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Arrastão: Os suspeitos do costume.

E o prémio da "capa mais engraçada do ano vai para"...

Pedro Sales, 01.12.08


...o Expresso desta semana. "Governo salva BPP para defender imagem de Portugal". Está-se mesmo a ver a "imagem de Portugal" afectada por um banco com 0,2% de quota de mercado, ou a "crise de confiança" criada pela falência de um banco que ninguém conhece. Em todo o caso, compreende-se a razão de ser deste título tão enfático sobre o sentido de Estado do Governo...

E o prémio da "capa mais engraçada do ano vai para"...

Pedro Sales, 01.12.08


...o Expresso desta semana. "Governo salva BPP para defender imagem de Portugal". Está-se mesmo a ver a "imagem de Portugal" afectada por um banco com 0,2% de quota de mercado, ou a "crise de confiança" criada pela falência de um banco que ninguém conhece. Em todo o caso, compreende-se a razão de ser deste título tão enfático sobre o sentido de Estado do Governo...

E o prémio da "capa mais engraçada do ano vai para"...

Pedro Sales, 01.12.08


...o Expresso desta semana. "Governo salva BPP para defender imagem de Portugal". Está-se mesmo a ver a "imagem de Portugal" afectada por um banco com 0,2% de quota de mercado, ou a "crise de confiança" criada pela falência de um banco que ninguém conhece. Em todo o caso, compreende-se a razão de ser deste título tão enfático sobre o sentido de Estado do Governo...

Foi você que pediu para financiar o prejuízo dos outros na bolsa?

Pedro Sales, 01.12.08


Há menos de um semana não havia nenhum banco disposto a adquirir ou financiar o Banco Privado Português. O que faz, então, que seis bancos apareçam agora dispostos a “entrar” com 600 milhões de euros para salvar o BPP? O dinheiro que o Estado oferece como garantia. Se a coisa correr mal, seremos todos nós a pagar pelo prejuízo bolsista de meia dúzia de altos investidores.

O Banco Privado não é bem um banco. Não tem operações de retalho. Tem pouco mais de 3 mil clientes. Ninguém lhe conhece um balcão. É uma instituição financeira especializada em aplicações financeiras de alto risco. Quando o mercado sobe, distribui generosos dividendos. Quando encontra uma crise financeira, que nem precisa ser como a actual, desce mais depressa que um avião sem motor. Se os accionistas não acreditaram nos activos do seu banco, e não aumentaram o capital para o salvar, porque razão foi o Governo aceitar esses “activos” como garantia? Qual é o sentido de colocar o dinheiro dos contribuintes a assumir o risco dos investimentos bolsistas de meia dúzia clientes de um banco gestor de fortunas?

O Banco Privado não é o BPN. Não tem um grupo económico com milhares de trabalhadores, não tem centenas de balcões e 300 mil clientes. Não há o agora famoso risco sistémico, como o ministro das finanças reconhece. Dificilmente se imaginaria uma corrida aos balcões pela falência de um banco com a espantosa quota de 0,2% do mercado e do qual ninguém conhecia o nome há uma semana atrás. O BPP não é um banco. É um porta moedas. Com dinheiro de gente muito rica e influente, é certo, mas pouco mais que um porta-moedas. A mensagem que o governo transmite é clara. Aconteça o que acontecer, e por mais irrelevante que o banco seja, aí estará o dinheiro público para o suportar. Podem continuar à vontade que esta crise não oferece nenhuma moral da história. As práticas de gestão bancária estão correctas. Quando corre bem, distribuem dividendos, quando corre mal os contribuintes pagam.

Vale a pena lembrar os motivos invocados por José Sócrates para a concessão das garantias públicas aos bancos: "O que nós fizemos não foi para ajudar os bancos, foi assegurar que existe dinheiro nos bancos para servir a nossa economia e as famílias". Isso é tudo muito bonito, mas o BPP não fornece crédito a particulares nem a empresas. Se o banco não representa risco sistémico e não foi para ajudar a economia, resta saber por que razão o Governo avança com um garantia pública para salvar um banco no qual os próprios accionistas não quiseram apostar. Ninguém saberá, mas fica sempre a dúvida se não terá sido para garantir o apoio da poderosa e influente rede de clientes do BPP. Ainda duvida?

