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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Da luz com amor

Bruno Sena Martins, 21.04.11

JOSÉ SENA GOULÃO

Publicado na Liga Aleixo

 

Chegou o dia de ser sincero: depois da derrota no Dragão por não estava à espera de voltar a pôr os olhos no Jamor este ano. A minha estratégia nos dias anteriores à contenda saldou-se pela cobardia do “eles que fiquem com a fruteira”, “não estou interessado em disputar taças na catedral do fascismo”, “o Jorge Jesus é uma boa pessoa”. Enfim, tentei enganar-me com todos os artifícios e mentiras que me permitissem confrontar com a dificuldade de virar uma desvantagem de dois golos. Sejamos claros, a única forma de o Porto se classificar passava por marcar 3 golos na Luz com o Roberto no banco.

 

Valeu-nos a exorbitante confiança de uma equipa que tem em João Moutinho o seu capitão moral. A certa altura, a cada recuperação de bola eu dava por mim a entornar a cerveja estupefacto com a capacidade do pequenitates para se interpor no curso normal dos passes falhados pelo Jardel. Digamos apenas que o sofá do Aleixo ficou pejado de Sagres. Mas valeu-nos também a crise de identidade de Jorge Jesus. Jorge Jesus não consegue alimentar a raiva dos jogadores dele contra o Porto por uma razão: ele não consegue ter raiva ao Porto. Convenhamos que não é fácil ter raiva a um clube que — no maior acto de sabotagem da história do futebol — ofereceu 4 milhões de euros pelos seus serviços. No fundo, é como uma mulher manter-se fiel ao seu marido rezingão depois de receber um telefonema do Jude Law para beber um martini na Riviera. Pinto da Costa minou o Benfica pelo “amor em euros” que mostrou a Jorge Jesus (se não estou em erro 4 milhões seria a maior transferência de um treinador da história do futebol). Depois disso bem podia o Rui Gomes da Silva — o hooligan de segunda à noite — debitar ódio semanal, bem podia o Filipe Vieira incensar a vingança do Benfica contra o Benquerença, contra o Guimarães e contra as galáxias pode descobrir. Jorge Jesus não pode tomar parte desse ódio na mesma medida em que nós, narcisicamente, não conseguimos dizer mal de alguém que nos elogia a nosso spaghetti alla carbonara feito com arroz basmati.

 

Mas além do dilema afectivo que Pinto da Costa semeou no empedernido coração de Jesus, há um dilema mais prosaico, um dilema táctico. Jorge Jesus montou a equipa para massacrar com um futebol de "ataque diabólico". Acontece que por questões que se prendem com a resistência do corpo humano ou com a eventual gestão de um resultado favorável, há alturas em que o melhor é abrandar ritmos, gerir energias e, vamos dizê-lo, jogar à defesa. Ora, o plantel do Benfica deve ser o único do mundo que só tem um meio campista de qualidade que sabe defender, chama-se Javi Garcia (pelas razões óbvias não falarei do Airton). Querem uma amostra de meio-campistas que permitem atacar e gerir um resultado: João Moutinho, Belhushi, Fernando, Guarin, Souza. A isto, meus senhores, chama-se um plantel.

 

Portanto, ao contrário do que vai fazendo doutrina, Jorge Jesus não perdeu o jogo por ter jogado à defesa, coisa que não sabe nem se preparou para fazer. Jorge Jesus perdeu o jogo porque, à falta dos argentinos das extremas, abdicou de atacar, isto é, porque abdicou de jogar — facto que fica comprovado pela presença de Aimar no banco ao longo de pacientes 70 minutos. Desde as vitórias nos jogos sem fronteiras em San Marino que não me lembro de ganhar tanto no mesmo sítio. O Estádio da Luz é a prova de que devemos voltar sempre aos lugares onde fomos felizes.

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