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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Orçamento à Lapa

João Rodrigues, 31.10.10

PS e PSD chegaram a acordo, como se sabia desde sempre. A encenação não enganou ninguém. A austeridade ficou apenas um pouco mais assimétrica. Os 390 milhões de euros para os injustos benefícios fiscais dirigidos às chamadas “classes médias” terão de ser compensados com mais cortes, provavelmente nas despesas sociais. No entanto, isto são detalhes. O mais importante já era conhecido: um orçamento para cortar salários, directos e indirectos, um orçamento gerador de desemprego e de recessão. Uma desgraça. Um orçamento com assinatura na casa de Eduardo Catroga à Lapa, com direito a exibição em telemóvel, vincando, também simbolicamente, a submissão do PS aos interesses que contam.

Led Zeppelin/Immigrant Song

Sérgio Lavos, 30.10.10


Há quem goste, nestes dias cinzentos, de ouvir música melancólica, sentado no sofá, a olhar para a chuva lá fora. Certamente haverá bandas-sonoras perfeitas para este estado de espírito. E admito já ter caído uma ou duas vezes nesse erro. Mas quando estamos limitados a um espaço reduzido e não queremos, de modo algum, cedermos a uma peregrinação ao centro comercial, juntando-nos ao desfile de zombies de fim-de-semana que não encontram nada de melhor para fazer do que olhar para as montras repletas de produtos que não podem comprar, o melhor é, no intervalo de um ou outro filme idiota que os canais nacionais nos costumam oferecer nestes dias, ouvir os clássicos.

Os clássicos, não aqueles discos do nosso crescimento - não queremos que a nostalgia dê cabo de um prazer único. Clássicos, os álbuns intemporais que chegaram até nós depois de gerações inteiras terem-nos fixados no cânone do rock. Não sinto qualquer vergonha em afirmar que apenas muito recentemente compreendi o fascínio de muitos perante os Led Zeppelin. Não terá acontecido antes por nunca ter prestado a atenção devida à melhor série de quatro álbuns da história (se excluirmos da contagem os Beatles a partir de Rubber Soul). Confesso que parte da razão da minha teimosia se funda num acidente biográfico: conheci em tempos um fanático da banda por quem não nutria muito respeito, e o preconceito sentido em relação à personagem acabou por se estender à música. Mas depois de algumas audições avulsas, admito que todo este tempo estava errado.

Immigrant Song é essencial não apenas por ser percursora do heavy-metal. Independentemente deste som ter definido um estilo musical, esta é um grande canção pela que será melhor combinação bateria/baixo/guitarra de sempre. Ao riff perfeito de Jimmy Page junta-se a bateria genial de John Bonham e o baixo acelerado de John Paul Jones. A voz de Plant confere um toque demoníaco ao conjunto; dando razão aos pais e aos avós que em tempos achavam ser o rock a música do diabo. Valha-nos deus por isso.

Os clássicos num dia de chuva. Valhalla, I am coming!

(Para uma versão ao vivo, impossível de incorporar no post, ir aqui.)

Notícias da frente vermelha (com um ligeiro desvio à boca da baliza)

Sérgio Lavos, 29.10.10


Acabei de perder mais uma declaração do Presidente da República ao país (a que eu mais lamento foi aquela sobre o estatuto político, ou jurídico, ou lá o que foi, dos Açores), mas parece que ele terá dito que espera haver um entendimento entre PSD e PS. Imagino que a ideia de "magistratura activa" passe por estas intervenções que apenas excitam os fãs da linha dura e um ou outro doido que, por manifesta ausência de concorrência, acha Cavaco a quinta essência do estadista, uma espécie de Churchill mais magro e abstémio. Cavaco tem o mérito de ter dado o empurrão inicial ao país na direcção ao abismo, conduzindo-o pelas maravilhosas auto-estradas que romperam a paisagem nacional e nos colocaram na cauda do desenvolvimento europeu. Não serei eu a retirar-lhe esse mérito, e certamente que a sua campanha, sem outdoors mas com um assinalável excesso televisivo, não irá deixar de vincar a sua vocação bartlebyana, entre o silêncio e o vazio de ideias, ponderando nos bastidores o melhor caminho para a sua (mediana) glória.

