Sobre a não publicação no JN deste artigo de Mário Crespo:1- Sou contra a divulgação de conversas privadas, mesmo que tenham acontecido num restaurante. Foi esta a minha posição quando o
Independente revelou as conversas de Sousa Franco. Não mudou.
2 - Um jornal é criminalmente e civilmente solidário com o que um colunista decide escrever. Pode, por isso, decidir não publicar um texto. Tal decisão é no entanto de uma enorme gravidade e deve ser muito ponderada.
3 - A decisão deve corresponder a uma linha editorial do jornal que não tenha sido antes violada. Não se pode exigir a um colunista o que não se exige à própria casa. Pode o JN dizer que nunca prevaricou nesta matéria (conversas privadas ou, por exemplo, publicação do conteúdo de cartas anónimas)? Não, não pode.
4 - Tendo sido referido na conversa privada em causa, Crespo é parte interessada e tem, como colunista, legitimidade para a divulgar.
5 - Não tendo assistido à conversa, a divulgação do seu conteúdo, que lhe chegou por terceiros, é arriscada e é natural que o jornal pondere esse risco. O próprio Mário Crespo, sendo jornalista, deve ser sensível ao facto de estar a divulgar uma conversa privada que lhe chegou em segunda mão sem que os envolvidos fossem ouvidos. Cabia ao jornal alertar o colunista para essa questão (como o
fez) e esperar pela sua decisão.
6 - Ainda assim, sendo a conversa sobre Mário Crespo, também a decisão da direcção do JN de não publicar o artigo é excessiva e, mesmo perante dúvidas, a sua publicação deveria ser o desfecho final pelo qual apenas Mário Crespo poderia ser moralmente responsabilizado caso essa conversa se revelasse falsa. No seu artigo, Crespo tem o cuidado de referir que foram várias as suas fontes. Seria normal que o JN confiasse nelas, mesmo mantendo-se a questão do contraditório, coisa que o próprio jornal poderia ter resolvido no dia seguinte ou no próprio dia, em trabalho à parte.
7 - Interessava saber quem é o "executivo de televisão" referido no artigo. Quando se fazem acusações dá-se nome a toda a gente e não apenas a quem não é do meio. Uma questão de coerência que falhou a Mário Crespo.
8 - O facto dos problemas surgirem sempre com os mais críticos do governo levanta fortes suspeitas (eufemismo) sobre quem decide o quê e porquê.