O programa do PS agora apresentado é um mau truque de ilusionismo. O editorial do Público de ontem chama-lhe «um programa igual a um carro usado» e nota como as medidas avulsas, genéricas e requentadas ali apresentadas são «um sintoma de esgotamento típico de um fim de ciclo». Parece-me uma caracterização acertada. Aspecto importante: desaparecem grande parte das medidas contidas no PEC IV, que Sócrates tão arrebatadoramente defendeu e cujo chumbo considerou uma manobra lesa-pátria das oposições unidas. Sobretudo medidas que o eleitorado tradicional de esquerda poderia ver com maus olhos, como o congelamento de salários na função pública, os cortes nas pensões e o aumento do IVA. Não é a primeira vez que em momentos eleitorais vemos o PS tentar passar a imagem de que é diferente do que tem sido no poder.
Mas desta vez a coisa corre o risco de parecer ainda mais anacrónica. É que um dos elementos mais curiosos do programa é a inexistência de referências ao FMI, que verdadeiramente irá fazer o programa do futuro governo. José Sócrates e Pedro Passos Coelho, com a bênção de Cavaco e da banca portuguesa, governarão com o programa de austeridade desenhado pela troika. E governarão muito provavelmente coligados, caso as sondagens estejam certas e a preferência do parceiro de aliança se mantenha inalterada. Estamos, pois, diante de uma jogada de ilusionismo de baixo calibre. Quando a 16 de Maio for apresentado o pacote FMI e os líderes do PS e PSD forem obrigados a entender-se com base nessa plataforma, a audiência terá diante dos olhos aquilo que já é evidente para todos: o truque desvendado. Sócrates de mão dada com Passos Coelho ao mesmo tempo que procura sacar com a outra mão a rosa escondida na manga do casaco. Convencerá alguém?
* Texto inicialmente publicado no Blogue de Esquerda, da revista Sábado, onde estarei nestes dias a participar na "Semana do Blogger Convidado". Deixo um agradecimento especial à Marta Rebelo pelo convite e uma sugestão para que passem por lá.
Este poema representa as ilusões que nós temos em relação à União Europeia, que são como bonitas bolas de sabão:
SOAP BALLS
Bonita bola de sabão
eu fiz e ela foi pró ar
ai como vai a Nação
vai linda, vai estoirar!
-
i had a balloon
thate goes in air
as the Nation soon
in this sad affair
-
ela parecia o Mundo
e nessa sua rotação
um estoiro profundo
já levou outra ilusão
-
the world it seems
and turns all over
are Nation dreams
that we can't cover
-
com carro de linhas
fiz uma nova bola
fui fazendo bolinhas
lindas, que consola
-
and with an old car
i blow and the ball
didn't go so far
i do them so small
-
e desfez-se a ilusão
qu'eu tinha na ideia
saiu a pobre Nação
da União Europeia!
-
ilusion went gone
as the idea before
and till i have none
it comes no more
-
bolinhas de sabão
eu fiz com carrinho
e lindas eram então
foram devagarinho
-
and the soap ball
that i do with car
they banged all
near of me, not far
-
Eugénio dos Santos
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