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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Cristalino

Daniel Oliveira, 31.01.07
«Nós somos contra a lei de 84.»
«Uma mulher violada não deve ser obrigada a educar aquele filho. Mas matar aquela criança só porque a sua origem não é a desejada não é uma coisa aceitável. A adopção é a solução razoável.»
«Eu nunca ouvi ninguém dizer “nós somos a favor desta lei”»
«Esta atitude laxista relativamente ao aborto vai dar uma volta. Nós daqui a uns tempos vamos discutir de novo a lei de 84».
João César das Neves, mandatário do Movimento Diz que Não, TSF, 31 de Janeiro

Debate aqui

Sair do guião

Daniel Oliveira, 31.01.07
Vale a pela ouvir o debate em que participei na TSF e que vai hoje para ao ar às 20h00. Não pela minha pessoa, obviamente. Mas pelo meu oponente, o inominável César das Neves. O senhor diz alto o que os outros só sussurram quando estão encerrados numa sala da agência de comunicação: somos contra a lei em vigor (ele insistiu em não falar apenas em seu nome). Depois de ter o filho a mulher violada pode sempre dá-lo para adopção. Foi um debate, para dizer o mínimo, violento. Mas útil.

Também publicado no Sim no Referendo.

Prevenir antes de votar

Daniel Oliveira, 30.01.07

Jornalachismo

Daniel Oliveira, 30.01.07
O jornalista acha que na campanha do "sim" «são raros os que dormem com a causa, acordam a pensar na causa, sabem o que é que a causa está a preparar para a semana, para o dia seguinte. Diz que «toda a gente fala ao mesmo tempo, sobre tudo, sem critério nem estratégia.» Partindo do principio que o jornalista não dormiu nem acordou com as pessoas da causa, nem está na cabeça delas, faziam falta alguns exemplos. Não era dificil. Quem é que não sabia da agenda da semana? Alguém relevante ou um tipo da assistência? É um segredo que o jornalista guardará para si.

O jornalista acha que existem «à esquerda muitos políticos querendo assumir protagonismo na matéria». Quais? Não nos diz e por isso pode ser que sim ou pode ser que não. Mas o jornalista descansa-nos: isso «não é mau em si». Os políticos de esquerda (sejam eles quem forem) podem então dormir descansados. Mas esperem. O jornalista tem mais uma opinião: «o problema é que se trata, quase sempre, de um protagonismo preguiçoso, displicente». É agora que vêm os exemplos? Disparate. Estamos no terreno do jornalismo de ambiente. Os factos e as histórias são coisa para trolhas. Nós todos queremos é saber o que o jornalista acha desta campanha. O que é que ele apanhou no ar.

Desce por umas linhas ao concrecto. A qualquer coisa que se assemelhe a uma reportagem. O jornalista lamenta que Jorge Coelho e Edite Estrela se demorem em explicações. «Boas explicações, com razões sólidas e contra-ataques certeiros.» Quais? Não sabemos mas se o jornalista diz que são boas e sólidas nós só temos é de acreditar. «Mas explicações demasiado longas, demasiado dispersas.» Ou seja, o jornalista maçou-se e isso é uma coisa que temos todos de evitar: maçar o jornalista. Podia até ser que não nos maçassem a nós. Mas quem somos nós?

O jornalista acha que na campanha do "não" há muita «gente da catequese, yuppies moldados pela Opus Dei». Quem é que é da Opus Dei? Não diz? E da catequese???? E acha que a campanha do "sim" há «feministas e intelectuais, antifascistas e académicos, okupas e ecologistas». Okupas que estão a ocupar o quê? Antifascistas? Hão de ser conhecidos. Quem? Académicos? No "não" não há "académicos". Muitos, até. Ou será malta assim tipo intelectual? Ou será que o jornalista decide a ocupação (não confundir com os okupas) de cada um conforme o visual?

Mas há informação relevante. Depois de um longo trabalho de campo do jornalista, somos informados que «entre os grupos do "sim" prevalecem largamente os dois beijos na cara» e «no "não", pelo contrário, só é admissível o beijo unifacial.». E lança as perguntas: «Posto isto, se o cumprimento do "sim" representa a tradição mais vulgarizada em Portugal, nesta matéria, que significado tem o beijo unifacial? É ele um beijo elitista? Serão as pessoas do "não" elitistas?» Venham os sociólogos.

O jornalista sabe que há uma coisa que se chama reportagem. Sabe de certeza que nela se mostra isto tudo que ele nos quis dizer com histórias e factos. E nós tiramos estas (ou outras) conclusões. E sabe que há uma coisa que se chama análise. Costuma ser assinalada como tal. Ele diz o que acha e se nós acharmos relevante ler o que ele acha lemos. Ou não. Sabendo sempre que é apenas o que ele acha.

O jornalista acha imensas coisas. É possível que seja tudo verdade. Mas como o jornalista nos dá tão poucos factos e tantas conclusões, ficamos com a sensação que se esqueceu do que é o jornalismo: um conjunto de informações que nos permitem ter uma opinião. Não é um conjunto de opiniões que ilustramos aqui e ali com uma informação.

Estou a ser injusto. Ficámos com uma novidade: Paula Teixeira da Cruz é «vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa.» É aborrecido ter sido esta a novidade. Porque como Paula Teixeira da Cruz é presidente da Assembleia Municipal e o vice-presidente é Fontão de Carvalho, que até tem aparecido muito nas notícias dos jornais. Ficamos com medo que, perante esta falha tão evidente, as restantes conclusões que tirou se baseiem em factos igualmente pouco seguros.

O jornalista Ricardo Dias Felner não é mau jornalista. Pelo contrário. Mas desta vez fez um trabalho «preguiçoso, displicente». Isto é o que eu acho. Podem publicar como uma reportagem, lá no jornal?

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