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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O PS perdeu o S e ninguém diz nada?

João Rodrigues, 30.09.10

“É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas duríssimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.”

Ana Gomes
Os socialistas sem aspas que se unirem, neste contexto, em torno de Sócrates terão abandonado, na prática, qualquer referência socialista. É aí que conta. Às vezes é simples. Passarão a ser outra coisa qualquer, socialistas é que não. Os socialistas, quando a coisa aperta, não podem ser contra a austeridade, ir a manifestações em Bruxelas, escrever coisas destas e faltar às manifestações que se seguirão em Lisboa. A austeridade leva à recessão, a mais desemprego e à continuada destruição do Estado-Providência. E não resolve nenhum problema financeiro. O que resta do património social-democrata depois de tudo ter sido escavacado? As reformas progressistas europeias e nacionais, de que precisamos para sair da crise, não virão sem luta social e política em todas as escalas, contra estes governos e contra o Consenso de Bruxelas. Os medíocres social-democratas das vias da moda, os que apoiaram todas as regras neoliberais europeias, as regras que facilitam a vida aos Durões desta vida, desistiram há muito. Não esqueço a responsabilidade dessa social-democracia, que no final da década de noventa estava no poder em 11 de 15 Estados, na criação do PEC. E quem aceitou este BCE e apoiou todas as liberalizações financeiras, todas as privatizações, a criação de um euro disfuncional? A autodestruição da social-democracia, um dos fenómenos políticos mais impressionantes destes tempos sombrios, continua imparável. Por dentro, através da colonização ideológica, como Vital Moreira, por exemplo, bem sabe, e por fora, através da coligação permanente com a direita. Há um campo político e ideológico vazio em Portugal?

Cá vamos cantando e rindo, dando vivas à República

Sérgio Lavos, 30.09.10
Quem está à margem, por lá se manterá durante muito tempo. Simbólico que as comemorações do centenário da República estejam a ser feitas com a ajuda de funcionários trabalhando a falsos recibos verdes. Segundo o blogue FERVE, há pelo menos 13 pessoas há dez semanas sem receber. De resto, sabemos que isto é norma em muitos organismos que dependem do Estado - gente que trabalha, por vezes durante anos, a passar recibos verdes, sem direito a férias ou subsídios de férias e Natal. Podemos pensar também nas novas normas de atribuição do subsídio de desemprego, que obrigam quem recebe a praticar serviço de voluntariado (portanto, voluntariado à força, portanto, uma suave escravatura) em serviços do Estado. Isto acontece - pessoas que descontaram para a segurança social durante anos sem qualquer garantia de que os descontos efectuados revertam a seu favor em tempos de aperto. Viva a república. Celebremos.

P.S.: Outro facto curioso, descoberto no Spectrum: o presidente da comissão para a comemoração do centenário da República é, nada mais nada menos, Artur Santos Silva, banqueiro e personagem de indiscutível mérito cultural. Maravilha.

Os inimigos do PSD

Sérgio Lavos, 30.09.10
Uma das mais interessantes curiosidades produzidas pela crise política tem sido o ténue equilíbrio do PSD em todo este imbróglio. Sócrates rompeu as negociações para a aprovação do Orçamento, acusou Passos Coelho de chantagem, e passados alguns dias anuncia as medidas de austeridade que o PSD vinha pedindo há muito tempo. Mas como Passos Coelho continua a não ceder na posição de princípio que assumiu, as hostes cavaquistas chegam-se à frente e pressionam o líder do PSD a abster-se na votação do Orçamento, não vá o segundo mandato esfumar-se no meio do caos que a queda de um Governo provoca. Nunca tive duvidas sobre o carácter do excelso Presidente da República, mais um dos abutres da pátria, guardando na sombra os restos para si e para a sua trupe (Dias Loureiro, lembram-se?). Mas em tempos difíceis, certas ideias ainda se tornam mais evidentes. Se uma das coisas positivas nascidas da crise for a derrota de Cavaco nas presidenciais, menos mal. Há sombras que precisam de ser dissipadas, e todas as oportunidades contam.

Emigre ou revolte-se

Daniel Oliveira, 30.09.10
Os advogados da política de terra queimada podem finalmente festejar. O governo deu-lhes ouvidos e prepara-se para rebentar com qualquer possibilidade da economia recuperar nos próximos anos.

Os funcionários públicos, escolhidos por tanta gente que nunca hesitou em pendurar-se no Estado como bode expiatório da incompetência quem governou este País durante tantos anos, irão finalmente ser sacrificados para acalmar a fúria desse novo Deus que são os mercados financeiros. Mas basta olhar para a Irlanda para saber que os especuladores, os únicos beneficiados por esta crise, não se irão comover. Até porque sabem o que nos vai acontecer.

