Notícias da frente vermelha
No Benfica começa-se a sentir uma estranha tendência, que poderá trazer dissabores no futuro, para finalizar jogadas com "nota artística elevada" (no linguajar de JJ). Deveria haver um credo nas grandes equipas: não humilharás os teus adversários - mesmo que eles peçam para ser humilhados. E uma finta a mais pode ser um risco, como pode comprovar Carlos Martins no final do jogo; trocar duas vezes as voltas a um matulão ex-jugoslavo cujo nome eu não quis decorar dá direito a um golpe de karaté. Lições que não se devem esquecer.
E o Benfica também não deverá esquecer a maneira correcta de poder desfrutar da oportunidade de Gaitán tentar mais um chapéu ou Salvio rematar sem deixar cair a bola: a afamada pressão alta, especialidade apurada por Mourinho e imitada por JJ neste Benfica. A meio da segunda parte, distraí-me durante alguns segundos, julgando que o Estugarda iria partir para o ataque, e ia perdendo o segundo golo do Benfica depois de um roubo de bola no meio-campo e de uma finta demasiado perfeita de Jara ao defesa esquerdo alemão. Há, claro, hesitações. Dúvidas. Erros. Mas a suspensão da descrença em relação à falibilidade humana apenas se aceita em alguns jogos de equipas de outro mundo. O Benfica é deste mundo, porque não pode ter melhores jogadores do que tem. Mas sim, o futebol "lindo" do Benfica é resultado do aproveitamento máximo dos jogadores que podem actuar, o que justifica em parte as debilidades da primeira parte da época. Os substitutos dos melhores da época passada demoraram seis meses a compreender as ideias de Jesus, e neste momento são o motor da equipa, levantando deste modo o véu sobre a funcionamento do sistema de jogo escolhido: ele depende do equilíbrio precário entre ataque e defesa que os dois médios centro/alas podem trazer. Gaitán aprendeu a defender e, supreendentemente, corre mais rápido com bola do que Di Maria (ou pelo menos com maior controlo) e Salvio percebeu que pode arriscar a jogada um para um no ataque sem que a equipa perca defensivamente - e neste aspecto, Javi Garcia continua a ser essencial (e Airton só não é porque tem o lugar tapado).
Voltando à questão da humilhação, gostei de ver o Benfica jogar apenas com dez, durante mais de meia parte, contra o Sporting. Depois do Porto, parece-me que se poderá manter a coerência arbitral nos jogos contra os grandes que se seguem: golo nos primeiros quarenta e cinco minutos, eficácia defensiva e desnorte quase patético da equipa com mais um jogador na etapa complementar. Paulo Sérgio deveria ter visto o vídeo do Porto-Benfica da Taça; e só por este deslize merece o despedimento (como se o resto não fosse mais do que suficiente).
*É claro que eu bem gostaria de gostar de ver o Sporting no fundo do poço. A maioria dos sportinguistas que eu conheço mereceria este desprezo; é a maioria que se diverte mais com as escassas derrotas do Benfica (é verdade, empates não temos há quase um ano) do que com as parcas vitórias do Sporting. Mas não gosto, não consigo. O desvario total que tomou conta do clube de Alvalade não me traz felicidade, nem conforto (bom, talvez algum gozo culpado). Arribem depressa, que isto a dois tem menos piada.