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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A sua medida

Daniel Oliveira, 30.12.08
Acontecem muitas coisas graves neste país e no Mundo. Um político mede-se pelas batalhas que decide ter como prioritárias. Cavaco falou duas vezes ao país pela televisão. As duas sobre o mesmo assunto e o assunto não foi a crise económica ou crise de confiança nas instituições políticas e financeiras. Para Cavaco, é o peso simbólico do seu estatuto o centro de todas as preocupações. Cavaco tem, então, a dimensão de Cavaco. Nem mais um centímetro.

No Expresso

Daniel Oliveira, 30.12.08
É verdade que a Igreja se preocupa com a miséria e ajuda muita gente. Mas não se assusta com ela porque ela não põe em causa o seu poder. É o conforto, que traz com ele a autonomia e a escolha, que o Papa teme. Por isso escolheu a Europa como seu campo de batalha.

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A campanha eleitoral continua em Israel

Daniel Oliveira, 30.12.08
Os mortos em Gaza já vão em 364. Metade do Mundo pede a Israel que pare a carnificina. Não parará. Porque o governo israelita sabe que o Mundo nada fará.

Em Tel Aviv, confundindo aqueles que usam, como forma de impedir qualquer debate, a repugnante acusação de anti-semitismo contra todos os que se atrevam a criticar qualquer ataque do governo israelita, um milhar de israelitas manifestaram-se contra a barbárie. São poucos, mas gente que tem a coragem de remar contra a maré.


"This massive destruction of Palestinian life will not protect the citizens of Israel. It is illegal and immoral and should be condemned in the strongest possible terms. And it threatens to ignite the West Bank and add flames to the other fires burning in the Middle East and beyond for years to come.

The timing of this attack, during the waning days of a US administration that has undertaken a catastrophic policy toward the Middle East and during the run-up to an Israeli election, suggests an opportunistic agenda for short-term political gain at an immense cost in Palestinian lives. In the long run this policy will benefit no-one except those who always profit from war and exploitation. Only a just and lasting peace, achieved through a negotiated agreement, can provide both Palestinians and Israelis the security they want and deserve."
Jewish Voice for Peace

Prémios Arrastão para os melhores blogues e bloggers de 2008

Arrastão, 29.12.08


O júri do Arrastão, composto pelos seus três escribas, escolheu os melhores blogues de 2008. Aqui ficam.

MELHORES BLOGGERS


João Rodrigues, do Ladrões de BicicletasGabriel Silva, do Blasfémiasmaradona, do A Causa Foi ModificadaRogério Casanova, do Pastoral Portuguesa

MELHOR BLOGUE DE ESQUERDA

Ladrões de Bicicletas

MELHOR BLOGUE DE DIREITA


Blasfémias

MELHOR BLOGUE DE CULTURA


Bibliotecário de Babel

MELHOR BLOGUE DE DESPORTO


A Dieta Rochemback


MELHOR BLOGUE REGIONALAvenida Central


MELHORES BLOGUES ESCONDIDOS


Auto-Retrato, Notas ao Café e Pastoral Portuguesa.

Eles sim, eram iguais

Daniel Oliveira, 29.12.08



A Orquestra Sinfónica West-Eastern Divan, constituída por músicos egípcios, israelitas, jordanos, palestinianos. Um projecto de Edward Said e Daniel Barenboim. Não, não eram neutrais. Sabiam os dois que no conflito de que hoje falamos não estavam todos em igualdade de circunstâncias. Tomaram os dois o mesmo lado, por uma questão de justiça. Procurar a paz não exige cegueira. Exige sentido de justiça. Mas também sabiam que tomar partido não é entrar na espiral do ódio. E que a paz se faz com pontes, não com demissões.
Via 5 Dias

Ir às fontes

Pedro Sales, 29.12.08
Enquanto os habituais guerreiros de sofá lusos salivam com a ofensiva militar israelita em Gaza, vale a pena ver o que se escrevendo no mais conceituado jornal israelita.

A million and a half human beings, most of them downcast and desperate refugees, live in the conditions of a giant jail, fertile ground for another round of bloodletting. The fact that Hamas may have gone too far with its rockets is not the justification of the Israeli policy for the past few decades, for which it justly merits an Iraqi shoe to the face. Yossi Sarid, Haaretz.

