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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Um retrato da insensibilidade

Daniel Oliveira, 30.04.10
O governo vai cortar no subsídio de desemprego sem fazer a mínima ideia de que efeito isso terá no orçamento. Quando custa aos outros é fácil ser ligeiro. Já percebemos: os desempregados são o cordeiro a sacrificar perante a ira do Deus Mercado. Sócrates diz que a medida é justa. Porque "há pessoas no desemprego que precisam de ter o incentivo certo para trabalhar". Ao pé deste rapaz, Paulo Portas já é de esquerda.

Fica provado que não se deve pagar bem aos trabalhadores. Eles não sabem gastar.

Daniel Oliveira, 30.04.10
"A Manif do 1º de Maio custa 80 mil euros", diz o Expresso (notícia da Lusa). Dinheiro ques os trabalhadores sindicalizados  acham, extraordinariamente, mais útil gastar com a sua luta e com os seus interesses do que noutras coisas. Gente sem gosto, está bem de ver. Aquilo em prémios para António Mexia seria muito mais bem empregue.

É o crescimento, estúpido!

Daniel Oliveira, 30.04.10
O que está a dar é a conversa de merceeiro. E a coisa foi promovida a ciência económica. Enquanto por esse mundo fora, da Economist ao Finacial Times, de Paul Krugman e George Soros, se fala da cegueira da Alemanha e de como o euro se tem de defender de uma ofensiva especulativa, por cá repete-se até à náusea que não podemos viver acima das nossas possibilidades, como se a maioria dos portugueses não vivesse bem abaixo do que seria admissível.

O problema é a dívida, diz-se. Uma notícia: está longe de ser a maior da Europa. A belga está 21 pontos percentuais acima da nossa e a estabilidade não é a mensagem que tem sido enviada para o exterior - estão mais uma vez sem governo. Estão o sofrer o mesmo ataque que nós? Não. A de Itália está 29 pontos percentuais acima da nossa e eles lá se safam.

Os nossos problemas são dois: sermos uma economia periférica e por isso fácil de atacar para atacar o euro - os especuladores sabem que a irresponsabilidade da senhora Merkel pode deixar-nos cair - e uma economia estagnada há anos. O nosso problema é a dívida, mas apenas porque não crescermos. Qualquer solução que se concentre apenas na dívida e esqueça o crescimento só servirá para nos enterrar ainda mais.

Para resolver o problema são necessárias políticas de Estado que favoreçam o crescimento. Como a crise não é apenas nossa as exportações não chegam. Como temos o défice que temos não é possível baixar muito os impostos. Resta-nos alimentar o mercado interno através do investimento público. Quem nos diga que temos de crescer e investir menos está a brincar com as palavras.

As obras públicas são fundamentais. O debate que vale a pena fazer é se estamos a apostar nas obras certas. Se estas são reprodutivas. Por mim, prefiria investimento na reabilitação de equipamentos públicos e dos centros urbanos do que grandes obras públicas que são pouco descentralizadas e não têm qualquer efeito nas pequenas e médias empresas, que são o motor da nossa economia e as que mais emprego criam, aliviando assim as despesas sociais. Resumindo: se cortarmos no aeroporto e no TGV eles terão de ser para o substituidos por outros investimentos.

Se a solução for apenas a de cortar cegamente para os mercados verem o sangue que exigem as receitas fiscais vão ressentir-se ainda mais (é por isso mesmo que o nosso défice aumentou) e não cresceremos. E se não crescermos ninguém sabe bem como pagaremos a dívida. E os mercados pedirão ainda mais sangue. Até morrermos da cura.

Publicado no Expresso Online

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Daniel Oliveira, 29.04.10
Pensar que, havendo, como diz George Soros (e se ele sabe do que fala...), um ataque especulativo ao euro, as nossas acrobacias orçamentais acalmarão os mercados é de uma ingenuidade enternecedora. Ou é apenas fazer passar a agenda às cavalitas da crise. Recordo que a aprovação do PEC iria melhorar a coisa. A coisa piorou. A aprovação em Bruxelas iria melhorar a coisa. A coisa piorou. A solução está na Europa, estúpidos!

Falemos de credibilidade e de independência

Daniel Oliveira, 29.04.10

E se saíssemos do euro?

Daniel Oliveira, 29.04.10
A pergunta é uma provocação. Serve apenas para tentar que se perceba que o nosso problema não é apenas a dívida. E que ou discutimos a Europa ou estamos a perder o nosso tempo

O euro é uma moeda forte. E isso, sendo excelente para as importações, é trágico para as exportações de um país sem grandes argumentos competitivos. E isso é mau para as nossas melhores empresas e para o nosso crescimento. Na verdade, se não estivéssemos no euro é provável que fosse mais fácil responder à crise. Quer com os instrumentos monetários tradicionais, quer com as vantagens de uma moeda mais fraca. Por fim, é uma moeda cega às necessidades das periferias.

Quando entrámos para o euro ele apresentava uma vantagem: a integração plena no espaço económico europeu. Mas havia uma condição: a solidariedade absoluta dentro deste espaço. Nenhum país frágil pode ter uma moeda forte e que não controla, um mercado escancarado e, ao mesmo tempo, ser deixado à deriva quando os ataques especulativos acontecem.

Se os "pigs" (os países do Sul), que, graças aos preconceitos dos mercados (os mercados não são racionais - são compostos de pessoas com as mesmas dificuldades de percepção que todas as outras), servem de carne para canhão quando as coisas apertam o melhor que têm a fazer é sair do euro.

Por isso, repito a pergunta: e se saíssemos do euro? Parece uma tragédia. Provavelmente seria e por isso não o defendo. Mas se é para termos os prejuízos de uma moeda forte, os riscos de um mercado aberto e a fragilidade da nossa pequenez, mais vale sermos nós a decidir o nosso futuro. Se é para servirmos de alvo aos ataque ao euro mais vale voltarmos à estaca zero.

Por agora, só posso concluir uma coisa: a Europa está a falhar em toda a linha. E o seu coveiro tem um nome: Angela Merkel. Por causa de umas eleições regionais tem andando aos ziguezagues. No jogo da especulação, ninguém aposta o seu dinheiro num cavalo com vitória segura. Ninguém aposta num cavalo com derrota segura. É a instabilidade e a incerteza, que o comportamento da Alemanha em relação à Grécia alimentou, que cria o caldo para esta ofensiva especulativa. Se isto continua o euro é um péssimo negócio para os países periféricos. E a provocação que aqui faço deve passar a ser para levar a sério.

Publicado no Expresso Online.

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