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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Mentiroso compulsivo e imperdoavelmente ignorante

Sérgio Lavos, 02.12.12

"Na entrevista de quarta-feira à TVI, Passos Coelho considerou que a Constituição permite mais alterações às funções do Estado no sector da educação do que no da saúde, acrescentando: "Isso dá-nos aqui alguma margem de liberdade, na área da educação, para poder ter um sistema de financiamento mais repartido entre os cidadãos e a parte fiscal directa que é assegurada pelo Estado"." 

O sublinhado mostra o que o primeiro-ministro disse na entrevista. Como entretanto meio país veio denunciar a inconstitucionalidade do pagamento de propinas no ensino obrigatório, tendo o ministro da tutela afirmado mesmo que essa medida não poderia sequer ser equacionada, Passos Coelho corrige o tiro, afirmando que não disse aquilo que efectivamente disse. Quando falou em sistema de financiamento repartido entre cidadãos e o Estado, estaria a referir-se a quê? Mas Coelho diz mais, caindo na asneira e mostrando que nem sequer sabe do que fala:

"no ensino secundário e no ensino superior há uma taxa de esforço financeiro directo que aqueles que estão a frequentar o ensino superior e, até aqui, o ensino secundário, faziam, a par do esforço dos impostos".

A confusão que vai cabeça do PM é inacreditável. Ele acha mesmo que o ensino secundário é financiado directamente pelos utilizadores (vulgo, propinas), como o é o ensino superior? Isto é a sério? O senhor primeiro-ministro não sabe que o ensino secundário não paga propinas? E por que é que ele disse "até aqui"? Vai mudar alguma coisa? Mistério... mas diz ainda mais:

"O ensino secundário praticamente desapareceu, na medida em que o ensino obrigatório foi estendido até ao 12.º ano. Uma vez estendido até ao 12.º ano, significa que as regras serão as mesmas em todos os níveis do ensino obrigatório"

O ensino secundário "praticamente desapareceu"??? A sério? Ele disse isto? E os jornalistas não o confrotaram com o ridículo de tal afirmação? Qual terá sido o nível de ensino que substituiu o secundário desde que o ensino obrigatório foi estendido até ao 12.º ano? Ninguém sabe. O que depreendemos das palavras do senhor primeiro-ministro é que ele não sabia minimamente do que estava a falar, tanto na entrevista à TVI como nas declarações de hoje. O que não é novidade, diga-se. Impreparação, desconhecimento, arrivismo voluntarioso, eis o que define o primeiro-ministro. Dir-se-á mesmo: alienação. Quem não sabe como se organiza o ensino em Portugal está completamente a leste de tudo. Este senhor existe mesmo? E governa-nos?

A luta dos estivadores e a propaganda

Sérgio Lavos, 02.12.12

 

Uma das maiores operações de propaganda e contra-informação a que o país já assistiu é aquela que envolve a luta dos estivadores. Os comentaristas que aparecem na televisão não se têm coibido de mentir com quantos dentes têm sobre as razões da luta e sobre as condições dos trabalhadores portuários. Ainda na semana passada, Marques Mendes, do seu púlpito sem contraditório, esteve cinco minutos a desfiar mentira atrás de mentira, perante a perplexidade do jornalista. Ao ponto de este, no final, ter frisado que aquela era opinião do comentador, apenas isso, tendo mesmo assim Mendes insistido em dizer que aquilo são factos, chegando a desafiar a quem quisesse a desmenti-lo - sabendo muito bem que, se alguém aparecer, nunca terá a oportunidade de o fazer directamente, olhos nos olhos, ou numa tribuna com a importância da TVI24.

 

O Governo e a rede de sabujos que ainda resiste sabem o que estão a fazer. Os estivadores estão a ser tornados bodes expiatórios do fracasso das exportações - a quebra a partir de Setembro pouco ou nada tem a ver com a greve às horas extraodinárias; deve-se à crise que começa a alastrar ao resto do mundo e à incapacidade que este Governo tem em dinamizar o sector exportador. A vã glória do crescimento das exportações esvaziou-se. O crescimento que se verificou durante um ano e meio não foi diferente do que já vinha a acontecer desde 2009. Se há Governo a quem poderá ser atribuido o mérito do dinamismo das nossas empresas exportadoras é ao anterior, ao seu esforço de diversificar os países para onde exportamos, assim como o apoio a empresas em áreas como as energias renováveis e as novas tecnologias. Um ano e meio de estagnação e incompetência do ministério da Economia e do radicalismo geral das políticas do Governo está a ter como consequência a redução drástica de encomendas às nossas empresas e de exportações. A luta dos estivadores é justa, e é uma bandeira. Tudo o resto é nevoeiro propagandístico, uma maneira de desviar as atenções e dividir os portugueses. Uma vergonha. 

 

(Vale mesmo a pena ver o vídeo do deputado Bruno Dias, do PCP. Incisivo e sobretudo esclarecedor.)

 

Adenda: é claro que há razões mais profundas para o Governo querer aprovar a nova lei que rege o trabalho portuário. Sugerido por um comentador, fica aqui um link para um texto no Ladrões de Bicicletas que explica muitas dessas razões de forma clara. 

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