"What began yesterday in Gaza is a war crime and the foolishness of a country. History's bitter irony: A government that went to a futile war two months after its establishment - today nearly everyone acknowledges as much - embarks on another doomed war two months before the end of its term. (...) Israel did not exhaust the diplomatic processes before embarking yesterday on another dreadful campaign of killing and ruin. The Qassams that rained down on the communities near Gaza turned intolerable, even though they did not sow death. But the response to them needs to be fundamentally different: diplomatic efforts to restore the cease-fire - the same one that was initially breached, one should remember, by Israel when it unnecessarily bombed a tunnel - and then, if those efforts fail, a measured, gradual military response. But no. It's all or nothing. The IDF launched a war yesterday whose end, as usual, is hoping someone watches over us".  Gideon Levy, Haaretz.

Israel's violation of the lull in November expedited the deterioration that gave birth to the war of yesterday. But even if this continues for many days and even weeks, it will end in an agreement, or at least an understanding similar to that reached last June. Hamas' terms for calm have not changed: a cessation of the attacks on Gaza and the organization's activities in the West Bank, a reopening of the Gaza border crossings, and a release of Palestinian prisoners. Israel's demands will also remain as they were: a halt to rocket attacks on its towns. Editorial do Haaretz.

Não, não é tudo igual

Pedro Sales, 29.12.08

Fotografia: Mohammed Abed/Agence France-Presse — Getty Images


Uma breve passagem pela imprensa e blogosfera nacional dá para perceber o estranho consenso que se tem levantado sobre a ofensiva israelita que já matou mais de 300 palestinianos. Não existem "bons" nem "maus" em nenhum conflito e as culpas têm que ser repartidas sem nos esquecermos, nunca, que Israel é uma democracia que procura um interlocutor credível do lado palestiniano e só encontra o Hamas, uma organização terrorista.
Este argumento desfaz-se a si próprio. Desde quando é que uma democracia encontra o crivo legitimador do uso indiscriminado do seu poderio militar na natureza também indiscriminada dos ataques de uma organização que classifica como terrorista? Acreditar que esta acção pretende decapitar o Hamas, supostamente para permitir o aparecimento de uma linha moderada e credível dos vizinhos das vítimas e dos escombros de Gaza, desafia não só todas as regras da lógica como a própria natureza humana. Como se da humilhação e revolta nascesse outro sentimento que não a sede de vingança. Um desejo de retaliação que não começa com a desproporção do ataque e dos meios militares em presença, mas com as indignas condições em que um milhão e meio de palestinianos, enclausurados num palmo de terra, luta para sobreviver a um violento estrangulamento económico.

Pode ser verdade que, entre a corrupção endémica da autoridade palestiniana e o fanatismo radical do Hamas, Israel não tenha hoje interlocutores credíveis na região, mas não é menos certo que Israel é o principal responsável por que se tivesse chegado a este ponto. Vale a pena lembrar que foi em nome da emergência de uma liderança mais responsável que o exército israelita cercou Arafat e a Fatah em Ramala. As eleições legitimaram, como seria de esperar, os mais entre os duros e fragilizaram os moderados. Depois veio o muro, a sistemática recusa em aceitar um território palestiniano que não seja um pontilhado de terrenos sem comunicação entre si, a retenção do dinheiro dos impostos palestinianos e um bloqueio que tem mergulhado Gaza na miséria mais abjecta. Tentar que alguém acredite que, a partir deste caldo de opressão económica e quotidiana humilhação, possa emergir uma linha moderada disposta a negociar é o mais risível dos argumentos. De resto, a posição que Abbas tem tido em todo este conflito - concentrando-se mais na luta interna entre os palestinianos do que no sofrimento dos seus compatriotas em Gaza - só o fragiliza ainda mais aos olhos dos palestinianos que o encaram como um traidor. Ao mesmo tempo que diz defender a paz, Israel tudo fez para criar as bases uma liderança palestiana fraca. Como tem a obrigação de saber, não se faz a paz entre os fracos.

Que o recurso a esta demonstração musculada de poderio militar aconteça menos de dois meses antes das eleições - nas quais todas as sondagens apontam a mais que previsível derrota do partido no governo para os falcões do Likud - prova bem como não é só o Hamas que não tem nenhum interesse no diálogo. Daqui a uns dias, como aconteceu no Líbano, as tropas israelitas regressarão, deixando atrás de si um pesado rasto de mortes e mais uns quantos milhares de palestinianos dispostos a trocar a sua vida pela de um qualquer israelita que vá apanhar o autocarro ao sair de casa. E todas as opções políticas para este eterno conflito ficarão um pouco mais distantes. A insensatez continua. Como tem sido apanágio da última década.