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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A melhor música dos anos 80 (1) - Destroyer/Kaputt*

Sérgio Lavos, 31.07.11
Férias no blogue, música em tom de nostalgia. Há para aí boas bandas que andam a ouvir coisas que não deveriam. Esta é uma delas. O vídeo é também excelente, um gozo aos nerds da era digital e uma evocação de um dos temas preferidos dos músicos dos anos 80: mulheres a dançar.

 

*Esta série é dedicada a bandas de agora que foram buscar inspiração aos anos 80. A ideia é colocar um dos nomes novos e a seguir um teledisco (como se dizia) de um original dessa década.

Uma aventura a caminho da selva

Sérgio Lavos, 27.07.11

 

O ódio aos ricos não costuma ser produtivo, em termos de luta social. Mas quando, ano após ano, lemos notícias como esta, é necessário parar para pensar. Com o crescimento económico negativo e uma dívida pública incomportável, como é possível os 25 mais ricos de Portugal terem aumentado a sua riqueza em 17.8%? Mas depois basta olhar para os nomes que constam da lista para percebemos: Américo Amorim conseguiu ganhar mais, não à conta dos seus investimentos na área da cortiça, mas por ser um dos principais accionistas da Galp. E todos os sabemos por que é que a Galp teve um crescimento brutal em 2010. Pelo menos, todos os que têm carro próprio. E os que não têm e andam de transportes. Depois, vemos na lista algumas das figuras que estão à frente de empresas de distribuição e cadeias de hipermercados. E também sabemos o que sucedeu o ano passado: a reabertura das grandes superfícies aos Domingos, e em alguns casos sem haver a justa compensação monetária aos funcionários. De resto, as cadeias de hipermercados são o exemplo perfeito de como a economia é vista em Portugal. De cada vez que uma grande superfície abre, lá sai o artigo da praxe nos jornais a noticiar a criação de não sei quantos postos de trabalho. O departamento de comunicação da grande empresa fez o que lhe competia, passando a informação aos media, mas os media recebem a informação passivamente, não tentando perceber o que se perdeu. Quantas lojas de comércio tradicional fecharam. Quantas pessoas perderam empregos em consequência desse encerramento. Qual a média dos ordenados pagos pelas grandes superfícies. 

 

Quanto maiores forem as desigualdades sociais de uma nação, menos democrática ela é. Em 2011, Portugal é um país que caminha em direcção ao Terceiro Mundo. As classes média e baixa vão perdendo cada vez mais poder de compra; as classes mais altas vão acumulando mais riqueza. O capitalismo é isto, e é isto que troika quer, que a União Europeia prefere, que o Governo PSD/CDS vai incentivar. A velha história do Robin dos Bosques invertida. Roubar aos pobres para dar aos ricos. Até quando poderemos tolerar a situação?

O novo alfabeto

Andrea Peniche, 26.07.11

 

Anda para aí uma má onda contra Nogueira Leite. Primeiro, tentam diminui-lo dizendo que ele só vai para administrador da CGD porque é do PSD. Ora, Fernandes Thomaz também só para lá vai porque é do CDS. E, pergunto, não foi sempre assim? Nada disto traz novidade. É apenas a inveja a falar mais alto.

 

Atacam-no também quando dizem que ele é um dos homens de mão do Grupo Mello e que a sua nomeação configura uma grotesca sobreposição dos interesses privados aos interesses públicos. Tudo isto porque o homem que colecciona cargos nas empresas do Grupo Mello vai para a CGD e esta vai vender a sua parte numa grande empresa de saúde? Pfff... já vi melhores argumentos.

 

Eu sou das que não só apoia como leva grande fé em homens providenciais como Nogueira Leite. É que não é qualquer pessoa que consegue viver num alfabeto de 14 vogais, uma vice-presidência e um conselho consultivo. Mais, Nogueira Leite ainda consegue retirar um tempinho à azáfama diária para ser vice-presidente do PSD e conselheiro de Pedro Passos Coelho. E, pasme-se, tudo isto em 24 horas. É de gente assim que o país precisa.

