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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Let's Go Surfing/The Drums

Sérgio Lavos, 31.07.10


Nunca se deve menosprezar o poder do assobio (esqueçamos os Scorpions) numa música pop, principalmente quando ela fala de praia, sol e miúdas. Os coros uma oitava acima e as harmonias vocais também costumam resultar - os Beach Boys deixaram uma lição valiosa. Junte-se a estes pressupostos a natureza passageira do Verão e já se pode ter uma boa canção. E se houver uma fixação pelos sons da new wave, versão anos 80, principalmente a facção Joy Division/New Order, sendo que aos primeiros pode-se ir buscar a bateria minimalista e a guitarra limitada de Bernard Sumner (os Cure também andam por aqui) e aos segundos a leveza vocal que estava ausente dos primeiros (a morte de Ian Curtis permitiu essa evolução), temos material mais do que suficiente para um feel good hit of the summer. Há uns anos foram os Peter, Bjorn and John (imediatamente seguidos de David Fonseca), agora há The Drums, com um álbum (Summertime! é o EP de 2009 que também inclui esta faixa) entre a nostalgia urbano-depressiva e a euforia do som de Brooklyn, versão Vampire Weekend e LCD Soundsystem, com passagem pela pop dos 80 (a minha década preferida), de Housemartins a Jesus and Mary Chain. E os Beach Boys sempre a espreitar. Combinação que primeiro se estranha, mas depois entranha-se, e bem. Durará o que durar esta estação. E já é muito.

Façam o favor de continuar a fazer as vossas propostas a este País ansioso por se libertar do jugo do Estado Social

Daniel Oliveira, 30.07.10

Até os relógios parados acertam duas vezes nas horas todos os dias

Pedro Sales, 30.07.10

Quando querem podem

Daniel Oliveira, 30.07.10
Ontem chamei aqui à atenção para aquilo que me parece uma perversão das funções do Estado. Sobre o negócio, um dado novo: o governo brasileiro pode dar garantias de crescimento da OI.

A minha conclusão é simples: em vez de garantir os respectivos interesses nacionais os governos portam-se como meros parceiros empresariais. Não é exactamente a mesma coisa. Mas compreende-se: a privatização de empresas estratégicas baralhou todo o papel dos Estados. Eles continuam, como é evidente, a ser necessários para as empresas nacionais. Apenas têm uma relação mais promíscua com o mundo empresarial do que quando está garantida a clareza da posse pública de uma empresa. E isso não é bom.

No entanto, e apesar do que aqui escrevo, não quero deixar de recordar o que foi dito nos últimos quinze dias pela nossa direita liberal-utópica. Que o Mundo estava a olhar, perplexo, para esta república soviética onde o Estado se mete na economia. Que revelava "um País próximo do subdesenvolvimento económico" . Afinal o Mundo estava a olhar com a mesma naturalidade com que olha para operações semelhantes nos seus países. Da próxima vez que alguns oráculos da Nação vos falarem da excepcionalidade portuguesa, é bom darem o devido desconto. Que os mercados iam reagir e isso ia ser o toque de finados da PT. Ela cá anda, sem ter sido beliscada. Que a Telefónica ia fazer uma OPA à PT e estaríamos tramados. Não fez. Não estamos. Que a Europa ia cair em cima de Portugal sem dó nem piedade. Não caiu.

Não me agrada o desfecho desta história, pelas razões que expliquei ontem. Mas não deixo de lembrar como o discurso tremendista da direita liberal vive mais das suas fábulas ideológicas do que da realidade. Na realidade, os Estados, todos eles, continuam a ser centrais em todas as economias. Tenho pena que não o sejam quando se trata de defender o interesse público e a justiça social. Quando se trata de aumentar os lucros dos accionistas de uma empresa eles lá estão, corajosos e arriscando tudo. Fica evidente que a demissão a que se entregam noutros domínios não é uma inevitabilidade. É uma escolha. O Mundo não está assim tão diferente. Os nossos governos é que não querem usar o seu poder para o bem comum.

Texto publicado no Expresso Online.

Afinal é possível

Bruno Sena Martins, 29.07.10
"O Parlamento da Catalunha decidiu ontem proibir as touradas a partir de Janeiro de 2012. Por 68 votos a favor, 55 contra e nove abstenções os deputados catalães aboliram as corridas de touros, culminando um processo iniciado em 11 de Novembro de 2008 quando o hemiciclo regional autorizou a tramitação de uma Iniciativa Legislativa Popular sustentada num abaixo-assinado com 180 mil assinaturas." Público

Batota barata

Daniel Oliveira, 29.07.10
É difícil acreditar que tenha sido um bom negócio o abandono da Vivo, que a PT dominava e que tinha um extraordinário potencial de crescimento no que realmente conta - o móvel -, e a entrada, em posição minoritária, na OI, que se dedica sobretudo à rede fixa. A PT vai ter menos de menos, apenas isso. O bom negócio seria outro: 7,5 mil milhões de euros. Mas nem isso, já que é pouca a diferença em relação à oferta de há 15 dias.

Sempre considerei a "golden share" um expediente. Repito mais uma vez: o Estado que quer mandar numa empresa não a privatiza. Mas existindo, compreendi a sua utilização na condição de ter como objectivo defender um interesse nacional. No caso, argumentava-se, era importante uma empresa estratégica portuguesa ter o controlo de uma empresa com o extraordinário potencial da Vivo num país em crescimento acelerado. Sobretudo na situação em que nos encontramos.

Como muitos diziam, mas precisávamos de esperar para ver, serviu apenas para aumentar (pouco) o preço. Acontece que a "golden share" não serve para defender os interesses dos accionistas. Para isso estão lá eles, que sabem tratar de si. Serve para defender os interesses nacionais numa empresa que foi privatizada com esta limitação. Se a participação na Vivo correspondia a um interesse nacional, acharia muito bem que a "golden share" fosse usada. Se serve como arma secreta para os accionistas privados inflacionarem um pouco o preço do que vendem é apenas batota. E se serve para inflacionar em pouco mais de 300 milhões de euros é batota barata.

Sócrates disse: "valeu a pena ter resistido às pressões dos mercados financeiros e dos interesses mais imediatistas". Partindo do princípio que fala em nome do País e não dos accionistas, fica a pergunta: valeu a pena para quem? Para os accionistas? E o que é que nós temos a ver com isso? É que o interesse nacional era outra coisa: a presença de Portugal, através de uma empresa estratégica, numa poderosa empresa brasileira com muito potencial de crescimento. E essa foi-se.

Exactamente ao contrário do que Sócrates diz, os interesses imediatistas foram mais fortes. A única diferença é que conseguiram um pouco mais de dinheiro do que esperavam. Porque, como disse Ricardo Salgado, "só a honra não tem preço" (o que todos duvidamos). Não por acaso, o CEO da PT não estava histérico de alegria e já mostrava nostalgia por o que tinha perdido. Porque nem sempre o que é bom para os accionistas (que estão tantas vezes apenas de passagem) é bom para a empresa. E para o País muito menos.

Tem razão o PSD: o governo mudou de posição. Mas nisso, nada de novo. Não passa um dia sem que o governo mude de posição sobre qualquer coisa.

Publicado no Expresso Online

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