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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O dia em que citasse o João Miranda do Blasfémias teria de ser um dia muito especial, apocalíptico. Esse dia chegou.

Sérgio Lavos, 30.06.11

Aqui:

 

"A concorrência é sempre bem-vinda, excepto no nosso sector* II

 

Ora, porque é que o Paes do Amaral e o Pinto Balsemão são contra a privatização da RTP? Fácil de explicar:

- o valor do subsídio que o Estado paga à RTP é de cerca de 250 milhões de euros/ano

- como contrapartida a RTP abdica de uma receita potencial em publicidade de cerca de 100 milhões de euros/ano

Na prática, o subsídio público à televisão divide-se assim: 150 milhões para a RTP, 50 milhões para a TVI e 50 milhões para a SIC. Paes do Amaral e o Pinto Balsemão querem manter o subsídio que indirectamente recebem. Só isso."

Impossível é não viver

Andrea Peniche, 30.06.11

Este texto foi escrito por José Luís Peixoto para o MayDay Lisboa. Recentemente, foi lido na assembleia do Movimento dos Indignados na Praça Syntagma, em Atenas.

 

«Se te quiserem convencer que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho.

Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos.

Além disso, é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram.

O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.

Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz».

Privatizações, CTT e RTP: uma história exemplar

Daniel Oliveira, 30.06.11

 

O governo quer privatizar os CTT. Os CTT dão lucro ao Estado. O que ganhará agora vai perder em muito mais no futuro. O governo ainda não vai privatizar a RTP. A RTP dá imenso prejuízo.

 

Que fique claro: não sou a favor da privatização parcial ou total da televisão pública. Posso explicar porquê um dia destes. Mas o que queria perceber é a razão da fúria privatizadora de Passos Coelho, que vai a monopólios naturais (como a REN) ou a empresas que, prestando um bom serviço público e garantido a coesão territorial, ainda dão dinheiro ao Estado (como os CTT), se acalmar quando chega à televisão do Estado.

 

Não é porque os novos governantes sejam estúpidos. Nem porque precisem de um canal que lhes trate da propaganda - não lhes faltam representantes nos media. É que a RTP tem concorrência. Só isso bastaria para diminuir os interessados, com os olhos postos no que não venha com qualquer risco. Mas mais importantes: os concorrentes não querem mais um canal privado, que, com menores limitações na publicidade, poderia levar à falência de um dos canais privados. Ou canal deixa de ter publicidade, ou deixa de existir, ou divide-se a coisa pelos dois que existem. Mais um no mercado? Nem pensar.

 

A redução do preço da publicidade, a que mais um privado no mercado televisivo levaria, é uma boa razão (mas não é a mais importante) para não privatizar o canal público. Mas encontro trezentas melhores razões económicas para não privatizar a REN, a ANA, a CP ou os CTT. Só que a timidez do governo deve-se apenas a um pormenor: os privados não querem.

 

E assim fica claro o que move tantos ministros e secretários de Estado, com um pé na política e outro nos negócios. Não é o nosso interesse. Não são as finanças públicas. Ou mesmo que sejam, isso conta apenas na medida em que as suas propostas tenham a simpatia da sua verdadeira base social de apoio: os que vão lucrar com o desmantelamento do Estado. Se não tem concorrência, privatiza-se e alimenta-se uma elite económica que gosta de ter uma renda sem esforço. Se incomoda quem já está no mercado, deixa-se para mais tarde.

 

Publicado no Expresso Online

Ui, mais um concorrente; que medo...

Sérgio Lavos, 29.06.11

Belo exemplo do capitalismo que temos: um empreendedor de loga data (e uma das figuras fundadoras deste regime), Pinto Balsemão, tremendo com a concorrência que poderá ter se a RTP for privatizada. Sabemos porquê: apesar da privatização de muitas empresas públicas que asseguravam a prestação do serviço público em sectores fundamentais da nossa economia - falo da Galp e da Petrogal, da PT e da EDP -, as leis do mercado e da concorrência nunca funcionaram. Continua a haver concertação de preços na área dos combustíveis e das comunicações e somos dos países da UE onde os consumidores mais pagam pela electricidade - e não esqueçamos que a EDP é, na prática, uma empresa privada que existe em regime de monopólio. Mas a televisão, lamentavelmente para Balsemão, é diferente: precisa da publicidade para dar lucro; o mercado, no meio audiovisual, funciona mesmo. São estes os empresários que temos, a nossa elite económica que domina indirectamente o poder político: saudosistas do Portugal corporativista que durante quarenta anos Salazar foi construindo.

 

*A questão em si, da privatização da RTP, é outra história; parece-me que o mais racional será privatizar apenas um dos canais, neste caso a RTP1, que não é carne, nem é peixe, não é serviço público nem dá lucro.

Notícias do país da "imprensa suave" (3) - a revolta na Grécia

Sérgio Lavos, 29.06.11

 

O plano de destruição da Grécia que está ser levado a cabo pela UE e pelo FMI está a ter a merecida resposta do povo grego. Como a nossa imprensa continua a tentar manter-nos amestrados, pouco se vai sabendo por cá. O novo pacote de austeridade - segundo o Público, aplaudido e saudado por dois dos tenebrosos asseclas da sra. Merkel e do sr. Sarkozy (os carrascos da União Europeia), o sr. José Manuel Barroso e o sr. Rompuy - está ser fortemente contestado nas ruas de Atenas. Para quem quer saber o que se passa (contornando a vaga cortina de silêncio que cobre o nosso país), pode acompanhar em directo no Guardian, no El País, no Libération, ou até no longínquo New York Times. Esquecendo a vergonha que tem sido (desde a primeira revolta grega, há um ano) a cobertura jornalística do tema, só nos resta esperar que as coisas, quando por cá começarem a apertar ainda mais, mudem. Teremos ainda força e coragem para tanto?

Passos Coelho: o fiel escudeiro do fim do Euro

Bruno Sena Martins, 29.06.11

Nas diversas discussões análises à liderança autocrática de Estaline, um dos interessantes aspectos frequentemente referido é o modo como as suas prerrogativas de lealdade criaram um entorno de mostro torcionários a ponto de o líder ficar amiúde na posição de dizer "menos". Mantidas as distâncias, o poder de uma ideologia para criar fiéis seguidores, industriados no clássico fervor dos convertidos, encontra em Passos Coelho uma aparição tão expectável como anedótica. No momento em que os mais sensatos dos neoliberais começam a questionar o haraquiri do Euro através do credo da austeridade, Passos Coelho, vagamente salivante, diz "mais". Não vá o bom do Passos Coelho dar má imagem ao regime da austeridade, Senhora Merkel, como quem diz "menos", fique à vontade para o fuzilar. Não ouvirá daqui uma palavra.   

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