 

Nogueira Leite apenas coloca um problema que deve ser analisado com alguma delicadeza, uma vez que pode ferir susceptibilidades mais sensíveis. Com ele, a parangona Jobs for the Boys não faz muito sentido. O uso do plural não se aplica porque a extrema produtividade de Nogueira Leite pode conduzir ao acantonamento dos Boys no desemprego.

 

Esta é a constelação de afazeres que Nogueira Leite coleccionava em 2010:

 

Vogal do Conselho de Administração da Brisa Auto-Estradas de Portugal SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Químicos Industriais, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Adubos, SA; Vogal do Conselho de Administração da José de Mello Saúde, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da SEC - Sociedade de Explosivos Civis, SA; Vogal do Conselho de Administração da EFACEC Capital, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Expocomitur - Promoções e Gestão Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Herdade do Vale da Fonte - Sociedade Agrícola, Turística e Imobiliária, S.A.;  Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária e Turística do Cojo, SA; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária da Rua das Flores, n.º 59, SA; Vogal do Conselho de Administração da Reditus, SGPS, SA; Vice-Presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment, SA; Membro do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão do Crédito Público.

 

Quem for capaz de fazer melhor, que atire a primeira consoante.

 

A alucinação não é um exclusivo de betinhos noruegueses

Sérgio Lavos, 26.07.11

"Se a Noruega reconhecesse o direito de porte de armas, a chacina de sexta-feira dificilmente teria ocorrido com aquela dimensão, porque alguém estaria armado na ilha de Utoeya e ofereceria resistência ao criminoso. Refiro-me a vigilantes, seguranças e até simples cidadãos.
Quando este direito não é reconhecido, os cidadãos ficam indefesos, à mercê de criminosos. Criminosos que nunca têm qualquer dificuldade em deitar a mão às armas que pretendem."

 

E o Arroja tem um compagnon de route à altura no Jaquim. Andará ele entretido com jogos de vídeo tipo World of Warcraft ou o velhinho MDK? Se eu fosse um gajo com mau instinto, desejaria que ele fosse viver para uma utopia militarista. O Iraque, por exemplo. Ou o Afeganistão. Ou Ciudad Juarez, talvez. Aí sim, a posse de uma arma é verdadeiramente valorizada. Mas não sou. Por isso aconselho-o apenas a experimentar Detroit, onde pode à vontade adquirir uma caçadeira ou até uma AK-47 para se defender dos meliantes. De nada.

 

*Via Ana Cristina Leonardo.

Noruega: terrorismo, egomania e ideologia

Bruno Sena Martins, 25.07.11

Contados os mortos e apreendida a dimensão do horrífico desastre que assolou a Noruega, seria inevtável que o atentado cometido por Anders Behring se oferecesse a interpretações sobre as suas implicações políticas. De facto, a atrocidade cometida por um partidário de valores xenófobos à luz de uma versão do fundamentalismo cristão - a que terá juntado a egomania que normalmente falhamos em reconhecer nos fundamentalistas islâmicos - desestabiliza profundamente os disrcursos que, sob a bandeira do combate ao terrorismo, solidificaram a ideia do terrorismo como o mal absoluto do nosso tempo (o sucessor do Holocausto como o mal cuja vileza, escala e visibilidade matiza os demais). E, na verdade, após o 11 de Setembro, a ideia de mal absoluto sedimentou-se na co-implicação forjada entre morte de inocentes como significante político e o fundamentalismo islâmico comprometido com a Jihad.

 

Demoraremos a perceber que não há mal absoluto, mas muitas formas de perfídia que coexistem em cada tempo, atentados à vida e dignidade humana que serão registados pela nossa história social em função da escala e da espectacularidade do evento, da proximidade vivida e da proximidade engendrada pelos média. A atenção que lhes damos depende também, do medo que ganhamos às raízes do ódio na sua origem, naturalmente esquecemos mais facilmente um acto individual de loucura do que aquele que nasce de um ódio cultural que se partilha e reproduz - e nisto o "nunca mais" em relação ao Holocausto foi também o horror ao anti-semitismo, o medo aos ímpetos totalitários de refundação radical próprios da modernidade, e a desconfiança perante a cientificidade racista das ciências eugénicas.

