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Eu posso, como cidadão, perguntar ao ex-ministro José Sócrates, independentemente dele ser arguido, suspeito ou coisa nenhuma, porque licenciou determinado projecto de determinada maneira. E ele tem obrigação de me responder, porque o fez no exercício de um cargo público. Se estivermos a falar de um crime, suspeita de crime ou boato infundado de crime do domínio pessoal, as respostas só têm e só devem ser dadas perante as autoridades judiciais. Porque, sendo a pessoa inocente, não a podemos obrigar a abrir a sua vida para a opinião pública.
Já nem falo das consequências de uma e de outra suspeita para o que de mais pessoal há na vida de cada um. São casos de natureza diferente e que tiveram contornos em nada comparáveis. Foi, aliás, a sua excepcionalidade e brutalidade que chocou tantas pessoas tão distantes do PS e dos seus direigentes. A utilização do caso Casa Pia para falar de um caso que se refere a actos político-administrativos, pode ser tentador para avivar a histeria. Mas é péssima ideia.
Comparar com o boato lançado, de forma bastante tosca, diga-se em abono da verdade, sobre a suposta homossexualidade de Sócrates é ainda mais absurdo. Primeiro, porque mesmo que fosse verdadeira, a homossexualidade não é crime. Depois, porque ninguém tem nada a ver com a vida íntima do primeiro-ministro. Mas toda a gente tem a ver com os licenciamentos feitos pelo ministério do Ambiente. E eu quero que o ex-ministro do ambiente me dê mais esclarecimentos sobre uma decisão do governo da república. Não estou esclarecido e nem as comparações mais absurdas (que têm qualquer coisa de chantagem) me vão impedir de exigir aquilo a que como cidadão tenho direito.
Recordo o que aqui escrevi quando foi o caso da licenciatura, limitando as únicas coisas que eram politicamente relevantes. No caso Freeport, pelo contrário, tudo é politicamente relevante. Porque é de uma decisão política de um detentor de um cargo político que estamos a falar. Por isso, tudo é do dominio do debate público. É assim nas sociedades democráticas.