Chama-se "Parva que sou" e é uma nova canção apresentada pelos Deolinda há dias no Coliseu do Porto. A música é boa, a letra é incisiva mas é a reacção vibrante do público que nos diz o essencial. Temos hino, temos ânimo, falta-nos mais combate.
Sou da geração sem remuneração / e não me incomoda esta condição. / Que parva que eu sou! / Porque isto está mal e vai continuar, / já é uma sorte eu poder estagiar. / Que parva que eu sou! / E fico a pensar, / que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar. / Sou da geração ‘casinha dos pais’, / se já tenho tudo, pra quê querer mais? / Que parva que eu sou! / Filhos, maridos, estou sempre a adiar / e ainda me falta o carro pagar, / Que parva que eu sou! / E fico a pensar / que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar. / Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’ / Há alguém bem pior do que eu na TV. / Que parva que eu sou! / Sou da geração ‘eu já não posso mais!’ / que esta situação dura há tempo demais / E parva não sou! / E fico a pensar, / que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.
Partilhei o vídeo no meu blogue, com a devida vénia ao Arrastão. É realmente uma magnífica música e uma crítica certeira - e estou consigo na esperança em que se transite desta interpretação do mundo para a luta que o transforme.
pois eu acho que este hino é muito bom! Deve tocar a geração e o tempo actual a fundo, e não ser uma remniscência doutros tempos. Os velhos das lutas antigas têm as suas cantigas, esta nova geração precisa de ter as suas: .... e só depois juntos até à vitória final.
E isto entra nas play-lists das rádios?... dá-me ideia que não! Vai ficar-se pelas festas de caloiros, o que já é muito bom...
Esses velhos lutaram até ao fim pelas suas convicções e perderam.
Uns, os das tais Organizações vão dizendo que não, mas consideraram que tinha sido a derrota final e adaptaram-se ao sistema dos vencedores.
Uma ou duas vezes por ano limpam o pó aos seus hinos e põem-nos a tocar nas manifestações.
Outros, não se resignam e apelam à luta, mas são vozes isoladas.
Qual deles vai ser ouvido por qualquer geração?
O hino dos Deolinda é muito bom, a reacção do público ainda é melhor, mas como disseste também já seria muito bom que se ficasse pelas festas de caloiros.
Nessas ou nas da queima das fitas ainda tinham que destronar os Quins Barreiros e o efeito mobilizador passava no dia seguinte, tal como o das manifestações, com os hinos antigos.
Até à vitória final é o lema de um combate que una novos e velhos sem medo de lutar, seja qual for o hino utilizado.
Como dizia alguém, quem luta pode perder, mas quem não luta perde sempre.
Beijocas
Cristina
PS: Está aqui um velho a dizer-me que te mande abraços.
Caro Miguel Boa escolha. É o hino duma geração que sobrevive com as almofadas dos pais. Uma geração que nasceu num bem-estar que dificilmente o dará aos seus próprios filhos. Num modelo económico onde os jovens não conseguem ser independentes economicamente, não têm estabilidade para constituírem família e estarem a trabalhar em condições do século XIX, é um modelo errado. Mesmo para quem está a tirar o lucro deste modelo irá ver as suas consequências a médio/longo prazo. Estão a matar a galinha dos ovos de oiro pela ganância e não se dão conta.
E diz o inteligente que acabaram as canções! Temos aqui uma bela canção de intervenção, como se dizia dantes. A realidade tem que ser comentada e transformada. E a palavra continua a ser uma arma: não mata, felizmente! E pode até curar: a ignorância, o preconceito, a preguiça, o medo.
Deolinda não é "parva" e canta muito bem, esta canção tem uma particularidade; é interventiva.
Mas a léguas de; " a cantiga é uma arma" ou " uma gaivota voava, voava". Os graves e os agudos, entraram em conflito e a melodia foi-se, voou.
Ermelinda e Deolinda, ontem e hoje; entretanto, o foi que nos aconteceu? Como sempre, a fazer-mos escolhas e naturalmente cada um a escolher para si o que é bom.
E porque continuamos desta maneira? Porque nada pode ser bom para nós, sem que o seja para todos!
É a família, o bairro, o concelho, o país. Ninguém pode estar bem, se todos os outros estiverem mal.
Entretanto tudo como dantes; um autarca, muito prestigiado, sai, acaba de fazer uma escolha e só pode ser do que é bom.
Deve estar enquadrado naquele circunstancialismo, de retirada estratégica, que permituiu as boas escolhas por exemplo; dos srs. Pina Moura, Cadilhe, Amaral, Coelho, Barreto, etc.
O povo, que não é parvo então canta, mas apenas isso; "Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte"! Pois é.
Ele há outras, igualmente recentes, igualmente pertinentes, como este "Marcha dos Implacáveis", do JP Simões, que podem ouvir aqui: http://www.youtube.com/watch?v=QVneDyzF-WE
No concerto na ZdB deste Janeiro que passou, o gajo disse que a letra da canção veio de um sonho de um sonho que ele teve: sonhou, que o Cavaco estava a sonhar, que estava a ser comido por zombies.
E por favor, não assumam isto como um espicaçar dos "ajoelhadores" de Cavaco que frequentam aqui o tasco. Embora a canção o seja um pouco - não dos daqui, mas de todos em geral.
E pá, e no fundo também o faço um pouco para isso.
E também porque acho que estamos mesmo a precisar de uma marcha destas.