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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Eu vi a Luz

Sérgio Lavos, 07.07.11

 

Um dos fenómenos extraordinários - dir-se-ia, do Entrocamento - que o corte no rating de Portugal pela Moody's produziu foi a conversão em massa dos antigos adoradores do mercado e do seu funcionamento (tirando algumas aldeias de irredutíveis fundamentalistas do liberalismo). Do artigo indignado de Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, à opinião irada de José Gomes Ferreira, passando por meia blogosfera de direita, o milagre aconteceu: afinal, a culpa não é dos anos de despesismo promovidos por Sócrates; os mauzões das agências de notação estão a dar cabo disto, movidos por obscuros interesses que visam proteger o dólar. Não, a sério? É mesmo assim? Mas é que, valha-nos o deus do capital, é isso que alguma esquerda anda a dizer há mais de um ano; é isso que economistas respeitados como Paul Krugman ou Nouriel Roubini repetem desde essa altura; é isso que os Ladrões de Bicicletas, laboriosamente, reiteradamente, escrevem há muito tempo; é isso que tanto o Daniel Oliveira como o João Rodrigues têm afirmado neste blogue. Será toda esta gente visionária, verdadeiros profetas da modernidade? Ou serão, muito simplesmente, realistas? A questão parece lateral, mas é na realidade muito importante. O discurso do austeritarismo, da excepção portuguesa, do medinacarreirismo de trazer por casa, martelado até à náusea nos meios de comunicação tradicionais, é o que tem permitido que as medidas de austeridade, socialmente injustas e sobretudo erradas, do ponto de vista da economia, sejam aceites passivamente (e até com um certo complexo de culpa) pelos portugueses. Até que. Até que o mainstream opinativo, com um novo Governo ultraliberal em vigência, muda a agulha e se apercebe de que a solução do problema do défice passa muito pouco pelo que é feito cá. E que as dificuldades de financiamento no exterior são consequência da especulação financeira promovida, em grande medida, pelas agências de notação. Mas agora já é tarde; as medidas estão a ser aplicadas, a classe média empobrece, os pobres ficam de mãos a abanar e a economia portuguesa entra em recessão. Como - peço desculpa, mas isto tem de ser repetido até à exaustão - os economistas de esquerdam vinham alertando desde que se iniciou o ataque especulativo aos países periféricos da UE. 

 

O milagre da conversão não passa de uma grande demonstração de cinismo; como José Gomes Ferreira diz, é obrigação dos jornalistas denunciarem as jogadas das agências de notação, dado que os políticos não o podem fazer. Mas onde estavam estes jornalistas há um ano, quando já eram evidentes os métodos das agências? E mais: poderemos ter a certeza de que não demorará muito até que os políticos europeus comecem a reclamar mais energicamente destas agências. No fim de contas, quando chegar a vez da Espanha, o fim da moeda única será inevitável. E aí é ver toda a gente a correr de um lado para o outro, como se ninguém estivesse à espera. Será tarde demais, como agora já parece ser.

3 comentários

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    Antonio Cunha 08.07.2011

    ó ché ché 


    Assim a falares tão altivo até pareces um pavão todo inchado !!!


    Porque é que tu e os teus amigos do 5Dias não falam do buraco financeiro que existe em Almada e no Seixal. Duas Câmaras geridas por comunistas e que estão falidas ?????
  • Sem imagem de perfil

    Tomás Guevara 08.07.2011

    Talvez o motivo de tão larvar indignação resulte do desmascarar da forma infame como autarquias geridas por companheiros de partido do cunha gastam os seus dinheiros em coisas como estas agências de rating

    Os amigos de outrora
    Há algo de surreal em tudo isto.

    O capitalismo é de facto uma sociedade venial

    ...e podre
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