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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Notícias da frente vermelha

Sérgio Lavos, 09.01.11

 

As catorze jornadas que o Benfica levou a perceber qual o melhor meio-campo para este campeonato são a principal razão dos oito pontos que distam do primeiro classificado. Ao longo da época passada, o losango do centro do campo assentava num equilíbrio zen cujos pilares eram Di Maria e Ramires. A impetuosidade atacante do primeiro era compensada pelo labor defensivo do segundo. Partindo de posições interiores paralelas (nenhum era um extremo puro), na mesma linha do campo, acabavam por percorrer caminhos diferentes: as diagonais da direita para a esquerda de Di Maria, em direcção à linha, abriam o espaço na direita para Ramires fazer o que melhor sabia, aparecer no sítio certo. Era o primeiro a surgir ao segundo poste e a concluir ataques iniciados por Di Maria, mas quando a equipa perdia a bola era quase sempre também o primeiro a descer e a recuperar a bola. Uma equipa composta apenas de jogadores criativos é um unicórnio que nem o Barcelona de Guardiola consegue conjurar. Na melhor das hipóteses - sim, o Barcelona de Guardiola - há cinco jogadores criativos e outros cinco ao lado para assegurar as recuperações de bola suficientes para que esses jogadores criativos possam, lá está, inventar. Golos, de preferência. O Benfica da época passada jogava neste equilíbrio, com a vantagem de ter um lateral, Maxi, que tanto pode construir como destruir. De resto, tínhamos David Luiz/Coentrão; Javi Garcia/Aimar ou Carlos Martins; Cardozo/Saviola, a dupla atacante, com uma dinâmica necessariamente diferente das outras duplas, mas que também acaba por funcionar nesta dialéctica funcional, construção e conclusão; e Ramires e Di Maria.

 

Ao fim de 14 jornadas, então, no Benfica-Rio Ave, um acaso - a ausência forçada de Carlos Martins - levou a que um jogador ganhasse confiança e espaço: Salvio. Não está tão próximo de Ramires que não possa de vez em quando ser capaz de pormenores de génio nem tão longe de Di Maria que não consiga a cobertura defensiva necessária para evitar as saídas para o ataque dos adversários. Do outro lado da linha, Gaitán é número dez que está a jogar deslocado. Não tem pique para ir à linha e cruzar, não tem a capacidade de drible de Di Maria, mas tem um pé esquerdo mais preciso nos cruzamentos e no passe. As dificuldades que sente numa posição que não é dele têm sido devidamente compensadas pelo número dez, Aimar ou, ainda e sempre, por Saviola. Por outro lado, Coentrão afirma-se de vez como um lateral e será um erro voltar à posição de extremo (como Jesus, de resto, parece ter percebido): a sua velocidade evidencia-se de trás para a frente, quando avança pelo corredor esquerdo à procurar de um desequilíbrio. Quando isto acontece, Gaitán fica mais para trás e compensa, começando a ganhar rotinas defensivas que manifestamente não tinha no início da época.

 

Jogando de maneira diferente, menos em ataque continuado, apostando nas mudanças de velocidade dos jogadores que atacam (Salvio é um falso lento, capaz de arranques impulsionados por uma excelente finta curta) - não é à toa que o Benfica tem marcado mais golos em contra-ataque esta época - o Benfica começa a ganhar uma dimensão que lhe permitirá fazer uma boa segunda volta. Pode parecer que o campeonato está perdido, mas faltam quinze jogos, e não devemos esquecer que, ao fim da primeira volta, o Benfica apenas tem menos três pontos do que na época passada; e ainda há mais três competições pela frente. E olhando para o futuro, os oito milhões que custa Salvio serão um preço razoável. O Benfica tem de começar a pensar seriamente na compra, para que não aconteça o mesmo que aconteceu com Micolli ou Reyes.

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