Lello diz que Cavaco é foleiro. Nogueira Leite diz que Lello é um cibernabo. Lello diz que Nogueira Leite quer abifar uns tachos. Deve ser disto que falam quando falam de crispação. E esta crispação compreende-se. São os foguetes que animam uma festa morna. Enquanto a União Europeia e o FMI escrevem o verdadeiro programa eleitoral do PS e do PSD, aquele que ambos se preparam para aceitar sem um sinal de resistência, há que continuar a fingir que há um confronto político.
A ver se nos entendemos: dá imenso jeito, por exigir menos informação e menos reflexão, acreditar que a nossa situação se resume a uma questão de carácter dos intervenientes políticos. É confortável pensar que estamos como estamos porque o Presidente da República é "foleiro", o primeiro-ministro é "aldrabão", o líder do PSD é "um banana" e todos eles estão rodeados de gente que quer "abifar uns tachos". Esta narrativa permite não discutir política, não discutir economia, não discutir Europa. Permite que os atores políticos não apresentem alternativas entre si e que os cidadãos não se dêem ao trabalho de pensar nelas. Tudo se resume a qualidades pessoais.
Nada tenho contra a crispação política. Pelo contrário. Nos tempos que correm, com a injustiça evidente na distribuição de sacrifícios, com o egoísmo a corroer a Europa por dentro, com o assalto das instituições financeiras aos cofres públicos, com a suspensão de várias democracias europeias, fazia falta um sobressalto cívico. Mais crispação e menos anemia democrática. Mas a crispação que falta é política. Querem insultar-se? Insultem-se. Mas com conteúdo, se fazem favor.
Publicado no Expresso Online
Podemos discordar ou não, mas é tão reconfortante ler cada uma destas crónicas e perceber que ainda há lucidez. Obrigado. Muito obrigado.
A gentinha da rua vulgo tipificada nos taxistas acha piada a isto tudo e apenas se pergunta porque razão sendo o FMI o autor do próximo programa governativo porque é que não deixam cá vinte ou trinta técnicos para substituírem os nossos políticos.
É como a saborosa anedota das centrais telefónicas que vinham da Alemanha equipadas com um pastor alemão. Tendo um técnico português perguntado a necessidade do mesmo foi-lhe respondido que era para evitar que ele entrasse na mesma.
Concordo com as duas.
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