Mas não serão apenas os funcionários públicos. São os reformados, que verão as suas miseráveis pensões congeladas. Serão todos os consumidores, que verão os preços subir por causa do aumento do IVA. Serão os mais pobres entre os mais pobres, que vão sentir mais um corte no quase simbólico rendimento mínimo, aquele que os remediados maldizem até ao dia em que precisam dele. E, com o que aí vem, tantos irão precisar. Serão todos os contribuintes, que ficarão a pagar o fundo de pensões descapitalizado da PT.

E é, acima de tudo, toda a economia. Menos dinheiro disponível, preços mais altos. Mais crise sobre a crise. Empresas que fecharão. O desemprego que inevitavelmente irá aumentar. Menos receitas fiscais, mais despesas sociais. O filme é simples e todos o conhecem: a partir do momento em que aceitámos saltar para este abismo a queda será estrondosa.

O mais extraordinário é que tudo isto é feito para garantir o financiamento da nossa economia. Financiamento que a banca nos garante pedindo emprestado o nosso dinheiro, o dinheiro da Europa, a um por cento, para depois nos voltar a emprestar a seis por cento. Apenas porque a União inventou o crime prefeito: impede-se a si própria de ajudar os Estados membros para dar a ganhar a quem se alimenta da nossa desgraça. Todos estes sacrifícios não são para melhorar as nossas vidas. São para alimentar a mesma banca que nos obrigou a enterrarmo-nos para a salvar da sua própria ganância.

Almeida Santos disse: sorte do País que é governado por quem tem a coragem de tomar medidas impopulares. Eu respondo: azar do País que é governado por quem nunca tem a coragem de governar pelo povo, com o povo e para o povo. Medidas impopulares têm tomado todos. As difíceis, que tocam no poder que realmente decide os nossos destinos, é que nunca vêm. Mais uma vez vamos pagar a crise que outros causaram. Mais uma vez serão eles a lucrar com ela. Restam-nos duas possibilidades: ou emigramos ou nos revoltamos.

Publicado no Expresso Online

Jornada 6 - A decadência de Otamendi

Bruno Sena Martins, 30.09.10
Publicado na Liga Aleixo

Bastou o Villas-Boas deixar Otamendi ir para dentro de campo e o homem logo tratou de “marcar um golo na estreia” - Otamendi, curioso nome, soa como que vindo da América do Sul, mas afinal vem da Argentina. Causa-me sempre tremendo assombro quando vejo as parangonas dos jornais a celebrar um jogador que marca na estreia. Tal assombro deve-se, em parte, ao facto de eu não ter tido muito feliz sempre que tentei fazer algo de marcante na estreia, mas, enfim, deixemos de falar da minha vida que já passou muito tempo e, às tantas, com a minha cara sempre a mudar e o cabelo a cair, um dia a rapariga de Serviço Social vai deixar de me apontar na rua, para gáudio das amigas, só pelo capricho de publicitar a pior estreia de sempre desde que Renteria se estreou a jogar no Estádio da Luz.

Na verdade, mais do que lembrar aquela tarde aziaga no Jardim da Sereia, durante o desfile da Queima das Fitas, no longínquo ano que corre, ao ver Otamendi ser exaltado como um caso de sucesso na estreia os meus pensamentos vão directos para o Pena, o melhor marcador menos memorável que já passou pelo futebol português. Caso esteja esquecido, saiba o querido leitor que o bom do Pena se estreou marcando dois golos na época em que se sagraria Bota de Ouro 3 golos à frente do van Hooijdonk. O eclipse futebolístico de Pena, que pouco tempo depois de ser campeão pelo Porto já aquecia o banco do Braga (inaugurando o caminho mais tarde seguido pelo Adriano), nem sequer deve às drogas, como sabemos o único álibi no futebol para que a decadência não seja considerada patética.

Ao que parece Pena foi usurpado pelo seu empresário e perdeu aquela boa relação com as balizas, pelo menos assim se forjou a hipótese de uma decadência quase charmosa: temos um vilão e uma vítima que após perder o dinheiro do banco perdeu intimidade com o labor das balizas. Pessoalmente, não querendo duvidar da apetência dos empresários para a ladroagem, parece-me uma desculpa demasiado recorrente entre os jogadores de futebol. A minha tese é que Pena nunca teve boa relação com as balizas, com a bola e, dou de barato, nem com os empresários; Pena foi apenas um jogador que no jogo da estreia ganhou confiança para fingir ser o jogador que ninguém imaginava que ele pudesse ser. No fundo o efeito de uma estreia bem sucedida cumpriu o seu prazo de validade.