Não terá sido tempo perdido, portanto, aquele que passei a ver o Benfica-Paços de Ferreira, e apercebi-me de que passou uma semana sem notícias da frente vermelha. Vocês sabem que eu sei que vocês sabem que eu sei que o Benfica encaixou três jogos medíocres de seguida, dos quais perdeu um, com uma equipa a sério, o Lyon, e ganhou os outros dois, parecendo embalar numa sequência vitoriosa. Descontada a influência da recuperação para a vida de Roberto - e resta saber se esta recuperação também se estenderá ao futebol -, o grande factor de sucesso (bela expressão da modernidade) nestas últimas semanas tem sido a fraqueza dos adversários. O que pode ser um problema; como se viu em França e na Alemanha, falta ainda alguma qualidade e bastante classe para enfrentar os adversários mais difíceis. As contratações serão um caso a estudar: Gaítan é o quê? Um médio-esquerdo? Um número dez? Saberá fazer um passe de risco, um centro decente? Grandes questões que acentuam a inexistência de César Peixoto enquanto verdadeira alternativa a Fábio Coentrão (como a clonagem parece ser ainda uma utopia, continuaremos a vê-lo apenas ou como defesa ou como médio; apesar de por vezes parecer que faz os dois lugares ao mesmo tempo). O Benfica tem sido, nos últimos jogos, uma equipa segura na defesa e pronta a cometer um hara kiri a cada momento na zona do meio-campo (talvez o jogo de hoje seja a excepção). Resta-nos esperar que surjam lances como o de Aimar - mas será que Jesus sabe que apenas aparecem em situações excepcionais, geralmente acompanhadas de sinais de presença divina, como dilúvios anunciados que põem a nu a ineficiência do Presidente da Câmara de Lisboa? Não sei, mas sei que, tão surpreendente como as folhas das árvores caducas caírem no Inverno entupindo as sarjetas de Lisboa, é a eficácia constante do FCP a cada campeonato; portanto, a pergunta obrigatória é esta: o que terá passado pela cabeça da direcção e do treinador que terá levado a uma tão má preparação desta época?

Mas, de qualquer maneira, já sabemos: o mundo pode mudar em quinze dias.

Isto não se vê na TV

João Rodrigues, 29.10.10


Mark Blyth é um dos meus economistas políticos preferidos ou não fosse ele um dos principais autores neo-polanyianos. A economia não vem com uma ficha de instruções em anexo, como costuma dizer. Este vídeo explica a crise com uma clareza impar, começando com os balanços financeiros, como eu aqui tenho tentado fazer, sem moralismos, e termina com uma crítica à austeridade assimétrica e à loucura económica em que entrámos. Tudo em pouco mais de cinco minutos. É pena não ter legendas porque isto não se vê na TV. Quem se oferece para as colocar?

Publicado no Ladrões de Bicicletas

Adenda: um anónimo amigo disse-me que se for ao youtube e clicar em CC posso ver o video decentemente legendado em português.

Isto não se vê na TV

João Rodrigues, 29.10.10
The Watson Institute presents Mark Blyth on Austerity from The Global Conversation on Vimeo.

Mark Blyth é um dos meus economistas políticos preferidos. A economia não vem com uma ficha de instruções, como ele costuma dizer. Este vídeo explica com uma clareza impar a crise, começando com os balanços financeiros como eu aqui tenho feito, sem moralismos, e termina com a austeridade assimétrica e com loucura económica em que entrámos. Tudo em pouco mais de cinco minutos. É pena não ter legendas porque isto não se vê na TV. Quem se oferece para as colocar?

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