Os cúmplices

Daniel Oliveira, 01.12.08

No Expresso

Daniel Oliveira, 01.12.08
"Cada um acreditará ou não nas interessantes histórias de Dias Loureiro. Mas uma coisa é certa: o seu nome está no meio deste furacão. O seu e o de muitas figuras centrais da constelação cavaquista. O Presidente sabe disso e, muito legitimamente, enviou insistentes sinais de fumo a Loureiro. Ao nada discreto incómodo do Presidente, Loureiro respondeu com uma visita sem convite a Belém, colando ainda mais Cavaco Silva ao seu infortúnio. Nada a fazer: o Presidente, que se preparava para um fim de carreira sem sobressaltos, enfrenta agora os fantasmas do passado. Para desespero de Cavaco e do PSD, o cavaquismo voltou para o ensombrar. É a criatura a tentar regressar ao regaço do criador."

Ler e comentar aqui

Verde na bola

Daniel Oliveira, 01.12.08
Aproveitando o dia em que o Sporting finalmente voltou a vencer casa, deixo aqui as crónicas que publiquei, todas as sextas-feiras, desde do dia 3 de Outubro, na última página do Record. É só clicar no link em baixo. Estão por ordem de publicação.



Solidão na Luz
3 de Outubro

No princípio estava tudo bem. Apenas aquele incómodo de estar numa festa para a qual não fui convidado e onde não conheço ninguém. Só lá em baixo, os das claques, todos juntos, cercados por polícias. Estão melhor do que eu. Com eles, à distância, começo a trautear os cânticos que me fazem sentir em casa. Mas baixinho. Nas redondezas, apenas um casal de aliados, mesmo à minha frente, e uma mulher isolada numa família de lampiões. Troca de sorrisos cúmplices, mas discretos. Olho em volta. Mais ninguém.

Começa o jogo e a coisa agora é mais difícil. Como se insulta um árbitro quando todos os que nos rodeiam o aplaudem? E quando é ao contrario? Quase nos sentimos teimosos por resistir ao coro dos mais absurdos protestos. E quando o público faz a onda? Participo ou fico sentado? Eu sou dos que joga sempre em casa, nunca ninguém me ensinou a estar num estádio assim, nesta desoladora solidão. Nos momentos de optimismo, em vez de me levantar, como faço sempre, sopro uns grunhidos entre os dentes. Mas parece que estou preso à cadeira. Tem de vir um golo para eu soltar isto tudo. Ninguém me vai levar a mal. Ou provavelmente vai, mas aí nem penso nisso. Até que o golo vem, mas do lado errado. À minha volta um muro de pernas salta de alegria. Nunca imaginei que custasse tanto. E vem outro. Que humilhação, meu Deus! Que martírio! Saio do estádio sem dar parte fraca. É só mais um jogo e continuamos à frente. Do inimigo, sorrisos condescendentes. Agora já gostam de mim, claro. Inofensivo e derrotado, não é? Depois desta noite tenho de ir a Alvalade participar na humilhação tripeira. Voltar a estar entre amigos e gritar, agora aconchegado na massa humana: até os comemos!

O assobio do povo
10 Outubro de 2008

Tenho de fazer aqui uma confissão que me irá desqualificar como adepto aos olhos dos leitores. Não sei assobiar. Bem posso comprimir os lábios que tudo o que sai é um “fiiiiiu” humilhante. Bem posso meter dois dedos nos cantos da boca. O resultado são uns perdigotos na palma da mão. Para além de todas as dúvidas que esta limitação possa levantar sobre a minha masculinidade, ela transforma-me num peso morto numa bancada de um estádio. Um parasita do protesto alheio. Resta-me por isso o vernáculo. Mas o insulto, sejamos francos, limpando a alma, tem uma utilidade nula. É egoísta e sem qualquer eficácia comunicacional.

Outras culturas dão o devido valor ao assobio. Komaravolu Prasad, por exemplo, é um professor indiano que se tornou mundialmente famoso pelo profundo trabalho de formação nesta área. Dá aulas em escolas de música, já realizou mais de mil concertos e tem cinco discos gravados. Um exemplo.