 

Mas, e aqui queria chegar, por muito que os acontecimentos da Noruega cubram de justo ridículo as leituras simplistas sobre o mal e sobre o terrorismo, produzidas por tantos cruzados do bem (laicos e cristãos) investidos em consagrar a jihad islâmica como a natural extensão de um credo particularmente afeito à violência, convém denunciar como patética a excitação de quem mal esconde o júbilo por ver na morte de 94 pessoas um argumento político. Quem não tem tempo para a consternação por indomável júbilo ideológico reduz a ideologia a uma egomania apostada no vício retórico.

O terror dos outros

Sérgio Lavos, 25.07.11

 

Não acho que esteja a polir o revólver, caro Francisco, mas julgo que a expressão que usa facilmente pode servir para encostar alguém às cordas do preconceito. Atenção: esse tal "preconceito antropológico ocidental" pode até ser real em alguns casos. Contudo, a sua existência não impediu que esteja a ser feito o necessário para manter a ameaça do terrorismo islâmico sob controlo. É uma questão perfeitamente secundária, neste caso, e, devolvendo o brinde, a frase, no seu texto, é apenas usada em tom provocatório. 

 

A questão parece-me muito simples: o terrorismo deve ser tratado como aquilo que é, um acto criminoso. E as democracias devem evitar que aconteça, sempre (mas não recorrendo a qualquer meio, seja a tortura ou, mais grave, uma guerra preventiva). Seja de extrema-direita neonazi, de extrema direita islâmica ou de extrema-esquerda. Agora, tentar perceber as razões da existência de extremismos islâmicos violentos não me parece que seja consequência de um "preconceito antropológico ocidental". E certamente o Francisco concordará comigo se eu disser que a agressividade do mundo islâmico em relação ao Ocidente é, em parte, resultado directo da violência exercida sobre os países árabes. Violência em forma de ocupação territorial - como é o caso da presença de Israel na Palestina -; violência de guerras preventivas que pouco ou nada ajudam à pacificação do Médio Oriente - como é o caso do Iraque; e violência exercida indirectamente, por via do apoio que as democracias ocidentais dão às petroditaduras do Golfo. Pretendo com esta enumeração desculpar actos terroristas? De modo algum, porque um crime é sempre um crime, seja qual for a razão por detrás dele, e matar inocentes a milhares de quilómetros de distância é, definitivamente, um crime. Como também é crime a morte de civis em resultado de ocupações de países soberanos. E atenção, que não falo de guerras entre nações; falo de ocupações criminosas, nas quais a discrepância de poder entre as forças militares em combate não permite que se possa falar em guerra. 

 

Do mesmo modo, reduzir o duplo atentado de sexta-feira a um acto de um alucinado é esvaziar a importância das motivações políticas de Anders Breivik. Mas é isso que estamos a ouvir diariamente: Anders é um louco solitário, e o facto de ter ligações à extrema-direita é apenas um pormenor. É um caso previsível de double standards: a loucura nunca é a causa primária para atentados perpetrados por terroristas islâmicos. Porquê? Porque um acto de loucura é um acto solitário; e sendo um acto solitário, é uma excepção, não nos vincula, enquanto sociedade, ao indivíduo que o pratica. Enquanto que um atentado terrorista, despojado da insanidade solitária do atirador que mata dezenas, vincula toda uma cultura. Excluímos os nossos loucos, diferenciamo-los do resto da sociedade, afirmando: "nós não somos assim, isto é uma excepção". Mas vinculamos milhões de muçulmanos à violência praticada por uma minoria (de loucos de Deus). De que lado está o "preconceito antropológico ocidental"?

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