Percebem, pois, que mal tenha conseguido acabar a grelhada mista quando me apercebi que teria sido Otamendi o autor da recarga ao golo do Hulk. Não se trata de superstição, mas um clube deve honrar a sua história e a história do Porto passa pelo Pena, como passa por fazer os jogadores acreditar que conseguem ser melhores do que aquilo que são. Com esta história do golo na estreia, com o efeito determinante que a majestade inicial dos começos sempre tem no encetar uma relação, a decadência é a única coisa resta ao Otamendi na sua passagem pelo Porto. Depois do Pena, uma decadência lenta é tudo quanto peço.

Não desistir

Sérgio Lavos, 30.09.10

Calhou ser no dia da apresentação do PEC III o dia de luta convocado pela Confederação Europeia de Sindicatos contra as medidas de austeridade adoptadas nos países da UE. Não sei até que ponto o Governo planeou a coincidência de datas. Havia urgência, há uma crise política, indicadores catastróficos da economia. Seja como for, o que vimos nos telejornais foi um desfilar de notícias relacionadas com o PEC e o constante bombardear da alcateia de lobos liberais que opinam nas televisões parcialmente saciada - o medina-carreirismo parece estar a ter o seu dia. Gabriel Malagrida, rói-te de inveja. Não interessa que medidas semelhantes estejam a ter consequências negativas na Irlanda, ou que a eficácia em Espanha e na Grécia seja reduzida; não interessa que o imposto mais socialmente injusto de todos, o IVA, tenha sido o escolhido para sofrer uma subida. Nem que se tenha decidido descer os salários e reduzir os benefícios fiscais (medidas que irão afectar sobretudo a classe média), mantendo intocado e regime contributivo excepcional de que a banca usufrui. E também não tem qualquer importância não haver propostas reais de combate ao despesismo do Estado - a multiplicação de organismos públicos, as parcerias público-privadas, que apenas beneficiam os privados, a compra de material de guerra em tempo de paz, etc, etc, etc. Não há, nunca haverá uma real vontade de justiça social por parte deste Governo. Nem deste, nem do próximo, mesmo que mude a cor política do mesmo. O "S" de PS, mais do que nunca, nada tem que ver com socialismo.

O que se pode fazer? Seguir o exemplo de quem luta nas ruas, em
Espanha ou na Grécia, parece ser o único caminho para fazer a diferença. Os telejornais de hoje pouco mostraram das manifestações um pouco por toda a Europa. Como também não falam das greves em França. Parece que voltou a cair sobre o país um véu que parece querer esconder o que se passa lá fora. Não é quem está agora no desemprego, quem sofre e ainda vai sofrer mais com as medidas de austeridade, que é culpado da crise, por muito que nos tentem convencer disso. A crise não pode servir de pretexto para o que está a acontecer; até porque existem outros caminhos, que, infelizmente, parecem estar a perder o combate mediático com os profetas da desgraça. No meio de tudo isto, há outra coisa que me deixa intrigado: por onde anda a CGTP, que ainda há dois meses conseguiu organizar uma manifestação com 150 000 pessoas? Hoje, por exemplo, decidiu não convocar uma greve geral e limitou-se a picar o ponto nas ruas. Este não é um tempo de comer e calar - as soluções que estão a ser ensaiadas são gravíssimas e representam um retrocesso social aterrador. E nada, muito menos esta crise provocada por políticas erradas e pela complacência perante o capitalismo desenfreado das últimas décadas, pode justificar tais soluções. Mais do que uma questão de cidadania, é de sobrevivência. Se os governos tomam medidas de excepção, quem sofre as consequências também tem de as tomar. É o caminho.

A outra parece que tinha razão: suspenda-se a democracia por seis meses. Ou para sempre. Crise é crise.

Sérgio Lavos, 30.09.10
António Barreto: direito à saúde, educação e habitação é incompatível com a crise.

É nestas alturas que as ratazanas saltam cá para fora. Este senhor é um digno representante das nossas elites, o exemplo perfeito da decadência que levou a este estado de coisas - e não falo da iminente bancarrota, mas sim do regabofe da lei do mais forte que tomou conta do país, com a complacência do povo calado e quieto. Como era mesmo aquela conversa sobre o Campo Pequeno?

Por aí...

João Rodrigues, 29.09.10
“'Será que os mercados vão reagir bem a isto?'...perguntava o implacável Camilo Lourenço na rádio, pedindo mais sangue. Talvez não, digo eu. Talvez antecipem o cenário mais provável: uma recessão prolongada que torna mais difícil, senão impossível, o serviço da dívida pública e privada. Outra Irlanda.”

José Castro Caldas

“Luís Campos e Cunha, Pedro Ferraz da Costa, Ernâni Lopes, Francisco Sarsfield Cabral, Luís Delgado, Nogueira Leite, Helena Matos. Foram estas as pessoas que até agora tiveram lugar na TV para comentar as duras medidas de austeridade do governo. E ainda falta João Duque, Medina Carreira e César das Neves. Sim, a crise começa aqui.”

Miguel Cardina

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