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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Se não fosse a crise política portuguesa teria havido terramoto no Japão?

Daniel Oliveira, 31.03.11

Ricardo Salgado, a entidade onde se cruzam todos os interesses privados e públicos,  responsabiliza o impasse político pela descida da banca nacional nos ratings. Sim, a banca, que está bem mais endividada do que o Estado, diz que a culpa é dos políticos. Sabe quem não se limita à ideologia que, até ao aumento dos juros, a nossa dívida pública estava na média europeia, enquanto a dívida privada há muito estava acima da de qualquer outro país. De facto, o Estado não é apenas bom para fazer excelentes negócios. Também serve muitíssimo bem para passar todas as culpas.

Notícias da verdadeira «geração rasca»

Miguel Cardina, 31.03.11

O administrador dos CTT, Marcos Baptista, nomeado para o cargo pelo seu ex-sócio e secretário de Estado dos Transportes, Paulo Campos, suspendeu hoje o seu mandato após revelações de que teria falsificado o seu currículo académico. A notícia está aqui e só me fez lembrar um grande hit dos anos oitenta. Deve ser do calor.

 

A Fitch e o abuso de poder

Daniel Oliveira, 31.03.11

 

A agência Fitch, uma das que andou a avaliar positivamente lixo e a descobrir pelos jornais a falência de empresas e de países, ameaça baixar de novo o ratig da dívida portuguesa se Portugal não recorrer à ajuda externa . Diz-se, quando se contesta a fiabilidade das avaliações destas empresas (que, recorde-se, trabalham para quem ganha dinheiro com o aumento dos juros), que nada podemos fazer. Elas limitam-se a olhar para os dados económicos e financeiros e a dizer de sua justiça.

 

Se assim fosse, não havia avisos. Se assim fosse, as agências limitavam-se a olhar para as contas - que não são um segredo de Estado, são públicas e podem ser avaliadas pelos investidores - e a dar a nota correspondente. O que a Fitch fez, e não é o primeiro caso, foi dar um conselho a Portugal. Sendo que Portugal não é seu cliente. E nesse conselho está implícita a ameaça: ou fazem o que os nossos clientes querem ou nós dizemos aos mercados que vocês não vão conseguir pagar, aumentando assim as vossas dificuldades de financiamento e, obviamente, a dificuldade em pagar. O que a Fitch fez não foi uma avaliação externa ao próprio mercado. Foi uma intervenção direta no mercado para determinar as políticas de um Estado. Foi lobby em favor dos seus clientes, usando o instrumento que tem para determinar decisões políticas. Porque, todos sabemos, o recurso à ajuda externa, sendo péssimo para a nossa economia, permite o saque final e impede qualquer renegociação da dívida, a única solução racional para as economias periféricas da Europa.

 

Nada a fazer, é o que se diz. Falso. Está nas mãos da Europa determinar os moldes em que a ajuda externa é garantida. Está nas mãos da Europa garantir essa ajuda, comprando ela própria a dívida nos mercados primários, e dando garantias para uma renegociação da dívida. Está nas mãos da Europa proteger os países que estão na linha da frente de um ataque especulativo ao euro, dizendo o que diz qualquer devedor que seja vítima do abuso de poder dos credores: ou renegociamos as condições ou não pagamos. Não estamos dispostos a trabalhar para pagar juros que não correspondem ao risco real de incumprimento. É isto que famílias, empresas e Estados fazem quando o credor abusa do seu poder: se queres receber o que te devo não tentes levar o que não te devo. Mas para isso Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal não podem ser abandonados à sua sorte. Cabe à Europa cumprir o seu papel solidário. E não deixar que seja a Fitch e restantes agências de notação a determinar as políticas dos seus Estados.

 

Publicado no Expresso Online

A cassete da Almirante Reis

João Rodrigues, 31.03.11

 

Esta semana, a ideia zumbi da chamada consolidação orçamental expansionista foi mais uma vez enterrada com a revisão em baixa da previsão feita pelo Banco de Portugal (BdP). Graças à austeridade, teremos uma recessão de pelo menos -1,4% este ano e dezenas de milhares de novos desempregados. Correia de transmissão do neoliberalismo com escala europeia, o BdP diz que toda esta destruição é inevitável e terá mesmo de ser aprofundada. Agora vem propor, sempre alinhado com a direita, uma redução das contribuições patronais para a segurança social, compensada com um aumento do IVA. Reduzir salários directos e indirectos e aumentar as desigualdades são as obsessões de sempre do BdP. Só mais um esforço que ainda não somos o país desenvolvido mais desigual. Para o BdP, a competitividade é questão de custos salariais directos ou indirectos e nada mais. Uma forma de percepção selectiva que atrofia a imaginação política e a inovação empresarial. Será que desconhecem que no nosso país o peso do IVA nos impostos totais é dos mais elevados da UE? É claro que o BdP faz um ensaio tosco de economia política e propõe, tal como um certo partido da direita, para tentar compensar e disfarçar mais um projecto de regressão social, uma vaga "transferência monetária" dirigida, que nunca ocorrerá, claro. Aliás, há muito que o BdP declarou guerra ao projecto do Estado social universal. De resto, também como a direita, o BdP continuará a dizer que o desemprego é um problema de segurança social demasiado generosa e de regras laborais que ainda dão alguma liberdade aos trabalhadores, como se a enéssima recessão provocada pela austeridade permanente não fosse a principal causa do desemprego, como se a crise financeira mundial não tivesse implodido com os idealismos de mercado e gerado novas vagas de desemprego, como se o desastre da integração num euro disfuncional, sempre apoiado, não tivesse ocorrido. São infinitos os pretextos para baixar salários e deteriorar condições de trabalho, mas não há melhor do que o desemprego de massas causado pelas crises. É a economia política do desemprego. É a cassete da Almirante Reis.

