É difícil acreditar que tenha sido um bom negócio o abandono da Vivo, que a PT dominava e que tinha um extraordinário potencial de crescimento no que realmente conta - o móvel -, e a entrada, em posição minoritária, na OI, que se dedica sobretudo à rede fixa. A PT vai ter menos de menos, apenas isso. O bom negócio seria outro: 7,5 mil milhões de euros. Mas nem isso, já que é pouca a diferença em relação à oferta de há 15 dias.
Sempre considerei a "golden share" um expediente. Repito mais uma vez: o Estado que quer mandar numa empresa não a privatiza. Mas existindo, compreendi a sua utilização na condição de ter como objectivo defender um interesse nacional. No caso, argumentava-se, era importante uma empresa estratégica portuguesa ter o controlo de uma empresa com o extraordinário potencial da Vivo num país em crescimento acelerado. Sobretudo na situação em que nos encontramos.
Como muitos diziam, mas precisávamos de esperar para ver, serviu apenas para aumentar (pouco) o preço. Acontece que a "golden share" não serve para defender os interesses dos accionistas. Para isso estão lá eles, que sabem tratar de si. Serve para defender os interesses nacionais numa empresa que foi privatizada com esta limitação. Se a participação na Vivo correspondia a um interesse nacional, acharia muito bem que a "golden share" fosse usada. Se serve como arma secreta para os accionistas privados inflacionarem um pouco o preço do que vendem é apenas batota. E se serve para inflacionar em pouco mais de 300 milhões de euros é batota barata.
Sócrates disse: "valeu a pena ter resistido às pressões dos mercados financeiros e dos interesses mais imediatistas". Partindo do princípio que fala em nome do País e não dos accionistas, fica a pergunta: valeu a pena para quem? Para os accionistas? E o que é que nós temos a ver com isso? É que o interesse nacional era outra coisa: a presença de Portugal, através de uma empresa estratégica, numa poderosa empresa brasileira com muito potencial de crescimento. E essa foi-se.
Exactamente ao contrário do que Sócrates diz, os interesses imediatistas foram mais fortes. A única diferença é que conseguiram um pouco mais de dinheiro do que esperavam. Porque, como disse Ricardo Salgado, "só a honra não tem preço" (o que todos duvidamos). Não por acaso, o CEO da PT não estava histérico de alegria e já mostrava nostalgia por o que tinha perdido. Porque nem sempre o que é bom para os accionistas (que estão tantas vezes apenas de passagem) é bom para a empresa. E para o País muito menos.
Tem razão o PSD: o governo mudou de posição. Mas nisso, nada de novo. Não passa um dia sem que o governo mude de posição sobre qualquer coisa.
Publicado no Expresso Online