas. (62% nos xiitas, 91% nos sunitas e 15% nos curdos).
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77% dos iraquianos acredita que os EUA pretendem ter bases militares permanentes no Iraque e 78% está segura que mesmo que o governo iraquiano exigisse, nos próximos seis meses, a retirada das forças americanas elas não o fariam.
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No entanto, 96% os iraquianos desaprova os ataques a forças de segurança iraquianas. 100% desaprova ataques a civis.
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94% desaprova a Al Qaeda (82% tem uma opinião muito negativa). Quanto a Ossama bin Laden, a opinião negativa é de 93%.
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A maioria dos iraquianos faz um balanço positivo da queda de Saddam Hussain. Mas a violência e a presença americana parecem estar a moderar as terríveis memórias que têm do ditador.
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PS: Para quem se interessa, vale a pena ler a totalidade do inquérito (em PDF), para perceber o sentimento de insegurança dominante no Iraque (sobretudo entre os sunitas) e como há por ali mais bom-senso do que se imagina. Como muitos aceitariam que os EUA tivessem algum papel não-militar na estabilização do país mas pensam que, mesmo aí, eles estão a fazer um mau trabalho. Acreditam mesmo que a sua partida diminuiria a violência inter-étnica que a maioria associa a estrangeiros. Os iraquianos querem um governo forte no lugar das melicias. Querem sentir-se seguros e pensam que isso não é possível com os EUA presentes. A comparação de muitos dos resultados com os de há nove meses é perturbante. Os curdos continuam mais satisfeitos que os restantes com a situação actual e os sunitas cada vez mais desesperados. Ver também a popularidade de Sadr, Hezbollah, Sistani, Ahmadinejad e Ossama bin Laden. Comparar por etnias e grupos religiosos. Um excelente trabalho na mais importante sondagem aos iraquianos publicada até agora.

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