ANTES de sair de casa olhe bem para o tempo que faz lá fora. Vestir um casaco em pleno Verão pode bem custar-lhe a vida. E não julgue que passará despercebido. Vinte e quatro horas por dia, na rua, no metro, no autocarro, nas lojas, será filmado. Se de repente um grupo de homens o perseguir, não fuja. Será a sua última corrida. A ordem é simples: atirar para matar. Não se queixe: é em defesa da sua vida que apontam a mira à sua cabeça.
Depois da polícia matar um brasileiro no metro londrino, com sete tiros na nuca quando este se encontrava já imobilizado, porque tinha um kispo suspeito para o calor que então se sentia e porque, tendo caducado a sua autorização de permanência, fugia a uma perseguição de agentes à paisana, Tony Blair explicou-nos esta execução sumária: «se este tivesse sido um terrorista, e os agentes não tivessem agido, teriam sido criticados de outro modo». Nestes novos tempos, a nossa segurança vale a vida de um inocente, não se vá dar o caso de ele ser um terrorista. Mata-se, «just in case». E o chefe da Scotland Yard já deixou claro que a ordem para matar mantém-se. Nada disto é novidade para os ingleses. Na Irlanda do Norte, foi esta histeria que levou ao «Domingo Sangrento», episódio macabro que acabou por fortalecer o IRA.
Os terroristas conseguiram o que queriam. Entrámos em paranóia colectiva. Sim, os ingleses vivem um trauma. Assim como os americanos, quando acharam que seria boa ideia terraplenar o Iraque ou criar um campo de concentração em Guantánamo. Assim como os palestinianos, que se rebentam em Jerusalém. Ou os iraquianos, que matam em Bagdade. Para mantermos a sanidade e algum sentido ético, só podemos ser severos por igual e perceber que, de um lado e do outro, nunca faltará gente de gatilho fácil que não dá grande valor à vida. E que uns não vivem sem os outros.
Que saudades das pacatas campanhas portuguesas. As eleições são este domingo.
AKP, Partido da Justiça e do Desenvolvimento: pós-islamistas de centro-direita, liberais na economia, conservadores nos costumes e europeistas.
CHP, Partido Republicano do Povo: secularistas e nacionalistas de centro esquerda, antigo principal partido da Turquia com apoio dos militares
MHP, Partido de Acção Nacional: nacionalistas de extrema-direita, que associam o governo ao terrorismo e centram o seu discurso no ataque aos curdos. Ja foram o principal partido da direita turca.
Partido Democrata e Partido da Juventude: podem ultrapassar a barreira dos 10% e entrar no Parlamento. Os democratas são de centro-direita e liberais.
Independentes: há mais de 700 candidatos independentes, muitos deles de esquerda e muitos curdos do DTP, que poderão ser eleitos
Pequenos partidos: comunistas, trabalhistas, islamistas. São mais de 14 partidos e a maioria não tem qualquer possibilidade de eleger deputados.
António Costa Apenas mais 3% do que Manuel Maria Carrilho. Teria muito provavelmente perdido as eleições se Carmona tivesse concorrido com o apoio do PSD. Excesso de confiança, colagem excessiva ao governo, caso Júdice e pouca clareza em relação a politica de alianças. Uma lição: as eleições nunca estão ganhas à partida. Com mais cuidado teria ganho com maior folga. Teve bem menos do que a minha previsão. O governo está mesmo em queda. Mas venceu.
Carmona Rodrigues De longe, não pude verificar as suas votações nos bairros sociais, onde a cacicagem dos serviços da Câmara se costuma sentir. Mas mesmo que isso tenha pesado, não chega. Tendo em conta o estado em que deixou a Câmara e os escândalos que pairam sobre si, é extraordinário o resultado que consegue. Ainda assim, não há volta a dar. Era o presidente e não chega aos 20 por cento. Foi derrotado. Esteve muito proximo da minha previsão.
Fernando Negrão Ficará para a história como o candidato do PSD com pior resultado em Lisboa. E dizer pior é dizer muito pouco. Marques Mendes, que pediu uma leitura nacional destes resultados, devia começar a fazer as malas. Ainda assim, teve mais do que aqui previ. Perdeu estrondosamente.
Helena Roseta A prova de que a forma e de que o sentimento anti-partidos vale mais do que a clareza dos propósitos e a coerência no programa. Teve mais do que previ. No entanto, com uma campanha muito pior do que se esperava, teve muito menos do que se previa no início, quando sonhava ser presidente. E muito longe do fenómeno Alegre. Mas venceu.
Ruben de Carvalho Desce dois por cento e elege o segundo vereador à tangente. Com uma abstencão muito alta, o que geralmente benificia o PCP, em que aumenta o peso do eleitorado mais velho e mais fiel, é um mau resultado. Muito abaixo das sondagens. Muito longe do que aqui previ. Terá perdido mais para Roseta, que julgava ser uma boa notícia para si, do que alguem esperava? Perdeu.
José Sá Fernandes Teve exactamente o que previ e muito próximo do que conseguiu há dois anos. Tendo em conta a candidatura Roseta, que entrava naturalmente no eleitorado do Bloco de Esquerda, e o facto de ter estado debaixo de fogo como mais nenhum candidato, pode considerar que venceu. Mas a minha leitura é diferente. Um vereador que denunciou a corrupção e que pela primeira levou um alegado coreruptor à barra de tribunal teria de ter mais num país que valorizasse, para lá da conversa de autocarro contra os políticos, a defesa das resgras democráticas. Não é o caso de Portugal e por mim tiro as devidas consequências deste resultado. Ainda assim, segurou o seu eleitorado nas piores circunstâncias. Por isso venceu.
Telmo Correia Também teve o que aqui previa. Que seja ele a demitir-se dos seus cargos só demonstra a falta de vergonha do seu lider. Foi ele que chutou Maria José Nogueira Pinto do partido, foi ele que escolheu alguém que nada tinha a ver com as autárquicas de Lisboa (e que até se esforçou), foi ele que deixou para o fim a escolha do candidato, foi ele que quis ser lider quando Ribeiro o Castro ainda nem tinha ido a votos... Outros pagam a factura. O costume.
Desculpem eventual gralhas, o teclado não ajuda. De outra campanha, para as legislativas na Turquia, darei notícias.
Em estreia absoluta, o Arrastão e o Zero de Conduta lançam aqui um resumo de 12 minutos do filme que está a deixar, mais uma vez, a direita americana irritada. Realizado pelo homem que mais comichão lhes faz. É o melhor filme dele e está a relançar o debate sobre o serviço nacional de saúde nos EUA.
align=center> Até às eleições não terei oportunidade de escrever e depois delas estarei na Turquia. De Istambul à Capadócia, de Patara a Esmirna. Tentarei ir postando de lá, quando for possível, para vos contar o que vejo. Até porque na primeira das três semanas que andarei a passear pelo país apanharei o fim da campanha eleitoral para as legislativas, uma das mais importantes que a Turquia já viveu. Darei novidades. Antes de abandonar o computador ainda deixarei aqui um post especial.
align=center> A principal razão para este voto é simples: cumpriu tudo aquilo com que se comprometeu há dois anos. Não é nada pouco. Mas outra razão pesa mais, para mim. Gosta ainda mais de Lisboa do que eu. E a terceira: gosto de saber que na Câmara haverá alguém que não facilita. Num país como Portugal, numa câmara como a de Lisboa, não é um pormenor. Sobretudo se, como começa a parecer plausível, António Costa tiver o descaramento de fazer uma aliança com Carmona Rodrigues.
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