Em Portugal parece que esta arte é, como tantas outras, desprezada. Paulo Bento pediu aos adeptos para não assobiarem. Miguel Veloso teve mesmo o descaramento de dizer que mais valia ficarmos em casa. Não faltava mais nada! Quando Lucílio Batista fingiu que não viu a segunda falta de Tomás Costa o que fez o público? Assobiou. De cada vez que Nuno foi até ao topo da bancada para ganhar balanço e tempo no pontapé de baliza, o que fez o sportinguista consciente das suas obrigações? Assobiou. Porque raio não deveria fazer o mesmo quando Grimi ficou a olhar para os pardais enquanto a baliza verde era desflorada pelos invasores? Ou quando Bento abdicou de Romagnoli em favor de Djaló? O assobio é a voz do povo, é o fórum TSF das bancadas. É a democracia directa em acção. Não gostam? Dediquem-se ao golfe. Aí só têm de agradar aos patrocinadores.

Megalomania
17 Outubro de 2008

Bem sei que a organização do Mundial de 2018 seria em conjunto com Espanha, o que demonstra que aprendemos alguma coisa com o passado. Bem sei que não teremos de construir mais estádios, o que é um alivio, porque tem de sobrar algum espaço para outras actividades económicas. Mas, dizem, teremos de aumentar a capacidade do Estádio do Algarve, engordando ainda mais o elefante branco.

Mesmo até quem, como eu, gosta de futebol, percebe que em tempos de crise tem de haver o mínimo de equilíbrio e prudência nos investimentos públicos. E não me venham dizer que o lucro é garantido. Nunca é e estes tempos não são para correr riscos. Organizar um Mundial não é só abrir as portas dos estádios. E estas promessas são ainda mais absurdas quando estamos perante uma crise internacional sem fim à vista. Recorde-se que, caso esta candidatura vencesse, Portugal seria um dos poucos países no Mundo a organizar, com um intervalo inferior a vinte anos, duas grandes competições – Euro, Mundial ou Jogos Olímpicos. Entraria para um clube de luxo: Estados Unidos, Itália, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, México e Coreia do Sul. Tirando o gigante mexicano, tudo potências económicas.

Mas isto era o que eu achava antes de ver o jogo com a Albânia. Aí percebi que o que sobra em megalomania nos gabinetes falta em ambição no campo. Até o Presidente da Federação preferiu cumprir os seus compromissos fisiológicos a ver o fim daquele triste espectáculo. Sim, talvez o nosso forte seja mesmo a organização de eventos. Pelo menos ficamos apurados sem a maçada de ter de jogar contra equipas que, sendo fracas, dão o litro.

Diego
24 Outubro de 2008

Estreia amanhã, no festival DocLisboa, “Maradona”, do realizador sérvio Emir Kusturica. Depois segue para as salas de cinema. Não é um filme sobre futebol. É sobre um Deus vivo, um activista político e um génio que viveu sempre à beira do abismo.

Não é o Deus das religiões monoteístas, perfeito e todo poderoso. É um Deus-homem, contraditório e impulsivo. E na Argentina é assim que é adorado: como um santo profano. Não é o pai de família exemplar. Mas os seus afectos arrebatados misturam-se com a culpa do cocainómano, em ascensão e queda permanente. Não é um político. É de uma ingenuidade desconcertante. Todas as suas vitórias no campo são desforras dos oprimidos. Grita, enquanto mergulha para a piscina da sua casa, “Viva Cuba!”, sem se aperceber da contradição. Num comício em Buenos Aires, ao lado de Evo Morales e Hugo Chávez, põe o povo em delírio só com a sua presença. Será apenas um troféu para líderes revolucionários? Talvez. Mas o minúsculo toxicodependente é, para os argentinos, um exemplo. Porque viveu sempre à flor da pele. Na vida, na política, no futebol.

O filme volta sempre ao golo do século, contra a Inglaterra, logo depois da “mão de Deus”, no Mundial de 86. Diz Maradona que a explosão daqueles sessenta metros veio da vontade de vingar os mortos da guerra das Malvinas. É improvável. Mas ficamos sem forças para duvidar quando vemos os seus golos impossíveis. Diego genial, activista, drogado, não são três. É apenas um. O anti-herói que representa, como ele próprio diz, sempre o mesmo papel: o da sua vida. E só quem viveu assim podia transformar o futebol numa arte universal.