 

Publicado no Ladrões de Bicicletas

A maravilhosa mecânica do capitalismo

Sérgio Lavos, 30.03.11

Banco de Portugal empresta mil milhões ao FMI.

 

E daqui a uns tempos, o FMI irá, não ajudar Portugal, mas sim fazer um resgate que é, nas palavras de um colunista irlandês do The Independent, um adiar do problema para as gerações futuras. E um descalabro social sem precedentes. Curiosamente, a notícia linkada não refere qual a taxa de juro que o FMI irá pagar ao Banco de Portugal, e, depois de alguma pesquisa feita na Internet, não encontrei qualquer referência a essa parte da questão, e fiquei mesmo dúvida se será mesmo um empréstimo ou um financiamento directo, sem cobrança de juros (talvez o João Rodrigues possa explicar-me como funciona). Seja como for, resumindo, Portugal está a emprestar dinheiro a uma instituição para que esta possa emprestar de volta (daqui a pouco tempo, parece), com um juro que pode ir de 4.5 a 5%, e impondo condições que podem levar à absoluta destruição do tecido económico nacional. Maravilhoso. Ou sou eu que estou a ver mal o problema?

 

*Não reparei quando estava a escrever o post, e segui um link do Facebook, mas a notícia citada é de Dezembro de 2009. OK, uma notícia ultrapassada, e provavelmente os mil milhões já foram parar há muito aos cofres do FMI. Pois, parece que em 2009 estávamos em tempo de vacas gordas e que um compromisso da UE é para se levar a sério. Mas esperem, em 2009 o défice não estava já a crescer? A economia não tinha estagnado? Pouco mudou desde essa altura, a não ser o desemprego, que aumentou, e o poder de compra de quem ainda trabalha, que diminuiu. Pois.

A arma das periferias

João Rodrigues, 30.03.11

 

 

Renegociar dívida antes que seja inevitável pode ser solução. Vale a pena ler o oportuno trabalho de Ana Rita Faria, até pelo pluralismo da opinião económica auscultada, de “vários quadrantes ideológicos”, onde se incluem os economistas José Reis e José Castro Caldas. A reestruturação é uma ideia em que temos insistido e que vai fazendo o seu caminho devido à insustentabilidade da combinação de pressões de mercado e de políticas de austeridade recessivas, geradoras de quebras de rendimentos e de mais desemprego. Uma ideia que tem de fazer parte da agenda de uma aliança de países periféricos apostada em mudar os termos de uma integração europeia transformada num programa do FMI. No entanto, e como sublinhou o relatório do Research on Money and Finance, há uma diferença, que aliás separa os economistas dos vários quadrantes, entre uma reestruturação da dívida liderada pelos credores e uma reestruturação liderada pelos devedores. Uma coisa é certa: ou a periferia se une ou a periferia é destruída pelas regras definidas pelos credores. Realismo sem moralismos. Aliás, a ameaça da reestruturação por parte da periferia, mesmo quando feita por um país isolado, como a Irlanda, espevita sempre a imaginação de quem comanda a (des)união. O objectivo é mesmo esse. Não há inevitabilidades neste campo. O problema português, claro, é que o bloco central só pensa em agradar a Merkel…

 

 

A palavra de Passos vale tanto como a de Sócrates

Daniel Oliveira, 30.03.11

Pedro Passos Coelho diz, desde que chegou à liderança do PSD, que não quer aumentos de impostos. Há um ano, acabou por deixar passar o PEC III, que aumentava os impostos. Pediu desculpas aos portugueses por aceitar aquilo que sempre recusara.

 

Depois disso, continuou a defender que aumentar os impostos não era a solução. Sobre o PEC IV afirmou: "Mantém a receita preferida deste governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro aumentam-se os impostos". Chumbou o PEC e não foi preciso esperar um dia para surgir a sua proposta competente e inovadora: aumentar o IVA, o mais cego de todos os impostos. Vai ao bolso dos que sendo tão pobres nem impostos sobre os rendimentos pagam. Vai ao bolso até de quem não tem rendimentos.

 

Sabe quem não anda a olhar para a política com os óculos da partidarite que as soluções económicas e políticas de Passos Coelho pouco diferem das de Sócrates. No que será mais grave e estrutural limita-se a fazer o mesmo com mais convicção. Agora ficamos a saber que tem o mesmo respeito que o primeiro-ministro pela palavra dada.

 

Diz-se que Sócrates e Passos Coelho dificilmente se entenderão e que um bloco central apenas é possível sem um deles na liderança dos seus partidos. Uma questão de personalidades, garantem uns. Sócrates não é de confiança, dizem outros. Mas a verdade é que um e outro, para além de concordarem no essencial, padecem do mesmo mal que tem destruido a credibilidade da políca nacional: o que dizem num dia não vale um euro no dia seguinte.

 

 

Publicado no Expresso Online

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