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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Quando querem podem

Daniel Oliveira, 30.07.10
Ontem chamei aqui à atenção para aquilo que me parece uma perversão das funções do Estado. Sobre o negócio, um dado novo: o governo brasileiro pode dar garantias de crescimento da OI.

A minha conclusão é simples: em vez de garantir os respectivos interesses nacionais os governos portam-se como meros parceiros empresariais. Não é exactamente a mesma coisa. Mas compreende-se: a privatização de empresas estratégicas baralhou todo o papel dos Estados. Eles continuam, como é evidente, a ser necessários para as empresas nacionais. Apenas têm uma relação mais promíscua com o mundo empresarial do que quando está garantida a clareza da posse pública de uma empresa. E isso não é bom.

No entanto, e apesar do que aqui escrevo, não quero deixar de recordar o que foi dito nos últimos quinze dias pela nossa direita liberal-utópica. Que o Mundo estava a olhar, perplexo, para esta república soviética onde o Estado se mete na economia. Que revelava "um País próximo do subdesenvolvimento económico" . Afinal o Mundo estava a olhar com a mesma naturalidade com que olha para operações semelhantes nos seus países. Da próxima vez que alguns oráculos da Nação vos falarem da excepcionalidade portuguesa, é bom darem o devido desconto. Que os mercados iam reagir e isso ia ser o toque de finados da PT. Ela cá anda, sem ter sido beliscada. Que a Telefónica ia fazer uma OPA à PT e estaríamos tramados. Não fez. Não estamos. Que a Europa ia cair em cima de Portugal sem dó nem piedade. Não caiu.

Não me agrada o desfecho desta história, pelas razões que expliquei ontem. Mas não deixo de lembrar como o discurso tremendista da direita liberal vive mais das suas fábulas ideológicas do que da realidade. Na realidade, os Estados, todos eles, continuam a ser centrais em todas as economias. Tenho pena que não o sejam quando se trata de defender o interesse público e a justiça social. Quando se trata de aumentar os lucros dos accionistas de uma empresa eles lá estão, corajosos e arriscando tudo. Fica evidente que a demissão a que se entregam noutros domínios não é uma inevitabilidade. É uma escolha. O Mundo não está assim tão diferente. Os nossos governos é que não querem usar o seu poder para o bem comum.

Texto publicado no Expresso Online.

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