Pouca tranquilidade
31 Outubro de 2008

No Liceu, tive uma professora de português que me deixou más memórias. Eça não a fazia sorrir, Camões não a fazia vibrar, Pessoa não a fazia pensar. Não tinha rasgo, não tinha eloquência, não tinha gosto. Julgava-se durona mas as aulas eram um caos. A minha professora não percebia nada de lideranças. Nem da sua, que não tinha, nem da de alguns alunos, que seriam a chave para levar a turma a bom porto. Mandava para rua ao sabor do desespero e da insegurança. Sem estratégia, a disciplina servia para impor o medo. Não sabia que só o respeito que merecesse poderia garantir a disciplina.

Bem sei que dirigir uns fedelhos que ganham mais num mês do que um português honesto consegue amealhar em muitos anos de trabalho, que se julgam merecedores de veneração universal e que engatam todas as miúdas que querem e até as que não querem não há de ser como obrigar trinta adolescentes a ler “Eurico, o Presbítero”. Mas alguém devia explicar a Paulo Bento o que nunca ninguém explicou à minha professora: pode pôr toda a equipa a ver o jogo na Bancada Norte e ficar com os coxos, o Rochemback e o seu dietista em campo. Mas duvido que ganhe o respeito de jogadores e adeptos com a purga. Jogos ainda menos. E nem a inevitável solidariedade dos dirigentes dá pontos ou faz o público regressar a Alvalade. Ainda por cima, estes putos custaram uma pipa de massa. Enquanto estiverem no banco são como acções em Wall Street em dia de pânico nos mercados. Das duas uma: ou Bento manda no balneário e consegue pôr os melhores jogadores a dar o litro ou dedica-se à horticultura. Foi o que fez Octávio Machado. Com vantagem para as cebolas e para o futebol.

Cheerleaders
7 Novembro de 2008

Na mesma noite, dois acontecimentos históricos: a América elege um presidente de excepção e o Sporting passa, pela primeira vez na sua história, aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. As duas festas misturaram-se na minha cabeça e quase que posso jurar que ouvi Derlei gritar “Yes, We Can” enquanto corria pelo relvado.

Nestes dias, ainda mais do que o habitual, vivemos os acontecimentos dos Estados Unidos como se tratasse do nosso país. Mas foi só um pouco mais do que o costume. No quotidiano, vivemos as suas tragédias e as suas alegrias como se fossem as nossas. Vemos os seus filmes, ouvimos as suas músicas, acompanhamos as suas séries, rimos com o seu humor. Vamos aos centros comerciais que decalcámos dos seus “malls”. Mas há uma excepção: o desporto mais popular do Mundo. Por lá, até os hispânicos passarem a ser uma parte significativa da população, o “soccer” era um desporto de elite, uma excentricidade. O povo com mais sentido do espectáculo deixou escapar este filão.

É por isso que fico boquiaberto com o que se passa no intervalo de cada jogo português. Umas raparigas com tanto pé para a dança como eu, com umas mini-saias brancas e uns pompons nas duas mãos, saltam ao som de uma música estridente. O espectáculo das cheerleaders nacionais é confrangedor porque está fora do contexto. Na única coisa em que os norte-americanos não existem conseguimos a proeza de importar os seus rituais. Eles hão-de ficar espantados com esta humilhação: no intervalo de um espectáculo em que somos melhores do que eles mostramos que preferimos ser uma cópia manhosa a um original de qualidade.

Não, não somos todos americanos. Mas gostávamos de ser.

Não subscrevo
14 Novembro de 2008

Discutir se cada um dos 14 amarelos e dos três vermelhos mostrados por Bruno Paixão ou se as quatro, cinco ou seis grandes penalidades que deixou passar prejudicaram mais o Sporting ou o FC Porto é descer ao nível da sua arbitragem.

Ninguém, no seu perfeito juízo, acredita que tanta incompetência resulta da vontade de querer beneficiar alguém. Que tenha recebido um Bom pela sua inacreditável prestação é apenas a prova da impunidade geral.

Sei duas coisas: que o Sporting jogou melhor e que foi o FC Porto que continuou na Taça. E que nem uma coisa nem outra resultaram da arbitragem. Paixão só estragou um espectáculo que estava a dar gosto ver. O pior em campo tornou-se no protagonista do que poderia ter sido um excelente jogo.

Dito isto, e mesmo tendo de respirar fundo para aguentar ouvir portistas falarem, com tantos esqueletos no armário, sobre arbitragens, preciso de traçar aqui uma fronteira. Disse Paulo Bento: “Aos três que vêm arbitrar, se tivermos de criar mau ambiente não tem problema nenhum, porque é o que merecem.”

