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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Não deixe que a verdade estrague uma boa história

Pedro Sales, 01.05.09


Retomando o tema de um artigo ontem publicado por Helena Matos, José Manuel Fernandes  (sem link) volta hoje a defender que, graças ao Bloco de Esquerda, as “touradas passaram a ser proibidas” em Sintra. Onde Helena Matos aproveitou para fazer um analogia com o sofrimento nos aviários, José Manuel Fernandes argumenta que o partido deveria defender idêntica proibição na única câmara municipal que governa - Salvaterra de Magos.

O que é curioso, no meio disto tudo, é perceber que nem o director do Público, nem uma das suas mais antigas colunistas, se dão ao trabalho de ler o jornal que lhes paga. Se o fizessem, teriam reparado que não existe proibição alguma, mas apenas um regulamento - que ainda tem que ser aprovado pela Câmara Municipal para entrar em vigor - segundo o qual "o apoio institucional ou a cedência de recursos, por parte da autarquia, para a realização de espectáculos com animais fica condicionada pela não existência de actos que inflijam sofrimento físico ou psíquico, lesionem ou provoquem a morte do animal". Entre uma autarquia não apoiar uma tourada e a sua proibição vai, digamos, a distância que decorre entre uma normal peça jornalística, obrigada a deveres de rigor e informação, e o editorial hoje assinado pelo administrador do Público.

A partir daqui não é muito difícil perceber que a referência a Salvaterra é tão disparatada como tudo o que o precede. Se, em vez de se perder em piadolas de terceira categoria sobre o Bloco de Esquerda, José Manuel Fernandes se informasse antes de escrever, rapidamente chegaria à conclusão que, mesmo sem regulamento como o de Sintra, as touradas que se realizam em Salvaterra já não dispõem do “apoio institucional ou a cedência de recursos” da autarquia. Elas decorrem na praça da Santa Casa da Misericórdia e, veja-se lá, até a grande corrida citada no editorial não apresenta o símbolo da câmara. A razão é simples. É possível realizar espectáculos em Portugal, e até existir aviários, sem o apoio das autarquias.

José Manuel Fernandes perdeu mais uma boa oportunidade para continuar enredado no twittwer, onde passa as intermináveis horas que lhe faltam para se informar sobre o que escreve. Talvez, quem sabe, comece a ler o jornal que supostamente dirige.

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