Ouvi, na RTP, Rui Oliveira e Costa garantir que todos os sportinguistas subscreviam estas palavras. E continuou: o Sporting aburguesou-se, o seu túnel não mete medo. Uma coisa é compreender que no calor de fim de jogo alguém diga uma barbaridade. Outra é subscrevê-la. Não, não quero mau ambiente em Alvalade. Não quero um guarda Abel ou a voz de um dirigente do meu clube nas escutas do Apito Dourado.

Quero ver o Sporting a fazer qualquer coisa para que isto mude. Comentários incendiários sobre arbitragens avulsas podem entusiasmar a claque, mas não fazem nada pelo futebol ou pelo Sporting.

No Name
21 Novembro de 2008

Tirando ocupar uns lugares quando os jogos estão vazios, coisa que umas bonecas insufláveis fariam com menor prejuízo, não encontro nenhuma vantagem na existência de claques. Elas são uma das principais fontes de conflito nos estádios, criam um ambiente pesado e violento e afastam as famílias. A sua postura bélica exibe o pior do fanatismo desportivo. Mais grave: no meio de jovens pacíficos que apenas querem pertencer a alguma coisa misturam-se, protegidos pelo anonimato da multidão, todo o tipo de criminosos. Incluindo grupos racistas e neo-nazis que ali arrebanham militantes. É para mim insuportável ver nos estádios a simbologia do que de pior a humanidade produziu, de que as bandeiras dos No Name Boys são apenas um exemplo.

Não faço disto campo de batalha entre clubes. Esta miserável manifestação da imbecilidade humana pode ser encontrada no Benfica, no Sporting e no Porto. Claro que há claques normais, nos três grandes e nos outros clubes. Mas elas não compensam as cenas de violência, a plataforma para delinquência organizada e o ambiente de trincheira.

Compreendo que os clubes prefiram enquadrar e regulamentar a deixar esta gente à solta. Se não o fizessem, teríamos o fenómeno dos No Name generalizado. Mas quando vemos, como vimos há uns anos, membros dos Super Dragões a escoltar Pinto da Costa na chegada a um tribunal, a conhecida e tolerada ligação de movimentos neo-nazis a algumas claques do Sporting e o Benfica a deixar claques clandestinas funcionarem como se fossem legais percebemos que o problema ultrapassa meia dúzia de jovens excitados. Que as direcções dos clubes são coniventes com a selvajaria.

A preto e branco
28 Novembro de 2008

O pior, depois de uma derrota marcante, é aturar a piadinha no café, no trabalho ou entre amigos. E para os sportinguistas que vivem em Lisboa, a piadinha vem, invariavelmente, do lampião ressentido. Apesar de o Sporting ter perdido com uma das melhores equipas do Mundo num jogo a feijões e de já ter passado à segunda fase da Liga dos Campeões, e de o Benfica ter levado um banho na luta por uns pontinhos para poder sonhar com uma “taça intercalar” europeia, nada disto vale coisa alguma. O lampião não se intimida com a realidade, que foi ontem tão expressiva.

De cada vez que um sportinguista ou um portista se anima com um feito da sua equipa, o benfiquista tem resposta pronta e ela está isenta de qualquer relação com a actualidade: foram aos oitavos-de-final da Champions? Grande coisa! Nós, em 61, ganhámos a Taça dos Campeões ao Barça e no ano seguinte fomos bicampeões. Alguém foi tricampeão nacional? Coisa extraordinária! Nós, em 38, em 65, em 69, em 73, em 77... Sabem as estatísticas e são especialistas em cronologias.

O benfiquista é o veterano da Grande Guerra. Falamos do Iraque ou do Afeganistão e ele, com voz trémula e comovida, recorda os seus tempos nas trincheiras de La Lys. O benfiquista é o alfarrabista da bola, o arqueólogo do relvado. Com raras excepções, todos os seus grandes momentos estão registados a preto e branco. Esgotadas as metáforas, fica o resumo: a altivez do benfiquista, condenado a ser humilhado pelos gregos, vive das glórias passadas. A sua famosa mística está no museu do clube.

Para não parecer rancoroso, ficam aqui os meus parabéns pela vitória, fora de casa, frente ao Olympiacos. A de 1973, claro

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